O ator Adérito Lopes, da companhia de teatro "A Barraca", denunciou o ódio crescente em Portugal depois de ter sido agredido por um grupo de extrema-direita, na passada terça-feira à porta do teatro Cinearte, em Lisboa. Fê-lo num texto de opinião publicado no Expresso, escrito em conjunto com o ex-ministro da Educação socialista, João Costa.

"Querem-nos com medo. Mas nós não temos. Não vamos viver no recato amedrontado que nos querem impor", lê-se no artigo, onde ambos denunciam o avanço da violência e do discurso de ódio na sociedade portuguesa.

Esta quinta-feira, o ator informou, num comunicado enviado às redações, que tinha sido alvo de um "cruel e brutal ato de violência", sem qualquer provocação da sua parte. Adérito Lopes dava conta que não iria falar mais sobre o caso publicamente para não interferir com a investigação, nem servir como um "trampolim publicitário" para o agressor.

Mais tarde, num artigo de opinião assinado a quatro mãos com João Costa no Expresso, o ator adota um tom mais combativo. No texto intitulado "Não viveremos no medo que nos querem impor", afirmam que o teatro e a arte são alvos frequentes de movimentos autoritários porque "a palavra tem mais força do que a brutalidade do soco" e defendem que a cultura é uma ferramenta essencial para pensar, questionar e resistir.

"A cultura assusta quem não quer a democracia", escrevem.

A agressão ao ator, que representava Camões no espetáculo "Amor é fogo que arde sem se ver", aconteceu no Dia de Portugal. Segundo a Polícia de Segurança Pública (PSP), Adérito Lopes foi atacado ao sair do carro por um jovem de 20 anos, que foi depois intercetado e identificado pelas autoridades. O caso já foi encaminhado para o Ministério Público, que confirma a abertura de um inquérito.

O dia 10 de junho ficou marcado por outros episódios de intolerância, relatam os autores. O texto de opinião recorda o insulto dirigido a David Munir, líder da comunidade islâmica em Portugal, e ataques a figurascomo a escritora Lídia Jorge. Adérito Lopes e João Costa denunciam o crescimento da extrema-direita e a influência no discurso público e nas redes sociais.

"Foi o dia em que o líder do Chega se mostrou indignado porque a primeira figura do Estado afirmou a dignidade de todos os cidadãos. Foi o dia em que, nas redes sociais, várias figuras do mesmo partido e os seus seguidores celebraram não o dia de Portugal, mas sim o dia "da raça", pondo a nu a sua profunda ignorância e o seu saudosismo salazarista", declararam.

Mais à frente no texto, voltam a apontar o dedo ao partido de André Ventura.

"Cada deputado do Chega, cada novo partido de extrema-direita é um contributo ativo para a degradação civilizacional que testemunhamos."

O texto termina com um apelo à mobilização da sociedade. "Todos somos convocados à luta pela sã celebração da diversidade como bem maior. É urgente agir. É urgente a coragem. É urgente não ter medo."