
O primeiro-ministro, Luís Montenegro, considerou que o acordo comercial entre a União Europeia e os Estados Unidos “traz previsibilidade e estabilidade” à economia e “evita a escalada”, mas alertou para as novas exigências que surgem.
Através das redes sociais, o chefe do executivo reagiu ao acordo tarifário entre a União Europeia (UE) e os Estados Unidos, alcançado no domingo, que fixa em 15% as tarifas aduaneiras norte-americanas sobre os produtos europeus.
“O acordo comercial UE-EUA traz previsibilidade e estabilidade, vitais para as empresas portuguesas e a economia”, salientou o primeiro-ministro.
Considerando que este entendimento “evita a escalada”, Luís Montenegro ressalvou que o acordo “põe exigências novas na luta por mais acordos de comércio, no corte de barreiras e na agenda transformadora de simplificação e redução de custos”.
Num comunicado enviado à Lusa, o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) acrescenta que, apesar do acordo, “nada substitui a liberdade de comércio”.
“Por isso, é fundamental que a UE e Portugal não desistam de se bater pela progressiva redução e eliminação de direitos aduaneiros e barreiras equivalentes ao comércio com os EUA, bem como com os restantes parceiros comerciais”, salienta a nota do MNE liderado por Paulo Rangel.
Em face das novas regras, o executivo chefiado por Luís Montenegro (PSD/CDS-PP) promete apoiar as empresas portuguesas: “Dentro deste novo quadro, as empresas portuguesas podem contar com a total cooperação do Governo português para mitigar efeitos negativos e facilitar o acesso a novos mercados”, adianta.
O Governo reafirma ainda a importância de os 27 fomentarem “novos acordos de comércio livre” e de “acelerar a entrada em vigor dos já negociados, designadamente do Mercosul”.
O acordo comercial anunciado no domingo em Turnberry, na Escócia, pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, e pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, fixa em 15% as tarifas aduaneiras norte-americanas sobre os produtos europeus.
Os EUA e os países da UE trocam diariamente cerca de 4,4 mil milhões de euros em bens e serviços.
O acordo prevê também o compromisso da União Europeia (UE) sobre a compra de energia norte-americana no valor de 750 mil milhões de dólares (cerca de 642 mil milhões de euros) – visando nomeadamente substituir o gás russo – e o investimento de 600 mil milhões adicionais (514 mil milhões de euros), além de aumentar as aquisições de material militar.
As duas principais potências comerciais trocam diariamente cerca de 4,4 mil milhões de euros em bens e serviços, e Washington ameaçava impor, já a partir de 01 de agosto, tarifas aduaneiras de 30% sobre todas as importações europeias.
AEP vê com preocupação acordo comercial longe do “desejável”
A Associação Empresarial de Portugal (AEP) vê com preocupação o acordo comercial alcançado entre a UE e os Estados Unidos, que considera estar longe do “desejável” por impor tarifas de 15% sobre produtos europeus no mercado norte-americano.
“A AEP manifesta a sua preocupação perante o novo acordo comercial”, reagiu a associação comercial à Lusa, sobre as implicações do entendimento alcançado no domingo, 27 de julho, entre a União Europeia (UE) e os Estados Unidos da América (EUA).
Para a AEP, embora o resultado não seja o esperado, a existência de um entendimento entre as duas partes vem dar “estabilidade e previsibilidade” aos agentes económicos.
“Importa realçar que a tarifa definida para a União Europeia, embora igual à aplicada ao Japão, é superior à concedida ao Reino Unido. O que reforça a ideia de que este acordo é o possível, mas longe de ser o desejável”, afirma a AEP.
“Este novo paradigma comercial, aliado a outros fatores relevantes, como a apreciação do euro face ao dólar americano, coloca enormes desafios à competitividade das exportações portuguesas de bens neste mercado”, nota a associação empresarial, tendo em consideração que os Estados Unidos absorvem “cerca de 6,7% das exportações portuguesas de bens” e são “o quarto principal cliente de bens e o primeiro não europeu”.
