Portugal brilha no turismo, mas os apoios financeiros não chegam, por si só, para transformar a ambição em sucesso. É preciso haver estratégia, diferenciação e coragem para pensar além da ocupação sazonal e dos clichés de sempre. Tudo isso faz a diferença.

Os números não enganam: o turismo em Portugal continua a ser um dos motores da economia nacional, com crescimentos consistentes em número de hóspedes, dormidas e receitas. No entanto, por detrás deste desempenho robusto e visível, há um potencial de transformação ainda por explorar, que exige mais do que boas intenções e paisagens fotogénicas.

A questão não está apenas em aceder aos apoios públicos disponíveis – está em saber o que fazer com eles. A maioria dos fundos para o setor turístico, sejam os provenientes do Portugal 2030 ou das linhas como a LAQO, não se destinam a replicar modelos esgotados ou a reforçar a banalidade. São desenhados para premiar a visão, a sustentabilidade e o impacto no terreno. Ainda assim, muitos projetos falham neste teste porque confundem inovação com decoração minimalista ou dinamização local com criação de postos de trabalho temporários e sazonais.

A elegibilidade de um projeto turístico não se decide na véspera da candidatura. Começa quando se pensa o conceito: para quem é este espaço? Que experiência quer oferecer? O que o torna diferente face ao que já existe num raio de 30 quilómetros? Que relação estabelece com o património, com os recursos endógenos e com a comunidade local? Estas perguntas, que nem sempre têm respostas fáceis, devem vir antes do Excel, do layout e dos orçamentos.

Investir no turismo, hoje, é investir numa ideia de país. Num país que quer atrair, mas também inspirar. Que quer ser competitivo, mas também consciente. É por isso que, mais do que linhas de financiamento, o que precisamos é de projetos com alma e com coerência entre conceito, espaço e exploração, com ambição estratégica e solidez económica. Projetos que, mais do que atrair visitantes, deixem legado.

E não se trata de idealismo. Trata-se de rigor. Os apoios ao turismo estão cada vez mais exigentes – e bem. Exigem estruturas de financiamento claras, planos de negócios realistas, estudos de mercado sólidos, análises de sensibilidade e estratégias de execução monitorizadas ao detalhe. Exigem, acima de tudo, o compromisso com resultados tangíveis e com valor acrescentado, não apenas para os promotores, mas para os territórios, para as comunidades e para o país.

Felizmente, há um novo perfil de investidor turístico a emergir em Portugal: mais informado, mais exigente e mais colaborativo. São empresários que percebem que o turismo do futuro se constrói com conhecimento, não apenas com vocação. Sabem que não podem fazer este caminho sozinhos e que reconhecem a importância de trabalhar com equipas multidisciplinares – especialistas em planeamento estratégico, viabilidade económico-financeira e sustentabilidade. E percebem que a chave não está apenas em construir, mas em integrar, em dialogar e em regenerar.

Este novo investidor olha para o propósito do projeto com o mesmo cuidado com que analisa o retorno do investimento. Porque sabe que um bom projeto turístico é, também, uma plataforma de desenvolvimento regional, de valorização do património e de criação de experiências memoráveis. E percebe que, no turismo, como na vida, o valor não está só no que se vê – está no que se sente.

Há muito a fazer. Mas o mais difícil – reconhecer que o turismo não pode viver só de beleza e de espontaneidade – já começou a acontecer. Cabe-nos, agora, elevar a fasquia. Porque o futuro do turismo em Portugal não será feito apenas de ocupação e de rentabilidade. Será feito de diferenciação, de coragem e de visão. E isso, sim, exige mais do que apoio. Exige liderança. E exige propósito.

Bernardo Maciel,
CEO da Yunit Consulting