
O primeiro-ministro cabo-verdiano, Ulisses Correia e Silva, classificou o TechParkCV – Parque Tecnológico de Cabo Verde – como “um espaço que coloca Cabo Verde em conexão com o mundo”.
O governante que falava, Segunda-feira, 05, durante a cerimónia que marcou a abertura formal do polo da infra-estrutura na capital do país, Praia, acrescentou que o TechPark coloca igualmente em ambiente de trabalho empresas de referência, start-ups, empreendedores, tanto os “já mais maduros no mercado”, quanto aqueles que estão a começar.
De acordo com Ulisses Correia e Silva, o Governo que lidera considera também o Parque como um espaço essencialmente de mudança de atitude para que, principalmente os jovens acreditem que é possível.
“Vocês [os jovens] têm que criar aqui um espírito de confiança e de acreditar. Quando muitos acham que é impossível e querem procurar a vida lá fora na imigração, têm aqui um exemplo de que é possível. Se quiserem, podem fazer tudo o que pretendem executar lá fora aqui dentro”, apelou.
O parque Tecnológico de Cabo Verde é um empreendimento inovador, enquadrado numa estratégia nacional de Economia Digital, ancorada numa visão ambiciosa de transformar Cabo Verde em uma nação digital, inclusiva, conectada e global, através da transformação digital, com o propósito de se atingir dois objectivos. O primeiro, apontou o chefe do Governo, é posicionar o país como um hub regional digital em África e, a partir da sua localização, produzir e exportar serviços de qualidade, ao mesmo tempo que se criam empregos de qualidade para os jovens, assim como atrair competências e talentos da diáspora cabo-verdiana.
“Sempre que se fala de Cabo Verde temos que falar de Cabo Verde Global. A nossa diáspora amplifica a capacidade de recrutarmos e termos disponíveis competências em todas as áreas, desde o desporto, cultura, saúde, medicina, academia, empreendedorismo, à política. Temos muitos cabo-verdianos ou descendentes de cabo-verdianos bem colocados no mundo da política lá fora, amplificamos o nosso território através da nação global que engloba a nossa diáspora”, enfatizou.
Já o segundo objectivo, prosseguiu, passa por modernizar e melhorar a eficiência da produtividade do Estado, da prestação dos seus serviços ao cidadão e às empresas em todos domínios, “dentro da burocracia que pode ser vencida e vai ser vencida com a desmaterialização e maior interoperabilidade das operações” nas áreas da saúde, da educação, dos transportes, da segurança, da justiça, do comércio externo e do ambiente de negócios em geral.
“Inauguramos o Parque Tecnológico. Já visitei alguns parques tecnológicos pelo mundo, alguns espaços de coworking e este aqui não fica atrás de nenhum daqueles que tive a oportunidade de visitar”, garantiu o primeiro-ministro de Cabo Verde.
Na ocasião, Ulisses Correia chamou a atenção para o papel do Estado, que considerou ser uma entidade importante em qualquer problema. “Precisamos de ter um Estado facilitador e o digital pode e ajuda a descomplicar. Ajuda a eliminar pequenos poderes burocráticos, que se alimentam da burocracia, e ajuda a democratizar o acesso a serviços de qualidade”, disse, justificando serem essas as razões da “aposta forte” do Governo no digital.
O executivo de Cabo Verde está a executar a Estratégia Nacional da Economia Digital, primando por investir na educação, na qualificação profissional e no fomento do empreendedorismo digital, apostando em infra-estruturas, na atratividade empresarial para a dinamização da Economia Digital exportadora e investindo na transformação digital.
E o primeiro-ministro não esconde a ambição: “Queremos construir uma base sólida que sustenta a nação digital, alicerçada na educação, na reconversão digital do sistema educativo, quer nas dimensões curriculares, quer nas dimensões que tem a ver com métodos e tecnologias de ensino e aprendizagem, bem como competências na língua inglesa”.
Atenta a importância da língua inglesa, a reforma curricular do ensino de base operada pelo Governo passou o início do ensino e aprendizagem do inglês do 7º ano para o 5º, porque entende que começar mais cedo, evoluir até ao 12º ano, pode fazer com que o ecossistema da língua inglesa seja de facto fluente, algo tido como “importante”, uma vez que, afirmou o primeiro-ministro, em Cabo Verde, “por razões que todos conhecemos”, o inglês é a língua da tecnologia, das conexões e da conectividade global.
“A educação é um elemento transformador. Quando temos uma base alargada de crianças e jovens com formação, quebramos o ciclo vicioso da pobreza que se transmite de pais para filhos, mas ao mesmo tempo aumentamos o leque e a dimensão de podermos ver despontar talentos”, sublinhou.
“Instrumento de soberania digital”

Por sua vez, Carlos Miguel Monteiro, CEO do TechParkCV, posicionou a infra-estrutura como “um instrumento nacional de soberania digital”, de capacitação, de fixação de jovens, de quadros e de visibilidade de Cabo verde nas cadeias globais de valores baseadas em conhecimento.
