
A taxa de juro Euribor a 12 meses tem negociado abaixo da Euribor a seis meses e os analistas antecipam que esta tendência se manterá por algum tempo enquanto se continuar a prever a descida das taxas do BCE.
Historicamente, a taxa Euribor a 12 meses é mais alta do que as taxas Euribor a seis meses e a três meses devido a ser mais incerta a previsão económica a prazo mais longos. Contudo, desde final de 2023 que esta curva se inverteu.
Segundo o analista da XTB Henrique Tomé, esta tendência justifica-se dado que, com a inflação controlada e sinais de abrandamento económico, a previsão é de que as taxas diretoras do Banco Central Europeu (BCE) vão continuar a descer.
"Espera-se um ciclo de descida, fazendo com que a Euribor a 12 meses já incorpore taxas mais baixas no futuro. O mercado monetário está a assumir que a taxa de juro a médio prazo vai ser menor", disse.
Contudo, recordou que a incerteza económica e geopolítica é grande, pelo que se os cortes demorarem mais do que esperado ou a inflação acelerar "a curva pode normalizar novamente".
Também para o analista de mercados do Banco BIG Marcelo Silva, o que acontece é que os investidores "estão a extrapolar ou a descontar que, nos próximos 12 meses, pode ser necessária uma redução das taxas de juro diretoras", levando a Euribor a 12 meses a ser mais baixa.
Para isso contribuem vários fatores, explicou, desde logo as políticas económicas do Governo dos Estados Unidos (de Donald Trump) e os impactos no crescimento.
"Esta dinâmica não se alterará enquanto não existir, por um lado, uma definição daquilo que vão ser as políticas económicas de Donald Trump e, por outro, quais os impactos específicos que essas políticas vão ter na economia global e, consequentemente, na economia europeia", referiu Marcelo Silva.
Também o analista da ActivTrades Europe Henrique Valente concordou que a inversão da curva "indica que o mercado espera mais cortes nas taxas de juro ao longo deste ano".
"Trata-se de uma inversão cíclica, que provavelmente voltará ao normal quando as taxas de juro estabilizarem ou se iniciar um novo ciclo de subida", afirmou.
Quanto à evolução das Euribor, os analistas estão cautelosos, estimando que continue a descer gradualmente, mas avisando que há vários fatores que podem facilmente colocar em causa as projeções, caso da guerra comercial iniciada pelos Estados Unidos bem como a situação na Ucrânia.
O presidente da Informação de Mercados Financeiros, Filipe Garcia, diz que o mercado está à espera de "mais dois a três cortes de taxas de referência" (do BCE), o que coloca a projeção para a Euribor a seis meses em 1,795% em 30 de setembro e a 1,725% em 31 de dezembro.
Na passada sexta-feira, 02 de maio, a Euribor a seis meses fixou-se em 2,143%. Já a Euribor a três meses fixou-se em 2,142% e a Euribor a 12 meses em 2,045%.
O economista disse não estar convencido "de que o BCE vá cortar tanto os juros" como muitos preveem, pois considera que Frankfurt deverá querer "defender o instrumento taxa de juro como instrumento de política monetária", mas considerou que, de qualquer modo, não se perspetiva "a possibilidade de as taxas de referência subirem" pelo que as Euribor deverão continuar a descer.
A Euribor foi criada em simultâneo com a introdução do euro, em 01 de janeiro de 1999, como taxa de juro de referência do mercado interbancário da zona euro. As Euribor são fixadas pela média das taxas às quais um conjunto de 19 bancos (entre os quais o português Caixa Geral de Depósitos) empresta dinheiro entre si.
O seu valor está intrinsecamente ligado ao valor definido pelo BCE para as suas taxas diretoras. Quando o mercado antecipa que o BCE vai subir juros as Euribor sobem, quando prevê cortes nas taxa de referência as Euribor descem.
As Euribor já tiveram vários momentos históricos.
Em 2008, ano da crise financeira, chegaram a superar os 5% em vários prazos. Com a intervenção do BCE a descer juros para estimular a economia, em meados de 2009 as Euribor já negociavam em torno dos 1%.
Em 2015 atingem valores negativos, reagindo às decisões do BCE (incluindo grande descida das taxas de juro diretoras) para estimular a economia.
Em 2022, as Euribor deixaram de negociar em terreno negativo, acompanhando o BCE (que subiu as taxas de juro diretoras devido ao aumento da inflação na zona euro, num ano marcado também pela invasão da Ucrânia pela Rússia), e começaram a subir.
Em outubro de 2023 (média mensal), a Euribor a três meses negociou nos 3,968%, a seis meses nos 4,115% e as 12 meses nos 4,160%. Só a partir de 2024, com a perspetiva de cortes do BCE, as Euribor começaram a descer gradualmente.
A Euribor serve de referência a produtos financeiros, desde logo ao crédito à habitação a taxa variável (o principal em Portugal).
Se a baixa das Euribor, especialmente quando estiveram em valores negativos, foi um alívio para quem paga crédito à habitação, a subida das Euribor nos últimos anos foi um abalo para muitas famílias pelo encarecer significativo da prestação mensal. Mais recentemente, o alívio tem sido apenas ligeiro.
Segundo os últimos dados do Banco de Portugal, em fevereiro (últimos dados disponíveis), 37,5% do total do crédito à habitação a taxa variável estava indexado à Euribor a seis meses, 32,5% à Euribor a 12 meses e 25,7% à Euribor a três meses.
Já nos novos créditos à habitação concedidos em fevereiro, foi preponderante a Euribor a 12 meses (representando 46,9% do total), seguida da taxa a seis meses (44%), enquanto a taxa a três meses foi marginal (5,9%).