A Forbes Portugal realizou a terceira edição do Forbes Women Summit, um evento dedicado a celebrar o impacto da liderança feminina. Esta edição teve como tema “O Poder de Acreditar” e juntou nos diferentes painéis empresárias, gestoras, empreendedoras, ativistas sociais e influenciadoras. O painel “O Poder do Segredo, a alma do Negócio” juntou em palco Isabel Jonet, presidente da Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares contra a Fome e fundadora da Entrajuda, Débora Campos, fundadora e CEO da AgroGrIN Tech e vencedora do Prémio Europeu para Mulheres Inovadoras 2025, e Gisela Franco, diretora Cisco Commerce Operations para Europa, África e Médio Oriente. Neste painel o mote foi explorar como os “segredos” se podem tornar num trunfo para liderar com autenticidade e sustentabilidade.

Isabel Jonet

A presidente da Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares contra a Fome e fundadora da Entrajuda começou por dizer que ao longo destas três décadas ao serviço do voluntariado “tive a sorte de poder escolher numa determinada fase da minha vida, aquilo que eu mais gostaria de fazer”. Isabel Jonet, licenciada em economia e com uma passagem pelo setor segurador e por Bruxelas na altura da adesão de Portugal, lembrou que houve um momento, em que, “decidi voltar para casa e ficar com os meus filhos e fui me oferecer ao Banco Alimentar”.

A presidente da Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares contra a Fome sublinhou que desde os 12 anos que faz trabalho de voluntariado, ou seja, “desde os 12 anos que procuro cuidar mais de quem faz parte da minha vida”. Esta atitude é que replica “no Banco Alimentar ao fim destes 33 anos, eu estou há 32 anos no Banco Alimentar e também na Entrajuda. E se calhar é o segredo daquilo que não é um negócio, mas de algo que mudou a sociedade portuguesa”.

Isabel Jonet não tem dúvidas que “o Banco Alimentar mudou a forma como o voluntariado jovem é encarado em Portugal. E hoje uma das coisas que mais me conforta é quando vou conversar com alunos nas escolas primárias, nas universidades e pergunto quantos conhecem o Banco Alimentar e quantos foram voluntários do Banco Alimentar e a resposta é sempre que dois terços da sala já participaram numa campanha do Banco Alimentar e todos conhecem o Banco Alimentar”. A fundadora da Entrajuda realçou que o Banco Alimentar é uma ideia que “é um Ovo de Colombo. Não tem nada de segredo. É educar e ajudar quem não tem meios para criar a família”. Neste momento existem há 21 espaços do Banco Alimentar “que ajudam a alimentar 4% da população portuguesa. Pessoas que não tinham alternativa de vida, muitas vezes ou que não tinham a forma de poder mandar os filhos para as escolas”.

“O facto de podermos mobilizar toda a sociedade seja as pessoas, as empresas, as instituições públicas, naquilo que é uma causa que é maior que nós fez com que eu tivesse uma vida muito mais cheia. E por isso há 20 anos, já em 2004 criei a Entrajuda que hoje é uma instituição muito maior que o Banco Alimentar, mas que não se precisa de revelar. Precisa apenas de fazer o bem, de disseminar o bem. Mobilizar a sociedade na sustentabilidade e lutar contra o desperdício de comida”.

Débora Campos

A empresária é a recente vencedora do Prémio Europeu para Mulheres Inovadoras 2025, mas antes disso destacou-se por ser a fundadora e CEO da AgroGrin Tech, uma empresa que valoriza resíduos de frutas e vegetais e que os transforma em novos ingredientes, que têm como foco a indústria alimentar, nutracêutica e cosmética. Num painel dedicado ao poder do segredo, a empresária assumiu que “a inovação é mesmo a alma do negócio. Isto é, a ciência e a tecnologia que eu desenvolvi durante os meus estudos, mestrado e doutoramento, e tudo o que eu aprendi durante esse período, me fizeram criar o negócio que hoje sou eu. Portanto, sem elas, este negócio de sustentabilidade e com propósito e com uma visão mais alargada, não existiria”.

Débora Campos explicou que hoje “somos uma empresa que transferiu a investigação e o desenvolvimento gerado em Portugal, para um negócio. Porque durante a minha carreira como cientista, percebi que havia falta de transferência de conhecimento das universidades para a indústria”. Na altura acreditou que “havia aqui algo que faltava que era conseguirmos fazer uma resposta para grandes problemas do mercado. Por exemplo, o desperdício. Eu pude, naquilo que desenvolvi, na ciência que foi financiada, tentei criar nisso um negócio”.

