
A longa associação do presidente Donald Trump com Jeffrey Epstein está a enfrentar um novo escrutínio desde a passada sexta-feira, depois de um relatório do Wall Street Journal indicar que o atual Presidente norte-americano ter presenteado Epstein com um cartão de aniversário sexualmente sugestivo para o 50º aniversário do criminoso sexual condenado em 2003.
Trump nega tudo, mas os factos revelam que o presidente e Epstein era mais do que meros vizinhos em Palm Beach ou conhecidos: eram mesmo amigos, ao ponto de Epstein ceder várias vezes o seu jato a Donald Trump.
Década de 1980
Trump e Epstein conheceram-se por volta da altura em que Trump comprou Mar-a-Lago em 1985, quando Epstein também vivia em Palm Beach, segundo Trump, que disse à revista New York em 2002 que conhecia Epstein há “15 anos”, chamando-lhe “um tipo fantástico” e acrescentando “diz-se mesmo que ele gosta de mulheres bonitas tanto como eu, e muitas delas são mais jovens”.
1992
Trump e Epstein foram vistos a rir juntos numa festa que Trump deu em Mar-a-Lago, de acordo com as imagens do evento divulgadas pela NBC em 2019.
1993
Trump voou nos jatos privados de Epstein quatro vezes em 1993, de acordo com os registos de voo tornados públicos durante o julgamento da associada de Epstein, Ghislaine Maxwell, informou o The New York Times.
1994
Trump viajou num dos jatos privados de Epstein, de acordo com os registos de voo.
1995
Trump fez outro voo num jato de Epstein, segundo os registos de voo.
1997
Trump fez um sétimo voo num dos jactos de Epstein.
1997
Trump e Epstein foram fotografados perto um do outro numa festa dos “Anjos” da Victoria’s Secret, de acordo com uma imagem da Getty Images, come Trump a posar com a modelo Ingrid Seynhaeve que mostra Epstein em segundo plano.
2000
A vítima de Epstein, Virginia Giuffre, estava a trabalhar no resort de Trump em Mar-a-Lago quando foi recrutada por Maxwell para trabalhar como massagista pessoal de Epstein e foi preparada pelos dois para prestar serviços sexuais a Epstein e ao seu círculo abastado, de acordo com um depoimento que Giuffre deu e que foi tornado público em 2019.
2003
Trump terá oferecido a Epstein o cartão de aniversário que dizia “que todos os dias sejam mais um segredo maravilhoso”, segundo a reportagem da passada quinta-feira do Wall Street Journal, que o presidente nega.
2004
Trump e Epstein desentenderam-se quando Trump fez uma oferta superior à sua por uma mansão em Palm Beach, de acordo com uma reportagem do Washington Post.
“Eu conhecia-o como toda a gente em Palm Beach o conhecia”, disse Trump aos jornalistas na Sala Oval em 2019, quando Epstein foi preso. “Eu não era um fã dele, isso posso dizer-vos.”
O que diz a alegada mensagem de aniversário de Trump para Epstein?
Trump escreveu a Epstein uma carta datilografada que também incluía o desenho de uma mulher nua e fazia referência a um “segredo maravilhoso” entre os dois para o 50º aniversário de Epstein em 2003, de acordo com uma reportagem da última quinta-feira no Wall Street Journal. A ilustração da mulher nua continha os seios e a palavra Donald na zona dos cabelos púbicos
De acordo com o jornal, a antiga assistente de Epstein, Ghislaine Maxwell, que está a cumprir uma pena de 20 anos de prisão por ser cúmplice do magnata, recolheu cartas de Trump e de outros associados de Epstein para as incluir num álbum como presente.
A alegada carta do agora Presidente termina com a frase: “Feliz aniversário. Que cada dia seja mais um segredo maravilhoso”.
O WSJ afirma que, numa entrevista com Trump na terça-feira, este negou ser o autor da missiva e ameaçou processar os meios de comunicação social se estes publicassem o artigo.
Trump processou na sexta-feira o Wall Street Journal, a News Corp, grupo que inclui o jornal, e o seu proprietário, Rupert Murdoch, por divulgar esta carta que o Presidente teria enviado ao falecido Jeffrey Epstein, acusado de tráfico sexual e pederastia.
Na quinta-feira, o candidato republicano ameaçou levar aquela publicação a tribunal e, um dia mais tarde, deu seguimento à advertência, incluindo os dois redatores que escreveram o artigo, noticiaram os meios de comunicação social nacionais.
