No debate da moção de confiança ao Governo, na Assembleia da República, Hugo Soares defendeu que "só está nas mãos do PS haver uma comissão parlamentar de inquérito", depois de o secretário-geral socialista, Pedro Nuno Santos, ter pedido ao primeiro-ministro para retirar a sua moção de confiança e aceitar um inquérito à Spinumviva.

"Para haver uma comissão parlamentar de inquérito, basta ao PS abster-se hoje na discussão da moção de confiança. Não há duas hipóteses: só há esta e esta leva a que o primeiro-ministro tenha que responder a todas as perguntas", disse.

Para Hugo Soares, "a verdade é que o PS comporta-se neste tema como o partido Chega mas vestido de casaco de peles".

"Vem como um novo rico Chega, eleva o tom, é mais duro nas críticas, mente em horário nobre e não é capaz sequer de pedir desculpa. Usa as 'fake news', usa tudo aquilo que é mentira para construir uma narrativa que é para, institucionalmente, atirar lama para o senhor primeiro-ministro", acusou.

Hugo Soares defendeu que, se o parlamento hoje chumbar a moção de confiança do Governo, "está a dizer que é pela instabilidade política, pela crise institucional e quer continuar a atirar lama para cima do Governo e, sobretudo, do primeiro-ministro".

"Senhor primeiro-ministro, deixe-me dizer-lhe olhos nos olhos: eles já perceberam que não vencem pelas políticas e, como perceberam que não são capazes, está a valer tudo para derrubar um Governo que o povo lá fora reconhece o que fez pela vida deles", disse.

Depois, Hugo Soares recordou que, no início do debate da moção de confiança, Montenegro disponibilizou-se para suspender a sessão parlamentar caso Pedro Nuno Santos especifique "em concreto" quais são as dúvidas que tem sobre a sua empresa familiar.

"Se ele não o aceitar, é porque só tem um interesse: a instabilidade política, eleições e o interesse partidário", defendeu Hugo Soares, antes de perguntar aos socialistas se "são pela estabilidade e pela transparência ou são pela lama e pelas eleições".

Antes de Hugo Soares, o porta-voz do Livre Rui Tavares salientou que o novo primeiro-ministro do Canadá, Mark Carney, assim que assumiu funções esta segunda-feira, decidiu entregar a uma gestão profissional independente um fundo de investimentos que detinha, no valor de um bilião de dólares.

Em comparação, Rui Tavares salientou que o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pede aos seus eleitores para confiarem nele quando há um conflito de interesses, recusando tomar medidas para preveni-lo.

"Senhor primeiro-ministro, porquê, perante estes dois exemplos, não escolheu, para ser o exemplo, o do novo primeiro-ministro do Canadá? Porque escolheu, para ser o exemplo, aquele que diz 'confiem em mim, eu não faço fretes'?", perguntou.

Rui Tavares defendeu que "cada primeiro-ministro estabelece a bitola para os seus sucessores" e, recordando o caso de António Costa, salientou que o anterior chefe do executivo optou por demitir-se "por ter sobre ele suspeitas, permitindo às instituições do país decidirem da melhor forma como dar sequência a uma crise política".

"Quando o senhor primeiro-ministro, em entrevista ontem [segunda-feira] diz que se manterá como primeiro-ministro e candidato a primeiro-ministro mesmo se for arguido, acaba de rebaixar a bitola para todos os seus sucessores", acusou.

Depois desta intervenção, Hugo Soares dirigiu-se a Rui Tavares para afirmar que "o país sabe todo" que o Livre "está em negociações com o PS", mas disse que "António Costa não se demitiu por ser suspeito num processo".

"O doutor António Costa demitiu-se e o seu Governo caiu porque não tinha condições para continuar a governar depois de terem sido encontrados mais de 75 mil euros de dinheiro em numerário no gabinete do primeiro-ministro", disse.

TA // JPS

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