Sobre o impacto dos direitos aduaneiros nas empresas portuguesas, a AEP refere que “tenderão a ser maiores nos setores com maior grau de exposição aos EUA, destacando-se vários setores de elevada especialização produtiva da economia portuguesa, como os bens alimentares, os têxteis e o calçado, bem como os produtos das indústrias química, metalomecânica e de equipamentos, entre muitos outros”.
Além dos impactos diretos que resultam da relação comercial entre Portugal e os Estados Unidos, a AEP vinca que o acordo trará impactos indiretos, porque outros países da UE poderão diminuir as suas compras a Portugal se passarem a exportar menos para o mercado norte-americano.
Para a AEP, “uma vez que esta tarifa se aplica aos restantes 26 países da União Europeia – destino de mais de 70% das exportações portuguesas de bens” -, é “expectável” que os parceiros europeus “importem menos bens de Portugal”, sendo os setores automóvel e têxtil os mais afetados.
Tendo em consideração que haverá um “novo enquadramento comercial” com a maior economia mundial, a AEP reclama “medidas de apoio às empresas, de forma a mitigar os impactos negativos nas exportações nacionais e preservar a competitividade das empresas portuguesas nos mercados internacionais”. No entanto, não especifica quais devem ser tomadas
Outras reações
PM francês lamenta “dia sombrio” em que Europa “se resigna à submissão”: O primeiro-ministro francês, François Bayrou, considerou que hoje é “um dia sombrio” para a Europa, que “se resigna à submissão” ao assinar o acordo comercial, anunciado no domingo, entre a União Europeia e os Estados Unidos.
“É um dia sombrio aquele em que uma aliança de povos livres, reunidos para afirmar os seus valores e defender os seus interesses, se resigna à submissão”, reagiu o chefe do Governo francês na rede social X.
Também os ministros do Comércio Externo e dos Assuntos Europeus franceses, Laurent Saint-Martin e Benjamin Haddad, respetivamente, lamentaram um acordo “desequilibrado”.
“Vamos ter de continuar a trabalhar, nomeadamente na parte dos serviços”, em especial os serviços digitais, afirmou Laurent Saint-Martinem declarações à rádio France Inter, acrescentando que os Estados Unidos têm um excedente comercial em relação à UE, ao contrário do que acontece com os bens.
Para oministro do Comércio Externo,“há uma questão política por detrás disto” e a Europa precisa de mostrar que é uma potência económica.
“Agora vai haver uma negociação técnica”, afirmou, acrescentando: “Podemos aproveitar este momento para nos fortalecermos”, acrescentou.
Além disso, Laurent Saint-Martin afirmou que as isenções setoriais são muito importantes para França, considerando o setor aeronáutico essencial para o equilíbrio da balança comercial do país.
Paralelamente, pediu à Comissão Europeia que prepare “medidas de apoio para os setores mais afetados” pelo aumento das tarifas aduaneiras, que em França se fará sentir particularmente nas exportações de vinhos, queijos e cosméticos.
Laurent Saint-Martin sublinhou também que os 27 Estados-membros têm de avançar no processo de simplificação administrativa e burocrática, bem como numa “diversificação comercial”, para baixar as taxas em países como a Índia, a Indonésia, o Golfo Pérsico ou a América Latina, em que a França é atualmente o principal bloqueio ao acordo UE-Mercosul alcançado em dezembro passado.
Já o ministro da Indústria, Marc Ferracci, mostrou a mesma cautela relativamente aos setores que poderão escapar às novas tarifas aduaneiras.
“Certos setores importantes para a indústria europeia, como a aeronáutica e os espirituosos, deverão ser isentos”, afirmou Ferracci na rádio RTL, acrescentando que ao longo do dia serão divulgados os detalhes do acordo e que dará origem a “uma negociação técnica nas próximas semanas” em Bruxelas.
Embora se reconheça que este acordo traz “estabilidade” para as empresas, os negociadores europeus devem usar “todas as ferramentas à sua disposição”, incluindo o mecanismoque permite, por exemplo, “limitar o acesso das empresas norte-americanas aos concursos públicos europeus”, salientou Ferracci.