A empresária explicou que a empresa que fundou “é uma start-up que produz ingredientes para a indústria alimentar e nutricêutica. Portanto, os nossos ingredientes são farinhas, sem glúten, são aditivos naturais e são também estratos de enzimas e vitaminas”. Estes ingredientes “podem estar no vosso pão, bolos, nas vossas bolachas digestivas, como também pode estar nos vossos suplementos alimentares que tomam pela manhã. E nós fazemos isso através da valorização de frutas e vegetais que são produzidos com agricultores e empresas de processamento. Recolhemos tudo o que são cascas, polpas, resíduos e transformamos em alimento”. Débora Campos lembrou que cerca de 20 a 30% destes resíduos, eles são colocados em aterros e a empresa tem formas de os transformar em valor e mais alimentos para o mercado. Isto porque “até 2050, a população mundial vai crescer e, portanto, os alimentos vão ser cada vez mais escassos e mais caros e essa é a nossa missão e propósito”.

A gestora admitiu ainda que a ideia é “inspirar outras mulheres na ciência a pegarem nos seus trabalhos científicos e que desenvolvem o laboratório e fazê-los na realidade para ter impacto no mercado. E, portanto, o nosso objetivo é que este negócio seja sustentável ambientalmente, mas, como todos os negócios, também tem de ser sustentável economicamente”.

Gisela Franco

No mesmo painel a diretora Cisco Commerce Operations para Europa, África e Médio Oriente, começou por salientar que às vezes, pensamos que uma empresa tecnológica é uma empresa corporativa de origem americana que o que se preocupa é fazer lucro. E com certeza que sim, mas é um lucro com um objetivo maior e um objetivo maior muito associado à responsabilidade social”.

Gisela Franco salientou que “um dos grandes pilares da Cisco é o “Inclusive Future for All”, portanto, assegurar que todos tenham oportunidades iguais usando tecnologia, usando as pessoas e nós levamos isso muito a sério. Levamos isso muito a sério enquanto fazemos o negócio, mas levamos isso muito a sério também nós, enquanto colaboradores da Cisco. E hoje tenho a honra de poder representar os 90 mil colaboradores da Cisco a nível global, que se levantam de manhã para fazer o seu trabalho, mas também se levantam de manhã a pensar nos outros”. E realçou que o fazem, enquanto empresa de uma forma muito concreta. “Cada um de nós enquanto colaborador, tem 10 dias pagos pela empresa para fazer voluntariado. Portanto, além dos 25 dias de férias que temos, temos os 10 dias que a empresa nos oferece para fazermos o que quisermos”.

A gestora referiu que o Banco Alimentar é um dos grandes parceiros que a tecnológica tem, mas há muitos outros eventos onde os colaboradores fazem atividade de voluntariado. “A cultura da Cisco é algo que me orgulho muito enquanto colaboradora que tem esta dimensão de fazer um negócio quebrar o digital divide, assegurar que toda a gente tem acesso à comunicação, assegurar que nos preocupamos com as espécies em vias de extinção. E depois, uma parte muito forte, que nos atrai a todos enquanto colaboradores, que é fazer parte de algo maior todos os dias”.

Sobre o segredo de liderança de cada uma das intervenientes no painel ficou claro que para Isabel Jonet, por vezes “o nosso coração tem de decidir por nós, mesmo que isso signifique um esforço que não percebemos”.

Débora Campos assumiu que “sinto que estou a crescer como líder todos os dias e, portanto, vou aprendendo também com as pessoas que estão comigo diariamente. E, portanto, é uma questão de me adaptar às circunstâncias e realidade. Considero que as características que eu tenho são muita garra, multitasking, é verdade, faço muitas coisas ao mesmo tempo, mas também conseguir liderar e ir às equipas para determinada direção, mas também com a empatia pelas situações que podem acontecer nas vidas deles”.

Já Gisela Franco destacou que “eu sou eu e no meu trabalho, na minha liderança, as pessoas, Gisela, que sou fora da Cisco, são sempre a mesma pessoa. Não sei se isso é um segredo ou não, mas eu não consigo ser de outra maneira. Eu também tento aprender com o que há à volta para não fazer os erros que estão à volta”.