Numa altura em que Bruxelas acaba de impor um agravamento de tarifas aduaneiras sobre a importação de carros elétricos produzidos na China, o problema pode começar a ficar mais perto da solução. Há interesse de fabricantes chineses na compra das fábricas que a Volkswagen quer fechar na Alemanha.
A notícia está a ser avançada pela agência Reuters, que indica também que este interesse de construtores chineses nas fábricas da VW está a ser acompanhado e apoiado pelas “autoridades” daquele país asiático, que ganha cada vez mais peso na indústria automóvel à escala global.
O que se passa é que se os construtores chineses conseguirem produzir carros elétricos em território da União Europeia poderão, segundo a Reuters, evitar o pagamento agravado das tarifas aduaneiras impostas por Bruxelas.
No entanto, isso poderia representar uma ameaça adicional à competitividade dos fabricantes europeus que, segundo o ex-presidente do Grupo Stellantis, Carlos Tavares, em entrevista recente ao Expresso, já é muito baixa face aos concorrentes chineses.
O gestor diz mesmo que se empurrou a indústria automóvel europeia para o que os chineses, neste sector, sabem fazer de melhor [carros elétricos a preços competitivos]. “Obviamente, descobriu-se que isso era um erro”.
Autoridades chineses acompanham processo
Sobre a possível compra por chineses das fábricas que a VW quer encerrar na Alemanha, a agência Reuters refere que “embora as propostas possam vir de empresas privadas, empresas estatais ou joint ventures com entidades estrangeiros, as autoridades chinesas reservam-se o direito de aprovar determinados investimentos no estrangeiro e estarão provavelmente envolvidas em qualquer oferta desde o início do processo”.
Recorde-se que as empresas chinesas têm vindo a investir em vários sectores na maior economia da Europa, desde as telecomunicações à robótica, mas ainda não se estabeleceram na produção de automóveis na Alemanha, apesar da Mercedes-Benz ter dois grandes acionistas chineses.
No entanto, e ainda segundo a agência Reuters, as empresas chinesas “estão preocupadas com a forma como serão recebidas pelos sindicatos alemães, que detêm metade dos lugares nos conselhos consultivos das empresas alemãs e procuram garantias de emprego e de local de trabalho de longo alcance”.
Berlim não desmente interesse chinês nas fábricas da VW
Berlim não desmente o interesse chinês nas fábricas da VW e um analista citado pela Reuters diz mesmo que, para a VW seria mais vantajoso vender fábricas do que encerrá-las.
Note-se que um problema que afeta atualmente a Volkswagen (que tem 115 fábricas a nível global e que pesa 7,8% no PIB alemão) - e todas as restantes construtoras europeias - é a extrema dependência de países terceiros (extra União Europeia), sobretudo da China, no acesso a matérias-primas industriais básicas e a todo o tipo de componentes automóveis e, acima de tudo, baterias e semicondutores.
Esses fatores podem jogar a favor da China se acabar por comprar fábricas na Alemanha, pois tem acesso direto e facilitado a vários fatores de produção de forma mais barata e competitiva.