
Há um ano e meio, Beatriz Reto voou para Londres com um bilhete de ida, sem agência, e sem grandes expectativas. Uns dias depois, estava na Fashion Week de Londres e com convites para castings em Paris.
Seguiram-se as semanas da moda da capital francesa e de Milão, o festival de Cannes e o de Veneza, com passagem pela icónica e exclusiva Gala amfAR.
Mas quem é esta jovem portuguesa que, aos 23 anos, é modelo internacional, stylist, diretora criativa e dona de uma produtora?
Beatriz Reto nasceu em 2001, em Lisboa. Aos quatro anos, começou a focar-se na equitação, desporto que a tornou atleta de alta competição.
© Instagram/Beatriz Reto
"Fiz uns trabalhos como modelo fotográfica, com 14 ou 15 anos, mas o meu foco era no desporto. Até que, há quatro anos, perdi o meu pai e a equitação deixou de fazer sentido", explica Beatriz, que optou depois por estudar Gestão de Recursos Humanos, ao Lifestyle ao Minuto.
A mãe foi modelo e é stylist. Há cerca de um ano e meio, um amigo de família convidou Beatriz para uma sessão fotográfica e foi aí que o sonho nasceu.
"Gostei imenso, disseram-me que tinha jeito e decidi que ia investir a 100 por cento na moda."
A voz de Beatriz transparece um foco e uma maturidade incomuns para a sua idade. Foi com a mãe que "aprendeu tudo" sobre a indústria da moda, mas é sozinha que tem trilhado o seu caminho.
"Estive numa agência mas, apesar de haver vantagens, há também muitas desvantagens. Senti que não tinham a mesma ambição de me ver crescer e ser bem sucedida como eu tinha. E pensei 'para fazer o trabalho que eles fazem, eu posso fazer'."
© Instagram/Beatriz Reto
Foi assim que decidiu comprar um bilhete de ida para Londres, ficar a dormir no campus da universidade onde o irmão estuda, e tentar a sua sorte.
"O pior que podia acontecer era comprar um bilhete de volta para Lisboa passados uns dias."
Enviava cerca de 100 emails por dia. Descobriu como encontrar fotógrafos, designers, e ser chamada para castings. Fez a Fashion Week da capital inglesa e muito 'networking'.
"Em vez de comprar um bilhete de regresso para Portugal, comprei uma viagem para Paris", conta-nos, explicando que acabou a desfilar para quase 20 designers na 'cidade das luzes'.
Entre castings, provas, sessões, desfiles e criação de contactos, a modelo dormia em média quatro horas por noite.
"Um dos pontos altos foi ter sido convidada para assistir ao desfile da Balmain e, depois, para o exclusivo jantar privado dos 80 anos da marca, na Opéra de Paris", ao lado da maquilhadora Rita Oliveira e do fotógrafo Henrique Massano, outros dois jovens portugueses que conheceu em trabalho e de quem é hoje amiga.
Seguiu-se a semana da moda de Milão, os festivais de cinema de Cannes e de Veneza, numa vertente mais de produtora, o Dubai, e a Gala amfAR, onde era a única portuguesa presente.
Analisando a indústria, Beatriz destaca o lado competitivo, onde a rejeição é inevitável, mas também a "quantidade de pessoas criativas e ambiciosas que tem conhecido".
Antes ainda da modelo ter nascido, nos anos 1990, o mundo da moda era associada a comportamentos de risco, quer fosse pelas obsessões com a magreza ou pelo consumo de drogas, mas será que atualmente é diferente?
"Na altura da minha mãe era muito pior. Hoje em dia, com as redes sociais, também há muito mais consciência. Mas, não vamos romantizar. Ainda há fotógrafos que, efetivamente, só querem ver as mulheres nuas, por exemplo. Felizmente, só tive uma experiência assim."
"Em relação a drogas, acho que há em todo o lado, se calhar já não é tão comum, como antigamente. E sobre as medidas, é um requisito, não dá para fugir. Mas é possível fazê-lo de uma forma saudável, atenção. Através de alimentação e treino, não é preciso passar fome. Eu já ouvi agentes a dizer às modelos 'fecha a boca' e isso, para mim, é impensável", continua.
© Instagram/Beatriz Reto
Os padrões também parecem ter mudado: "Principalmente em capitais como Londres. Londres já procura uma beleza muito mais fora da caixa, inconvencional. Já procura pessoas que tenham cicatrizes, que tenham o cabelo rapado, que tenham espaços nos dentes, 'plus size', mais baixos, mais altos. Em Paris e Milão, honestamente, não. Está exatamente igual."
A modelo portuguesa tem 1,80 metros, a altura ideal para modelo de 'passerelle'. Mas nem todas as modelos se focam nessa vertente. Há modelos comerciais, fitness, de anúncios de televisão, de biquíni... Aliás, "desfilar é o que dá menos dinheiro", o que leva a que essas modelos acabem por fazer outros trabalhos também.
A pensar na monetização, Beatriz Reto juntou-se à fotógrafa Sara Berenguer e ao videógrafo Rodrigo Doroteia com quem fundou a produtora The Crew.
A modelo, que sonha vir a trabalhar um dia com Ian Griffiths, diretor criativo da Max Mara, planeia agora regressar a Cannes, tendo já alguns "designers muito grandes interessados" em vesti-la, e furar o mercado do Dubai em outubro, destino onde conta ficar dois a três meses.
© Instagram/Beatriz Reto
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