A responsável falava numa audição da Assembleia Municipal de Lisboa (AML), no âmbito da elaboração do relatório "Cidade Menos Visitada", que visa criar um contributo para encontrar soluções que descentralizem a afluência de visitantes dos museus e monumentos da capital alvo de maior pressão turística.

"Um dos meus objetivos é usar o tempo em que o museu vai ficar encerrado devido às obras do PRR [Plano de Recuperação e Resiliência] para perceber que roteiro podemos desenhar e implementar em redor deste equipamento cultural", disse Rosário Salema de Carvalho, que tomou posse da direção em fevereiro último, selecionada num concurso internacional.

O MNAz, localizado na freguesia de Penha de França, na proximidade da Avenida Infante D. Henrique e do rio Tejo, recebeu 250 mil visitantes em 2024, revelou a diretora, na sequência de questões sobre a afluência levantadas pelos deputados municipais Simonetta Luz Afonso e Pedro Domingues.

"Estes roteiros podem fazer uma diferença em levar turistas que já conhecem o museu do azulejo para a descoberta de palácios, igrejas e outras instituições com exemplos importantes da azulejaria de fachada", sustentou Rosário Salema de Carvalho.

Instalado no antigo Mosteiro da Madre de Deus, fundado em 1509 pela rainha D. Leonor, o MNAz, um dos mais importantes museus nacionais, pela sua coleção de azulejaria, foi o mais visitado na capital em 2023, com 276.209 entradas, seguido pelo Museu Nacional dos Coches, com 226.634, segundo os dados estatísticos oficiais mais recentes.

A diretora indicou que o MNAz tem vindo a aumentar progressivamente o número de visitantes, que atualmente são 95% de estrangeiros, e onde "os portugueses têm uma presença residual, embora tenha estado a aumentar com a introdução do novo regime de gratuitidade de museus e monumentos 52 dias por ano", no ano passado.

Em 2008 foram contabilizadas 77.500 entradas, passando para quase 150 mil em 2016, depois 214 mil em 2018, e 250 mil em 2024, indicou a responsável sobre a evolução das entradas de um dos museus nacionais mais visitados do país.

"Somos uma equipa muito pequena para aquilo que fazemos, e estamos muito sobrecarregados. Uma abertura do museu ao exterior implica um trabalho acrescido que nem sempre conseguimos ter a possibilidade de fazer", lamentou Rosário Salema de Carvalho, justificando a ideia de aproveitar o encerramento para avançar com os roteiros.

Está previsto o lançamento do concurso internacional para a primeira empreitada de obras no MNAz no âmbito do PRR na primeira quinzena de março, indicou em fevereiro fonte do Ministério da Cultura (MC) à Lusa.

As obras de fundo vão incidir, nesta primeira fase, na requalificação da fachada e das coberturas, e na fase seguinte na recuperação estrutural do museu cujo encerramento parcial temporário ainda está a ser avaliado, segundo a tutela.

A responsável apontou como outros problemas para uma descentralização a própria localização do museu, "numa zona quase deserta de equipamentos culturais", a falta de transportes e sinalética adequada em Lisboa, embora existam "muito boas relações com entidades parceiras, nomeadamente as escolas".

"O azulejo é uma peça fundamental naquilo que nos pode distinguir em termos patrimoniais e culturais face a outros países, mas o museu tem tido pouca atenção por parte dos sucessivos governos", disse Rosário Salema de Carvalho na audição.

A coleção do MNAz abrange a produção azulejar desde a segunda metade do século XV até à atualidade, reunindo, além do azulejo, peças de cerâmica, porcelana e faiança dos séculos XIX a XX.

A diretora considera que este património "é a maior vantagem" do país, expondo obras muito características da herança cultural portuguesa: "Nós não inventámos o azulejo, mas ao longo de cinco séculos fomos usando esta arte de outra forma", apontou.

"Esta ideia não tem sido explorada como deveria pelas entidades que o poderiam fazer, e isso é particularmente visível nos problemas com que nos debatemos permanentemente. Apesar da falta de investimento constante, temos este sucesso improvável conseguido graças a um esforço continuado de todas as direções do museu que me antecederam, e das equipas que ali trabalham", declarou, sobre a atividade de exposições temporárias no museu e no estrangeiro, "uma frente de divulgação vencedora".

Martim Freitas, presidente da 2.ª Comissão Permanente -- Economia e Inovação e Turismo da AML que está a promover audições de vários responsáveis de equipamentos culturais da capital para a elaboração do relatório, disse esperar que o documento seja um "contributo para o executivo perceber como os turistas que vêm a Lisboa, pelo menos na segunda visita, poderão procurar outros espaços culturais, para aliviar a pressão nos equipamentos sobrelotados, como o Mosteiro dos Jerónimos".

No âmbito da criação do relatório já foi ouvido o presidente da Museus e Monumentos de Portugal, Alexandre Pais, e está prevista a audição da direção do Museu do Fado na sexta-feira.