
O presidente-executivo da Caixa Geral de Depósitos (CGD) não considera que exista uma bolha imobiliária. Existe, sim, um desfasamento entre a oferta e a procura, que vai demorar “anos a resolver”. Para Paulo Macedo, há um conjunto de fatores sobre os quais importa atuar: “É preciso dar garantias aos proprietários para arrendarem as suas casas. Hoje, ninguém sabe se as suas rendas serão congeladas ou se terão uma rentabilidade de 3% ou 4%. Precisamos de previsibilidade e de definir um indicador de rentabilidade — a Euribor mais dois ou três pontos percentuais?”, referiu nesta quarta-feira na conferência de imprensa de apresentação dos resultados do primeiro semestre.
Outro problema é a reconstituição da fileira dos pequenos empresários da construção civil. “Aqueles que construíam prédios de dois ou três andares vendiam e seguiam para outra empreitada”, refere o CEO do banco público.
Para Paulo Macedo, a procura que está a aumentar o preço das casas é, sobretudo, a procura externa. “Os investidores estrangeiros comparam as casas na Comporta ou no Algarve com os preços praticados na Riviera ou na Sardenha”, afirma aquele responsável, dando um exemplo concreto: “Estava a ler o Financial Times e, na segunda página do jornal, estava um anúncio imobiliário na Quinta do Lago (Algarve).”
Mas nem todos os segmentos estão a crescer. “Vemos imensas lojas em Lisboa, na Baixa, por arrendar. Outro segmento que não está a acompanhar a procura no imobiliário são os armazéns e as instalações industriais”, refere ainda.
Seja como for, Paulo Macedo constata que “temos uma procura muitíssimo maior do que a oferta. Temos de implementar várias medidas para que a oferta aumente — sem isso, o preço das casas não vai baixar”. Acrescenta ainda que “a procura é crescentemente superior à oferta: os imigrantes e os jovens precisam de casas, e existem ainda fatores sociológicos como as separações ou os segundos casamentos, que também dão origem a uma maior procura”.
Dados adiantados pelo mesmo responsável indicam que “atualmente as pessoas têm uma prestação mensal mais baixa no pagamento da casa. Existe um nível de desemprego historicamente baixo, com mais pessoas empregadas. E houve um aumento do rendimento disponível das famílias, que têm agora uma maior capacidade de endividamento”. Paulo Macedo acrescenta que as taxas de esforço no crédito à habitação baixaram de 42% para 34%.
No primeiro semestre, a CGD financiou 17 mil novos empréstimos à habitação, com um valor médio de 250 mil euros.
Nos novos créditos à habitação, cerca de 71% foram realizados com garantia do Estado, ao abrigo do crédito jovem. Em termos de mobilidade dos créditos concedidos, nos primeiros seis meses de 2025 saíram da CGD 372 milhões de euros em crédito à habitação para outros bancos e entraram 449 milhões provenientes de outras instituições financeiras, resultando num saldo líquido positivo de 77 milhões de euros.