
Os bancos europeus devem manter-se estáveis e resilientes no futuro, apesar do ambiente de incerteza que se vive, o que realça a sua resiliência, defende a S&P. De acordo com a agência de notação, 87% dos bancos apresentam uma perspetiva estável e 9% uma perspetiva positiva. Mais ainda, os ‘ratings’ atribuídos até ao momento, em 2025, têm sido maioritariamente positivos.
A sua liquidez, capitalização e lucro sólido mantém a capacidade de lidar com cenários adversos e mais difíceis do que aqueles que eram previstos no início do ano. Neste sentido, a agência destaca que os resultados dos bancos no primeiro trimestre do ano estiveram em linha com o esperado ou acima, estando as instituições encaminhadas para um “bom ano de lucros, mesmo que abaixo de 2023 e 2024”, considera a S&P, em comunicado.
No que diz respeito aos seus resultados, a banca já viu as suas margens financeiras encolher no arrancar do ano, algo que têm vindo a compensar no lado das comissões e do ‘trading’, mas também com o controlo de despesas, por exemplo. A S&P prevê que o ROE mediano dos bancos europeus em 2025 vai ser de 9,5%, 1 ponto percentual abaixo do que foi registado em 2023 e 2024.
A capitalização dos bancos, por sua vez, não sofreu deterioração com a implementação de Basileia IV no início de 2025. Ainda assim, alguns bancos contam com custos regulatórios que devem afetar o capital das instituições neste ano. Os bancos, no entanto, contam distribuir dividendos graças à capitalização sólida já referida. As valorizações das ações das entidades bancárias não têm, contudo, levado à consideração de recompra de ações nas suas distribuições, atenta a análise.
A turbulência do mercado não afetou a qualidade dos ativos dos bancos europeus nem criou problemas de financiamento ou liquidez. Por outro lado, as empresas não bancárias são mais vulneráveis à flutuação de preços e os seus problemas podem rapidamente chegar aos bancos dada a conectividade entre as instituições. Não houve, contudo, reporte de episódios de stress relevante entre empresas não bancárias. Paralelamente, os bancos apresentaram liquidez suficiente para se manterem afastados do mercado enquanto este apresentava uma maior instabilidade. Entretanto, já retornaram e não reportam uma menor presença no mercado americano.
Fusões continuam a roubar palco
Os bancos europeus entraram, no último ano, numa onda de consolidação. A S&P aponta para as fusões como estando no topo das suas prioridades, face à sua procura de onde injetar o capital em excesso. De acordo com a agência, há três áreas onde as instituições estão interessadas: compra de bancos rivais domésticos (caso de Itália, onde há várias ofertas em curso), expansão para novos mercados (como no caso do Grupo BPCE ao comprar o Novo Banco) ou então alargamento do negócio (como a aquisição da Anima Holdings pelos Banco BPM).
Os negócios de consolidação, contudo, estão a deparar-se com um grande obstáculo: os governos. Em Espanha, o Conselho de Ministros aprovou nesta terça-feira a compra do Banco Sabadell pelo BBVA com condições, tal como o executivo italiano havia feito com a oferta do UniCredit sobre o BPM. Estas condicionantes podem atrasar ou mesmo impedir estas operações de avançar, alerta a S&P. Ainda do lado da regulação, a agência de notação sublinha as exigências de capital que os reguladores estão a impor aos bancos que querem expandir os seus negócios para a área dos seguros. Medida com a qual a S&P concorda.
Ainda na ótica da compra e venda de bancos, o ano está a ser marcado pelo regresso de várias instituições à esfera privada por completo. O NatWest já não tem qualquer participação de capital público, bem como o irlandês AIB e o islandês Islandsbanki. Em Portugal, a venda do Novo Banco deve resultar na venda dos 25% do capital pertencentes ao Estado português.
Há riscos, mas bancos devem continuar a superar testes de stress
A S&P aponta vários riscos no futuro que podem prejudicar a saúde financeira das entidades bancárias. Desde desenvolvimentos geopolíticos negativos e mais protecionismo a uma maior instabilidade no mercado. Também fracas dinâmicas de dívida pública e fiscal e resiliência insuficiente na área da cibersegurança são apontadas como fatores a ter em conta.
Apesar destes possíveis problemas, a análise da agência de notação estima que os bancos europeus devam superar o próximo teste de stress da Autoridade Bancária Europeia, que engloba 64 bancos que representam 75% dos ativos do sistema bancário da União Europeia e da Noruega. Este vai ser o quarto teste do ano e deve confirmar a resiliências destas empresas, indica a S&P.