O Wall Street Journal declarou que vai “defender-se vigorosamente” contra o Presidente norte-americano, que processou o jornal por difamação após a publicação de um artigo que atribui a Donald Trump uma carta dirigida a Jeffrey Epstein.
“Temos total confiança no rigor e exatidão das nossas informações”, afirmou na sexta-feira, em comunicado, um porta-voz do grupo proprietário do Wall Street Journal (WSJ), referindo que vai “defender-se vigorosamente contra qualquer ação judicial”.
A publicação da carta coincide com a altura em que o escândalo Epstein voltou a público nos EUA, depois de o FBI e o Departamento de Justiça (DOJ) terem concluído, numa investigação, que o magnata não tinha uma “lista de clientes” das celebridades que chantageava.
O FBI e o DOJ também confirmaram a morte de Epstein por suicídio, desmentindo assim a teoria da conspiração de que teria sido assassinado para proteger os seus conhecidos, e anteciparam que não iriam divulgar mais nenhuma investigação sobre o caso.
A reportagem surge numa altura em que Trump tem enfrentado reações negativas nas últimas duas semanas, inclusive dos seus apoiantes.Os adeptos do movimento MAGA [“Make America Great Again”, “Engrandecer de Novo a América”, o principal ‘slogan’ de Trump], estão insatisfeitos com as conclusões destes inquéritos, uma vez que Trump, a Procuradora-Geral dos EUA, Pam Bondi, e o Diretor-Adjunto do FBI, Dan Bongino, prometeram revelar “a verdade” sobre o caso antes do início da atual administração dos EUA, em janeiro. O Departamento de Justiça anunciou que não iria divulgar qualquer informação adicional sobre a investigação de Epstein.
A pressão recebida levou o Presidente a autorizar Bondi a divulgar quaisquer ficheiros adicionais “credíveis” sobre o assunto, mas não sem antes criticar os seus apoiantes por, na sua opinião, se terão deixado “enganar” pelos democratas.
Trump ordenou à Procuradora-Geral Pam Bondi que divulgasse os registos “pertinentes” dos depoimentos do grande júri no caso Epstein, entre críticas à forma como o Departamento de Justiça lidou com a investigação sobre Epstein.
O Departamento de Justiça norte-americano solicitou hoje a um tribunal federal a divulgação das transcrições do júri no caso de Jeffrey Epstein, financeiro acusado de tráfico sexual num processo de que os apoiantes do Presidente exigem mais informação.
O vice-procurador-geral Todd Blanche apresentou uma moção instando o tribunal a divulgar as transcrições do grande júri do caso, um dia depois de o Presidente Donald Trump ter instruído o Departamento de Justiça a fazê-lo.
No sistema judicial norte-americano, compete a um grande júri determinar se há motivos suficientes para considerar que um crime foi cometido e que um determinado indivíduo deve ser formalmente acusado (indiciado).
Ao contrário dos jurados de um julgamento, o grande júri não determina a culpa ou inocência de um suspeito.
As transcrições do grande júri —que podem revelar os depoimentos das testemunhas e outras provas apresentadas pelos procuradores —raramente são divulgadas pelos tribunais, a menos que precisem ser reveladas em conexão com um processo judicial.
Mesmo com o apoio do Departamento de Justiça, uma decisão sobre o que pode ser divulgado e como proteger as testemunhas e outras informações confidenciais das vítimas poderá levar semanas ou meses de disputas legais, refere a agência AP.
Suicídio em 2019
Epstein morreu por alegado suicídio em 2019 na sua cela de Manhattan enquanto aguardava julgamento por acusações federais de tráfico sexual de menores para os seus amigos e associados ricos. Trump faz parte de uma longa lista de associados de alto perfil de Epstein, incluindo o bilionário Les Wexner, o príncipe Andrew e o ex-presidente Bill Clinton. Ao longo dos anos, muitos dos aliados MAGA de Trump têm vindo a insistir em conspirações sobre Epstein, incluindo o facto de ele ter sido morto, em vez de ter morrido por suicídio, e de ter mantido uma alegada lista de clientes de alto nível. O Departamento de Justiça afirmou na semana passada que essa lista não existe e reiterou que Epstein morreu por suicídio.
com Lusa e Sara Dorn/Forbes Internacional