
A exposição 'Venham Mais Cinco - O Olhar Estrangeiro sobre a Revolução Portuguesa (1974--1975)', com curadoria de Sérgio Tréfaut e consultoria histórica de Luísa Tiago de Oliveira, é inédita em Portugal reunindo imagens de fotógrafos e fotojornalistas de França, Alemanha, Brasil, Itália, Países Baixos e da então Checoslováquia, publicadas em jornais e revistas de todo o mundo.
Sebastião Salgado, que morreu hoje em Paris aos 81 anos, é um dos fotógrafos representados na mostra.
Nos dias 24, 25 e 31 de maio estão previstas visitas comentadas por alguns dos autores das imagens, nomeadamente Jean-Claude Francolon, Fausto Giaccone, Michel Puech, Jean-Paul Paireault e Alain Mingam.
'Venham Mais Cinco' é o título da canção de José Afonso, primeira escolha dos militares do MFA para senha do início do golpe militar, mas depois substituída por 'Grândola, vila morena', do álbum anterior do músico ('Cantigas do Maio'), que acabou por ser tocada no Ra´dio Renascença, na madrugada de 25 de Abril de 1974.
A exposição está dividida em quatro núcleos temáticos: 'A Festa da Liberdade', 'Novas Formas de Poder', 'Independências' e 'Um País Dividido'.
Concebida inicialmente para o vigésimo aniversário da Revolução (1994), só agora abre as portas, após o cinquentenário das primeiras eleições livres, e é organizada em homenagem a Margarida Medeiros, investigadora nas áreas da fotografia e dos estudos visuais, que esteve na origem do projeto e o defendeu durante três décadas.
Em declarações à agência Lusa, Sergio Tréfaut explicou que a ideia desta exposição nasceu em 1993, a partir de um livro que existia de 1979 com imagens de fotógrafos e fotojornalistas estrangeiros.
"É uma exposição extremamente emotiva, que, para as pessoas que viveram aquele período, deixa o coração a saltar, mas mesmo para outras, que tiveram ou que têm saudade desse entusiasmo e desse ímpeto de transformação da sociedade, ela é de uma força enorme", disse.
O curador da exposição adianta que a mostra permite uma viagem a um Portugal que foi o centro do mundo, num determinado momento da história.
"Foi o único momento da história em que Portugal teve os maiores fotógrafos do mundo a tirarem fotografia todos os dias, e a exposição reúne um trabalho desses fotógrafos, que fotografaram Portugal com um olhar curioso", disse.
Sergio defende que, nessa viagem proporcionada pela exposição, é possível a quem não teve contacto com a revolução descobrir um país "com surpresas atrás de surpresas".
"Há uma diferença entre eu tirar uma fotografia - e eu não sei tirar uma fotografia -, e um 'monstro' [génio] tirar uma fotografia, e nós temos aqui génios atrás de génios", frisou o curador sobre os fotógrafos reunidos na mostra.
Jean-Claude Francolon, um dos fotógrafos representados na exposição, disse em declarações à agência Lusa que, em contraponto com a atualidade, aquela foi uma época sem extremismos, e destacou a importância de uma Europa coesa para entender os problemas atuais e futuros, nomeadamente no que diz respeito aos jovens.
O fotojornalista francês da agência Gama chegou a Portugal às primeiras horas da revolução. Na madrugada do 25 de Abril tentou a todo o custo entrar no país através de Espanha e, ao chegar a Lisboa, os cravos eram já o símbolo que lhe permitiu perceber quem era quem, ou de que lado estavam.
Jean-Paul Paireault, um outro fotojornalista francês, disse também em declarações à Lusa que a Europa e Portugal, com o crescimento da extrema-direita, vivem hoje o inverso do aconteceu em 1975.
"Hoje em dia há um perigo porque somos uma Europa supostamente unida e vivemos um sentimento nacionalista profundo e perigoso, ainda por cima apoiado, não por ações, mas por eleições. São as votações que levam a esta situação que nos deve levar a ficar desconfiados. Parece ser a falência da Europa e isso é gravíssimo, estamos a voltar para o nacionalismo o que é muito triste para as gerações vindouras", afirmou.
Com entrada gratuita, a exposição desenvolvida com o apoio do Ministério da Cultura, da Comissão Comemorativa 50 Anos 25 de Abril, da Câmara Municipal de Almada e da Sociedade Arco Ribeirinho Sul (que cedeu o espaço), pode ser visitada de quinta a domingo, das 11:00 às 19:00, até 24 de agosto.