A queda da margem financeira afetou os resultados do Banco BPI, que registaram uma diminuição de 16% nos primeiros seis meses do ano. O ‘repricing’ do crédito concedido, com indexantes mais baixos, impactou negativamente as contas do banco, pertencente ao Grupo La Caixa, mesmo com o crescimento dos depósitos em mais 1,5 mil milhões de euros (mais 5% em termos homólogos) e uma subida dos recursos totais em 2,6 mil milhões (mais 6%).

O CEO da instituição, João Pedro Oliveira e Costa, explicou, em conferência de imprensa nesta quinta-feira, o comportamento das diferentes variáveis do balanço do banco: “Não temos uma carteira de títulos robusta para equilibrar a carteira de crédito”, referiu o responsável, destacando o crescimento do crédito em dois mil milhões de euros nos primeiros seis meses de 2025. No entanto, esse aumento foi insuficiente para compensar a queda de 10% na margem financeira. Os rácios de capital estão nos 14% no CET1 e nos 17,4% no total.

O crédito à habitação continua a crescer em todas as carteiras dos bancos. No caso do BPI, a quota na contratação atingiu os 17,4% entre janeiro e maio deste ano. Em termos homólogos, registou-se um crescimento de 54%, fixando-se nos 1,9 mil milhões de euros em crédito concedido para habitação, com 64% a ser realizado a taxa mista e 19% a taxa fixa (dados do segundo trimestre do ano).

No âmbito da Garantia Jovem, o BPI já concedeu crédito no valor de 467 milhões de euros, correspondentes a 2.500 contratos. O CEO adiantou que já foi utilizada 62% da garantia do Estado alocada ao BPI, e que, brevemente, essa percentagem deverá atingir os 90%. João Pedro Oliveira e Costa confirmou que o banco está disposto a pedir um reforço do valor da garantia estatal: “Se o Estado estiver disponível para aumentar esses montantes, vamos pedir. Fiquei surpreendido com o sucesso da medida. É uma boa medida e deve continuar”, acrescentou.

Sobre o inquérito lançado pela Autoridade da Concorrência, relativo à falta de mobilidade na banca de retalho, o CEO do BPI subscreveu a posição de Vítor Bento, presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB), que afirmou tratar-se de um inquérito “com resultados definidos à partida”. João Pedro Oliveira e Costa recordou o percurso feito pelo país e pela banca: “O sistema financeiro português é hoje um exemplo de solidez, rentabilidade e qualidade de serviço na Europa… e não era.” Acrescentou ainda que o país fez “um caminho importante, que foi feito por todos, mas também pela banca”.

Sobre a questão da mobilidade entre clientes bancários, o presidente do BPI afirmou: “Quando existe um preconceito, as pessoas e as organizações perdem credibilidade”, acrescentando: “Não concordo com a ideia de falta de mobilidade dos depósitos. Não sinto dificuldades em atrair clientes de outros bancos para o meu banco; as pessoas é que são fiéis e conservadoras.”

Para o BPI, a questão dos criptoativos não é uma prioridade. “Não sei o que são os criptoativos. Não sei o que está por detrás deles, é uma questão de crença. Sempre me ensinaram a não investir naquilo que não compreendo. Em relação aos criptoativos, não tenho a certeza de que sejam ativos de alguma coisa. Tiro o chapéu a quem mete dinheiro em coisas que não sabe o que são”, afirmou João Pedro Oliveira e Costa.

O CEO do BPI concluiu referindo que a missão confiada pelo acionista — o grupo espanhol La Caixa — “foi crescer e investir organicamente”. E acrescentou: “Penso que, se ficarmos aquém de uma determinada posição no mercado, isso torna-nos menos competitivos. Por isso, temos de crescer mais do que os outros. O mundo está mais exigente, os clientes querem mais qualidade de serviço, e a descida das taxas torna o negócio mais desafiante.”