OGrupo das Indústrias Francesas Aeronáuticas e Espaciais (GIFAS)saudou, numa declaração enviada à agência France-Presse, uma isenção “positiva para uma indústria equilibrada entre a França e os Estados Unidos”, que permitirá “manter empregos qualificadosem todos os níveis da cadeia de fornecimento”.
Acordo é melhor do que guerra comercial com EUA, salienta comissário Sefcovic: O acordo comercial entre a União Europeia (UE) e os EUA traz estabilidade, referiu hoje, em Bruxelas, o comissário europeu para o Comércio, Maros Sefcovic, salientando estar 100% seguro de que é melhor do que uma guerra comercial.
Feitas as contas, garantiu hoje Sefcovic, “tenho 100% de certeza que este acordo é melhor do que uma guerra comercial com os EUA”.
“Se eu tivesse de resumir este acordo UE-EUA numa frase, diria que traz uma estabilidade renovada e abre a porta à colaboração estratégica”, referiu ainda o comissário, em conferência de imprensa, um dia depois de a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o Presidente dos Estados unidos, Donald Trump, terem fechado na Escócia (Reino Unido) um acordo que prevê a taxa de 15% sobre produtos europeus e o compromisso da UE sobre a compra de energia norte-americana no valor de 750 mil milhões de dólares (643 mil milhões de euros) e o investimento de 600 mil milhões (514 mil milhões de euros) adicionais, além de aumentar as aquisições de material militar.
O acordo, explicou Sefcovic, inclui a proposta de uma “aliança metalúrgica”, para gerir o aço, o alumínio e o cobre, com contingentes pautais e tratamento preferencial e inclui igualmente aquisições estratégicas de chips de energia e de inteligência artificial para reforçar a competitividade tecnológica.
O comissário para o Comércio sublinhou também que o executivo comunitário (que tutela a política comercial europeia) fez tudo para manter os 27 Estados-membros informados a cada passo das negociações.
Primeiro-ministro húngaro diz que Von der Leyen foi derrotada por Trump: O primeiro-ministro húngaro, Viktor Órban, criticou hoje de forma veemente o acordo entre a UniãoEuropeia e os Estados Unidos sobre direitos aduaneiros alcançado no domingo.
Para o chefe do Governo da Hungria o acordo comercial alcançado é pior do que o acordo bilateral que foi obtido, no passado mês de maio, pela Grã-Bretanha.
“Não foi Donald Trump que concluiu um acordo com Ursula von der Leyen, foi antes Donald Trump que ‘comeu Ursula von der Leyen ao pequeno-almoço'”, afirmou o primeiro-ministrohúngaro em declaraçõesdifundidas através das plataformas digitais.
A transmissão de Órban sobre o acordo foi moderada pelo porta-voz do partido no poder na Hungria.
Itália quer conhecer mais detalhes:A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, afirmou que o acordo comercial é sustentável, mas frisou que vai ser necessário analisar os detalhes.
Meloni disse à margem da cimeira das Nações Unidos sobre sistemas alimentares que decorre hoje na Etiópia disse ainda que o agravamento das relações comerciaisentre a Europa e os Estados Unidos teria consequências imprevisíveis e devastadoras.
Mesmo assim, para a chefe do Governo de Roma é preciso estudar os detalhes do acordo, porque, sublinhou,o documento assinado no domingo é um acordo-quadro que juridicamente não é vinculativo.
“Há uma série de elementos que faltam, assim como não sei a que se refere quando se fala de investimentos sobre acompra de gás”, declarou Meloni.
Na Alemanha, a federação que representa os fabricantes de automóveis disse que osdireitos aduaneiros de 15% que podem vir a seraplicados aos automóveis europeus que entram nos Estados Unidos podem “pesar”sobre as empresas alemãs do setor.
Hildegard Mueller, a presidente da federação dos fabricantes de automóveis alemães VDA, afirmou que osdireitos aduaneiros norte-americanos de 15%, que também se aplicam aos produtos automóveis, vão custarmilhares de milhões de euros – todos os anos – às empresas automóveis da Alemanha.
com Lusa