
Regina Guerreiro, mãe de Nuno Guerreiro, era o rosto da dor no velório e funeral do cantor de 52 anos. Ela e a imã do artista, Paula Guerreiro. “Foi Deus que quis assim”, repetia dona Regina, como é carinhosamente tratada. “Era bom demais para estar aqui”, continuava. Amparada pela família e amigos, recebeu o carinho das centenas de pessoas que se quiseram despedir da voz do grupo Ala dos Namorados, nas cerimónias fúnebres que decorreram em Loulé, nos dias 22 e 23 de abril, na Igreja de São Francisco, no Algarve.
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“Ele era um cuidadoso na sua saúde, com ginásio, a alimentação, com a sua voz”
João Gil fez questão de prestar a sua homenagem e cantou duas músicas da Ala dos Namorados junto ao caixão de Nuno Guerreiro. Um momento de pura poesia para quem assistiu e que fez com que todos os presentes na igreja o acompanhassem na letra. Incluindo a mãe e a irmã, que fizeram soar as suas palmas por largos segundos, no final da homenagem. No dia do funeral, juntou-se um mar de gente à porta da igreja para o último adeus a Nuno Guerreiro.
Depois da missa, que foi transmitida através de um ecrã gigante, e onde atuou a Banda Filarmónica de Loulé, o caixão saiu em ombros. Olavo Bilac foi uma das pessoas que carregou o corpo do cantor. “Ninguém estava à espera. Estávamos mesmo a falar nisso, que ele era um cuidadoso na sua saúde, com ginásio, a alimentação, com a sua voz. Sempre foi uma prioridade na vida dele”, conta o cantor, em exclusivo, à TV 7 Dias. Recorde-se que o artista, Nuno Guerreiro, Tozé Santos e Vítor Silva tinham o projeto Zeca Sempre, um tributo a José Afonso. “O espetáculo é muito à volta de nós os quatro, agora sem o Nuno. Esta envolvência das vozes é que faziam o rendilhado do Zeca Sempre. A animação que ele fazia, ele enchia o palco, na estrada, nas carrinhas. Vinha sempre nas suas graçolas, vai fazer muita falta”, assegura, deixando umas palavras sobre a mãe do artista. “É uma companheira. Além de ser mãe é uma grande amiga. O Nuno fez tudo com ela, leva-a aos espetáculos, conhecia os amigos e participou na vida do filho como muitas mães não conseguem.”
Tozé Santos, que ficou conhecido através do grupo Perfume, ainda está a tentar absorver esta perda. “Ainda não conseguimos entender. Do que percebemos foi uma infeção generalizada, o que nos leva a crer que, por mais cuidadosos que sejamos, como o Nuno que estava sempre com o chá dele, a ter cuidado com o ar condicionado, as coisas quando têm de acontecer, têm de acontecer. Custa imenso estar a aceitar este desfecho”, desabafa. Sentimento partilhado por Vítor Silva. “Não podíamos faltar. Para além de tocar connosco, ele era um grande amigo.”
Revelado por que caixão não foi aberto no funeral
Nuno Guerreiro morreu no dia 17 e foi autopsiado apenas na segunda-feira, dia 21 de abril, e foi por isso mesmo, que as cerimónias fúnebres se realizaram apenas no dia 22, segundo nos revela uma fonte da agência funerária Sublime, responsável por tudo. “Foi autopsiado na segunda-feira, o médico tem de passar o certificado e já não conseguimos levantar o corpo devido à hora de entrega dos corpos na casa mortuária. Fomos buscar na terça-feira”, começa por nos contar, em exclusivo. Em momento algum o caixão foi aberto, e não por haver qualquer perigo de contaminação como chegou a ser especulado. “Foi por opção da família, já tinham feito as despedidas e já se sabe que nestas alturas, um velório de uma figura pública, se a urna for aberta é uma confusão ainda maior. Foi por opção da família. A informação que me foi dada é que não havia perigo de nada”, partilha.
Para o levantamento do corpo estavam a Dr. Clara Capucho, a médica que o assistiu e enviou de urgência para o Hospital São Francisco Xavier e alguns amigos. “A família veio para baixo [N.R.: Algarve] no sábado e já cá estavam quando o carro chegou à igreja”, afirma a mesma fonte da agência. Quem tratou de todas as burocracias foi a própria família e a sua organização envolveu várias pessoas, quatro, na terça-feira à noite e seis, no dia seguinte. “Ainda não consigo dizer o valor certo, mas com tudo, deve ficar à volta dos 2800 a 3000 euros, inclui ir buscar o corpo, fazer a cremação, o velório, funeral, as taxas da igreja…”
O corpo de Nuno Guerreiro foi cremado e as cinzas entregues à família. “Ainda não sabem bem o fim que vão dar às cinzas, a mãe está na dúvida entre levar para casa ou colocar numa gaveta no cemitério. Ela não estava em condições de decidir. Não há timings para o fazer. Com calma, vai decidir”, assegura a mesma fonte.
