"O distrito não tem sequer uma infraestrutura para funcionar. Não tem", disse Sidónio Lindo aos jornalistas, em Pemba, à margem da IV sessão do Observatório de Desenvolvimento de Cabo Delgado, tendo lamentado a atual situação vivida no distrito.

"Os terroristas deitaram abaixo todas as infraestruturas (...) e isto impacta negativamente no funcionamento da administração pública no distrito. E como consequência estamos a trabalhar na cidade de Pemba há sensivelmente um ano. Mas os esforços estão a ser desenvolvidos na perspetiva de voltarmos a breve trecho, mesmo que seja com base em tendas", apontou.

O objetivo passa por tentar reabilitar algum espaço para progressivamente ter os serviços do Estado a funcionar de novo no distrito: "É esta a aposta que nós temos este ano para ver se conseguimos, pelo menos, reabilitar uma infraestrutura, para voltarmos a ter o distrito sob controlo. Sobretudo, para a retoma da máquina administrativa".

Sidónio Lindo garante que até já contactou o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) para tentar ter contentores no distrito, que permitam instalar alguns serviços do Estado.

Desde outubro de 2017, a província de Cabo Delgado, rica em gás, enfrenta uma rebelião armada com ataques reclamados por movimentos associados ao grupo extremista Estado Islâmico.

O último grande ataque deu-se em 10 e 11 de maio de 2024, à sede distrital de Macomia, com cerca de uma centena de insurgentes a saquearem a vila, provocando vários mortos e fortes combates com as Forças de Defesa e Segurança de Moçambique e militares ruandeses, que apoiam Moçambique no combate aos rebeldes.

Só em 2024, pelo menos 349 pessoas morreram em ataques de grupos extremistas islâmicos no norte de Moçambique, um aumento de 36% face ao ano anterior, segundo estudo divulgado pelo Centro de Estudos Estratégicos de África (ACSS), uma instituição académica do Departamento de Defesa do Governo norte-americano.

Atualmente, explicou o administrador de Quissanga, há apenas duas aldeias totalmente abandonadas, em ambos os casos pela proximidade ao vizinho distrito de Macomia, como é o caso de Namaluco.

"É o local de entrada dos terroristas quando saem do vizinho distrito de Macomia. Então é uma aldeia que não temos nenhum habitante. E depois também temos outra aldeia próxima também a Namaluco, que também não temos lá nenhum habitante por força da movimentação de terroristas exatamente naqueles dois locais. E por ser próximo ao limite entre Macomia e Quissanga", detalhou.

Garantiu que os responsáveis e trabalhadores do Estado têm estado no terreno, mas deslocando-se a Quissanga "em equipas".

"Vamos lá, trabalhamos e voltamos [para Pemba]. Tanto é que as organizações governamentais, nacionais e estrangeiras também estão a operar em toda a dimensão territorial do nosso distrito. O que estamos à espera é da criação de condições, sobretudo na reabilitação de infraestruturas", disse.

A expectativa é avançar com algumas infraestruturas este ano, face à melhoria das condições de segurança.

"Pensamos que este ano, com o mudar da situação, provavelmente poderemos retomar a reconstrução das infraestruturas do Estado", concluiu.

PVJ (RYCE) // JMC

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