“Num contexto global em permanente disrupção, esta resposta é urgente. Esta infra-estrutura não é apenas um parque tecnológico. Com esta inauguração oficial, Cabo Verde afirma-se com coragem e ambição no caminho da transformação digital, da inovação e da valorização do conhecimento como motor do desenvolvimento”, salientou Carlos Monteiro.
O TechParkCV é a concretização de uma visão, de uma estratégia, de um Cabo Verde que mesmo com limitações geográficas e recursos escassos aposta fortemente em factores imateriais, tais como o talento, a criatividade, a ciência e a tecnologia. “O país está a dizer com clareza que queremos competir com os melhores, queremos atrair investimentos, criar emprego qualificado, queremos diversificar a nossa economia com base no digital”, referiu o gestor.
A infra-estrutura colhe e acolherá empresas tecnológicas, centros de investigação, espaços de formação, laboratórios e projectos inovadores com impacto directo na economia real de Cabo Verde. Espera-se pois que venha a ser um espaço vivo que promova ligações entre a ciência e o mercado, entre a juventude e o futuro, entre o sector público e o sector privado.
“Estamos [com o Parque] a abrir portas para a nova economia, para uma nova geração de empreendedores e para um novo posicionamento de Cabo Verde no mundo”, fez questão destacar o homem a quem foi confiado o projecto, que está inserido numa estratégia mais ampla liderada pelo Governo, a da criação de uma zona especial das tecnologias com regras e incentivos próprios para fazer do país um hub tecnológico, um destino competitivo para serviços digitais.
“Isto é apenas o começo. Com base nesta confiança, reafirmamos o compromisso deste conselho de administração que lidero, fazer do TechPark um activo nacional estratégico ao serviço do desenvolvimento económico e social do país”, comprometeu-se Monteiro.
Infra-estrutura já ganha vida
Uma aposta do Governo na transformação digital para diversificar a economia como motor de crescimento e sustentabilidade, no parque Tecnológico de Cabo Verde foram estabelecidas bases como a inclusão, inovação, competitividade e resiliência digital.
Os grandes investimento feitos em conectividade internacional, como em por exemplo em cabos submarinos, posicionam o país como uma nova ponte digital entre África, Europa e Américas.
Lançado em 2017 e a funcionar já desde Novembro de 2023, a inauguração formal dos polos da Praia, na Segunda-feira, 05, e do Mindelo – ilha de São Vicente – na Terça-feira, 06, consolidando um ecossistema orientado à inovação, conhecimento e desenvolvimento tecnológico, reforça a ideia de que a infra-estrutura está pronta para alcançar os objectivos a que se propõe.
A verdade é que o TechPark já começou a ganhar vida. Cerca de 400 pessoas encontraram emprego na infra-estrutura, que desde 2024 realizou já 50 eventos. O espaço de coworking tem também já os seus primeiros clientes e 23 empresas residentes de sete nacionalidades diferentes, nomeadamente de Angola, Portugal, Alemanha, Bélgica, Itália, Espanha e Cabo Verde, ocupam 50 escritórios, reunidas num único ecossistema.
O plano de negócios do TechParkCV prevê a instalação de 30 empresas até 2030, com a criação de até 1.000 empregos diretos e 2.000 indirectos. Ao todo, o investimento na construção e apetrechamento da infra-estrutura totalizou cerca de 56,5 milhões de dólares.
Cinco componentes integram o polo da Praia: o primeiro é um Business Center, que acolhe estruturas coma maior exigências operacionais. Oferece escritórios modelares, um auditório com capacidade para 80 lugares e todas as comodidades necessárias para o um ambiente corporativo moderno, flexível, eficiente e preparado para crescer. O segundo é o Training Center. Com foco no desenvolvimento de pessoas, neste sector promove-se a formação e a certificação de recursos humanos, criando uma base sólida de profissionais capacitados para liderar a Economia Digital.
O terceiro elemento que integra o Campus da Praia é o Conference Center, um espaço moderno para eventos e encontros de alto nível, onde o digital se encontra com a cultura, que possui um auditório para 400 pessoas, salas VIP, infra-estrutura ideal para gerar partilha, debate e inovação. O quarto é o Incubation Center, a porta de entrada para quem deseja crescer com inovação. Neste espaço nascem start-ups e ideias transformadoras, com salas multiusos e uma comunidade de apoio pronta para colaborar. Por último, os Data Centers, com tecnologia de ponta.
Além das estruturas já em funcionamento, na Praia existem 14 lotes preparados para receber novas construções. O objectivo é criar condições para o investimento privado e concretizar a estratégia digital de Cabo Verde.
O polo de Mindelo partilha a mesma visão. Com um Data Center, áreas de coworking, escritórios, salas de reuniões, auditórios e cafés, apresenta-se como um ponto estratégico para o desenvolvimento tecnológico em toda a região.