Mãe de Claudisabel lança críticas
Mas o velório de Nuno Guerreiro acabou por estar envolvido em polémica. A mãe de Claudisabel, Raquel Madeira, deixou alguns desabafos nas redes sociais a criticar o facto de Nuno Guerreiro ter sido velado na Igreja de São Francisco com o andor de Nossa Senhora da Piedade presente. “Pela primeira vez, o andor da nossa padroeira, que anualmente, visita a cidade de Loulé, misturado com um morto? Ah pois, entendido. Não há mais igreja nenhuma… ou as pessoas não são todas iguais perante Deus (fantochada)”, lê-se. E continuou: “Será que durante os 15 dias em que o andor permanece na cidade, os mortos todos vão ficar na mesma igreja em que está o andor da padroeira?”, questionou, culpando o presidente da Câmara, Vítor Aleixo, por tal situação, e salientando que o seu desabafo nada tem a ver com Nuno Guerreiro. A mesma fonte da agência funerária explica. “Os velórios são sempre ali. O da noite normalmente é sempre nas capelas da igreja, só que elas são muito pequenas, cabe lá muito pouca gente. Foi decidido pôr na igreja, pelo tamanho. Em relação ao funeral, é normal ser ali naquela igreja, todos os funerais que acontecerem, mesmo enquanto lá estiver a Nossa Senhora, vão ser feitos naquela igreja. É a única igreja em Loulé que se faz funerais. Eu compreendo a dor dela, mas não está a ser racional. Todo o ano, sem exceções, os funerais são feitos nesta igreja. A única particularidade que está diferente agora é que está lá a Nossa Senhora da Piedade, a padroeira de Loulé, porque é a altura da Páscoa, ela passa sempre 15 dias nesta igreja”, explica, acrescentando: “Infelizmente coincidiu com o funeral de Nuno Guerreiro. Quinze dias depois é a procissão grande e ela volta ao Santuário. Todos os funerais que houver em Loulé vêm para esta igreja, com a Nossa Senhora cá. O Funeral da Cláudisabel foi nesta igreja também, mas, por opção da mãe, da família ou da agência colocaram o corpo na igreja às 09h e a missa foi às 10H30. Não houve velório, não estava lá a Nossa Senhora e a diferença está aí”, afirma.
Helena Viegas, madrinha de Nuno Guerreiro, foi uma das pessoas que esteve sempre ao lado de dona Regina. “É um filho de família, sempre a defender a família e muito querido. Ninguém estava à espera. Tinha falado com ele poucos dias antes. Ele estava bem e de repente surge isto. Sabe-se que foi uma bactéria, que culminou numa septicemia. De onde surgiu a bactéria não sei. Queixou-se de uma indisposição e mais nada”, conta, também ela com o rosto marcado pela dor. “A mãe está de rastos, ele era o braço direito e o esquerdo da mãe. Eles viviam juntos. Andava sempre com ela por todo o lado. Agora terá de ser a família a dar-lhe a mão. O Nuno estava a trabalhar na Câmara de Loulé, tinha imensos projetos, a nível do cinema, da banda filarmónica, do rancho. Ele abraçava a parte da cultura, não era bem funcionário. Tinha dado dois concertos, tinha esgotado e estava maravilhado”, partilha a madrinha do cantor.
Também Liliana Almeida fez questão de estar presente no dia da despedida. “É uma perda grande para a música, para os portugueses, para mim. Nem consigo ter muitas palavras para descrever o que sinto, porque eu e o Nuno temos uma história longa de muitos anos, de muita partilha, de muito amor e vê-lo partir não está a ser fácil. Mas creio que ele estará sempre vivo, nas canções e no meu coração. É isso que vou levar do Nuno, essa alegria, vontade de viver, gostar da vida”, recorda, sublinhado que eram os dois do Algarve. “Tínhamos combinado estar juntos cá, porque também me mudei para cá. Tínhamos orgulho de sabermos que representavamos a arte no Algarve também”, enfatiza a cantora, recordado que Nuno Guerreiro dizia estar bem de saúde. “Não estava nada à espera. Até porque tínhamos falado, perto do falecimento da Sara [N.R.: Sara Tavares morreu em novembro de 2023]. Ele ligou-me a dizer ‘mana, eu estou a cuidar bué de mim, estou no ginásio, com uma vida bué calminha’. Nada me indicava que podia acontecer. Não quero perceber, as coisas são como têm de ser, acontecem como têm que acontecer. Vamos aceitando. Acho que é um processo, não é um momento e eu estou a fazer esse caminho”, termina.
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Texto: Ana Lúcia Sousa (ana.lucia.sousa@worldimpalanet.com); Fotos: Arquivo Impala