
O fotógrafo açoriano Luís Godinho voltou a ser distinguido pela Federação Europeia de Fotógrafos (FEP), no passado mês de abril, ao conquistar a Câmara de Prata na categoria de Reportagem / Fotojornalismo nos FEP Awards 2025.
A distinção foi entregue no dia 26 de abril, numa cerimónia realizada em Copenhaga, na Dinamarca, onde foi também homenageado pela APPImagem – Associação Portuguesa dos Profissionais da Imagem.
Este é o sétimo ano consecutivo que Luís Godinho, que nasceu em Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, fica no pódio. Durante este tempo já ganhou uma 'câmara de bronze', quatro de prata e duas de ouro.
As três imagens premiadas este ano (que pode ver na galeria acima) refletem o que a lente e o coração do fotógrafo viu nas suas viagens pelo continente africano.
Em entrevista ao Notícias ao Minuto, Luís Godinho falou da história de cada uma das fotografias premiadas, assim como do seu "propósito" de vida.
Sinto um enorme orgulho, mas também motivação para continuar a contar histórias
No passado mês de abril ganhou a Câmara de Prata na categoria de Reportagem / Fotojornalismo nos FEP Awards 2025, promovidos pela Federação Europeia de Fotógrafos (FEP). É o sétimo ano consecutivo que está no pódio desta competição. O que sente perante tantas conquitas? Há alguma pressão associada a estes prémios?
Penso que mostra alguma consistência no meu trabalho e sinto um enorme orgulho, mas também motivação para continuar a contar histórias. Concorrer é importante e ficar bem classificado também, mas não são os prémios que me movem. As coisas acabam por acontecer com naturalidade, são um bom veículo para conseguirmos mais trabalho mas, a cima de tudo, poder contar as histórias que conto, quase todas sobre direitos humanos, deixa-me feliz e a sentir-me que continuo no caminho certo.
Que vantagens traz prémios como este?
Faz com que o telefone toque mais vezes [risos]. O nosso nome e o trabalho são falados, aparece nos média, é normal que isso faça com que possamos ter mais trabalho de alguma forma. Uma coisa muito importante é também a partilha que acaba por existir, principalmente, quando vamos às galas. Conhecemos muitos colegas de outras aréas da fotografia e de outros países, penso ser um bom networking. A nível pessoal as coisas tem fluído bem e sinto-me feliz e grato por todos os reconhecimentos alcançados, mas focado que o caminho é longo.
Como escolheste as fotografias a competição?
Tentei escolher algumas fotografias que tivessem uma boa narrativa, mas também que fossem importantes. Não faço o meu trabalho a pensar nos prémios, mas quando sai um concurso e quero concorrer, olho para o que tenho e tento perceber o que poderá impactar mais o grupo de júris. Tinha muitas histórias e às vezes é difícil, muitas vezes podemos ter guardadas fotografias vencedoras, mas não sabemos. Às vezes é intuição ou até ligação emocional. Neste caso, foi um pouco dos dois.
A terceira e última fotografia selecionada é muito especial para mim. É de um menino, que já o ando a seguir e a ajudar há algum tempo
Fala-nos um pouco das fotos que te deram o prémio, das suas histórias, das pessoas…
Neste concurso em específico podemos ir buscar fotografias de outros anos, desde que não tenho isso premiadas. Das três selecionadas a primeira foi tirada no Senegal, aquando de uma missão humanitária que por lá fui fotografar, em 2016. É uma menina que estava no meio das tribos, sozinha a passear ou a brincar, mesmo por baixo de um embondeiro gigante, onde as sombras dos ramos projetados no chão parecem ser as raízes do mesmo. A particularidade desta fotografia é que eu já tinha fotografado esta mesma menina, cuja imagem me fez ganhar a câmera de ouro, em 2023, com uma fotografia do rosto dela. Esta menina tem um significado forte, pois ela foi a primeira criança que nasceu no hospital construído pela fundação AMI, o mesmo que, na altura da fotografia, os voluntários estavam a recuperar.
A segunda fotografia é sobre um miúdo que já conheço há algum tempo de São Tomé e Príncipe. Todas as vezes que vou lá em trabalho encontro-o sempre. O sistema de ensino lá é um pouco diferente do nosso. As crianças só têm aulas de manhã ou à tarde, dependendo das classes, o que faz com que tenham mais tempo livre para brincarem e para ajudarem os pais, principalmente. Neste caso o Alito e uns amigos fazem carvão vegetal, nos tempos livres, para levarem para suas casa para as mães cozinharem, mas também para venderem.
A terceira e última fotografia selecionada é muito especial para mim. É de um menino, que já o ando a seguir e a ajudar há algum tempo. Chama-se Edmilson, em casa, e Osmar, na escola, e é um menino albino. Infelizmente, os albinos em muitos países africanos são perseguidos, massacrados e até mortos, pois ter um pedaço de um é um amuleto da sorte. Em São Tomé e Príncipe isso ainda não acontece, felizmente, mas pelas condições do Edmilson decidi ajudá-lo. Para além de pagar a escola dele, dar-lhe material escolar e roupas, também o consegui ajudar noutras coisas e é aqui que entra o poder da fotografia. Através das centenas de fotografias que tiro e das publicações que faço, junto de pessoas conhecidas consegui juntar algum dinheiro e comprar uma cama para ele, porque dormia no chão com o irmão, e dar-lhe a possibilidade de ter algumas consultas.
Na fotografia em questão estava com ele a brincar e a tirar-lhe fotografias e ele subiu a um cacaueiro, mas estava cheio de formigas, então ele tirou a roupa e começou a limpar-se porque tinha muitas cócegas e eu fotografei-o nessa altura.
O que mais gostas de fotografar e porquê?
Sem dúvida pessoas e as histórias delas. Talvez por ter sido criado numa família gigante - a minha avó materna, com quem passei a minha infância, teve 16 filhos e nós somos hoje 20 e tal primos. Além disso, as minhas primeiras grandes viagens foram para países muito diferentes culturalmente como a Índia, que acabei por visitar inúmeras vezes, e que me fez querer fotografar histórias de pessoas. Acima de tudo, perceber como pensam e porquê, sabendo que somos todos iguais, nascidos e criados em locais e de formas diferentes, mas que isso de nada importa. Sinto que, ao fazer este tipo de trabalho, estou a cumprir o meu propósito, estou a dar voz a quem não a tem e a tentar, através da fotografia, inspirar pessoas a serem melhores pessoas.
Qual a próxima viagem programada e o que pretendes fotografar?
Tenho muitas coisas pensadas e escritas, mas neste momento a minha maior viagem é o rebento [filho] que tenho em casa. Mas se não aparecer nada antes será para São Tomé e Príncipe novamente. Até lá, tenho algumas reportagens para fazer nos Açores, novamente sobre temas que não se falam muito mas precisam ser falados.