
“Lamento profundamente a decisão dos Estados Unidos de impor tarifas sobre as exportações automóveis europeias”.
Foi nestes termos que Ursula von der Leyen reagiu à decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, esta quarta-feira, em impor uma tarifa de 25% sobre todos os automóveis importados, calculando gerar com a medida receitas fiscais de 100 mil milhões de dólares (93 mil milhões de euros).
A presidente da Comissão Europeia disse ainda, num breve comunicado de imprensa, que “as tarifas são impostos – maus para as empresas, piores para os consumidores, tanto nos EUA como na União Europeia”.
Bruxelas vai avaliar anúncio de Trump
Ursula Von der Leyen garante que irá, agora, avaliar o anúncio de Trump, “juntamente com outras medidas que os EUA estão a prever para os próximos dias”. E garante que “a UE continuará a procurar soluções negociadas, salvaguardando ao mesmo tempo os seus interesses económicos”.
A mesma responsável deixou também claro que, “como uma grande potência comercial e uma comunidade forte de 27 Estados-membros, protegeremos conjuntamente os nossos trabalhadores, empresas e consumidores em toda a União Europeia”.
Ursula von der Leyen terminou a sua declaração sublinhando que a indústria automóvel é um “impulsionador da inovação, competitividade e empregos de alta qualidade”, através de cadeias de abastecimento “profundamente integradas em ambos os lados do Atlântico”.
Sector temia o agravamento de tarifas por parte dos EUA
Há já algum tempo que o sector temia o anúncio oficial daquela medida por parte de Donald Trump, embora ninguém adivinhasse o que estava para vir em termos de montante do agravamento tarifário, que não é mais do que um imposto aduaneiro sobre os bens importados.
Trump, sem qualquer espécie de explicações adicionais quanto aos porquês da medida agora tomada, disse apenas que as novas tarifas sobre automóveis importados entrarão em vigor já na próxima semana, a 2 de abril.
Recorde-se que o sector automóvel europeu já se debate com vários constrangimentos, nomeadamente quanto às vendas de carros elétricos que, perante a chegada de várias marcas chinesas ao mercado – a preços mais competitivos -, não conseguiu concorrer a este nível.
Há fábricas a fechar as portas na Europa
Mas, para além disso, as grandes construtoras europeias enfrentam também agora a necessidade de terem de encerrar algumas fábricas, deixando no desemprego dezenas de milhares de pessoas.
A própria gigante Volkswagen, que é a segunda maior construtora mundial, tenciona fechar fábricas em território alemão, algo nunca sucedido em 87 anos de história. Com esta medida, está em causa, segundo alguns observadores, o próprio orgulho alemão, para além do abalo que este pilar industrial pode ter na economia daquele país.
Recorde-se que no início deste mês de março a Comissão Europeia anunciou um pacote de €1,8 mil milhões em apoios ao sector automóvel, no âmbito de um plano de ação desenhado para o efeito.
Bruxelas promete ajuda, mas o sector diz que não chega
Perante essa disponibilidade demonstrada por Bruxelas os representantes da indústria automóvel europeia reconheceram que se nota uma “viragem pragmática” por parte da Comissão, no meio da turbulência que se vive no mercado global, mas advertem que ainda há muito para fazer, para não deixar cair o sector.
E há mesmo alguns responsáveis de topo da indústria que garantem que a Europa não tem parado de perder competitividade nos últimos anos, face ao seus concorrentes, neste domínio – nomeadamente face às construtoras chinesas - por causa do excesso de regulamentação e de burocracia que recai sobre o sector.
É preciso um “choque de produtividade”
Um gestor do Grupo Renault disse recentemente, em Lisboa, que a indústria precisamos urgentemente de “um choque de produtividade” e, noutra dimensão, de “um choque de procura”.
Ora, se Bruxelas retaliar nos agravamentos tarifários sobre as importações dos EUA, como já fez sobre os carros elétricos importados da China, segundo vários analistas do sector, no final da linha será sempre o consumidor a pagar, o que, mais cedo ou mais tarde se irá traduzir em mais inflação sobre a economia em geral.