O banco italiano UniCredit obteve autorização do Banco Central Europeu (BCE) para prosseguir com a sua oferta sobre o rival doméstico, Banca Popolare di Milano (BPM), segundo nota divulgada pelo próprio. Já o BPM viu uma luz vermelha do lado do regulador europeu, que não lhe permitiu acionar o ‘danish compromise’, de forma a facilitar a compra da gestora de fundos Anima Holding.

Este mecanismo foi introduzido em 2012 e, segundo a Agência Reuters, visa reduzir “os encargos para os bancos decorrentes da detenção de uma seguradora, permitindo-lhes deter capital sobre as participações de seguros numa base ponderada pelo risco, em vez de as deduzir na totalidade do seu capital. A ideia é que a regulamentação rigorosa do setor dos seguros elimina a necessidade de uma dedução total do capital”. “O Banco BPM já beneficia do ‘danish compromise’ na sua atividade seguradora e continuará a beneficiar. No entanto, a aquisição da Anima custar-lhe-á mais em termos de capital do que o previsto, uma possibilidade que o banco planeia contrariar pagando menos dividendos e tomando outras medidas”, explica a Reuters.

A par da autorização do BCE, o UniCredit viu os seus acionistas aprovarem, na sexta-feira passada, a emissão de ações necessária para financiar a aquisição. Neste momento, falta o regulador do mercado italiano, Consob, aprovar o documento da oferta nesta semana, que é o passo final para o UniCredit lançar a oferta oficial, segundo explica a Reuters.

Por outro lado, o BPM viu rejeitado o seu pedido ao BCE de acionar o ‘danish compromise’, que iria permitir que a aquisição da Anima Holding pelo banco afetasse menos as suas reservas de capital. No entanto, o BPM, terceiro maior banco do país, já havia recebido aprovação dos acionistas para prosseguir com a operação independentemente da decisão do regulador.

Em declarações à Reuters, Stefano Gatti, professor na Universidade de Bocconi em Milão, defendeu que “faz sentido o BPM avançar”, pois o impacto no capital “não afeta a lógica por trás do negócio”, algo que o banco já tinha argumentado também.

Orcel esfrega as mãos, mas sacode maus negócios

Face a estes desenvolvimentos, o CEO do UniCredit, Andrea Orcel, reforçou que o seu banco fez a avaliação correta ao atribuir um prémio quase nulo na sua oferta pelo BPM. Como recorda a Reuters, Orcel já disse no passado que não está disposto a prejudicar os dividendos robustos do UniCredit devido à compra do rival mais pequeno e, citado pela agência, vai proceder com a proposta apenas nas condições adequadas.

Neste sentido, o comunicado que saiu da assembleia geral do segundo maior banco italiano demonstra preocupação com a decisão do BPM de seguir em frente com o negócio da Anima e sublinha que a instituição vai estar atenta à rendibilidade e à robustez de capital do BPM, bem como à sua capacidade de concessão de crédito. De igual modo, o UniCredit insta o concorrente a ser claro com a situação da aquisição e o seu impacto no capital, de forma a saber como proceder na sua possível oferta sobre o BPM.

Em resposta às considerações do líder do UniCredit, o CEO do BPM, Giuseppe Castagna, reiterou que “os atuais níveis de capital, bem como os projetados após a aquisição da Anima, são adequados”, segundo reportou a Reuters. Castagna acrescentou que o banco concedeu créditos de quase 100 mil milhões a empresas nos últimos cinco anos e mais 2,5 mil milhões este ano.

Recorde-se que o UniCredit lançou uma oferta sobre o BPM em novembro, dias após este ter feito uma oferta sobre a gestora de fundos Anima Holding, da qual já detém mais de 22%. A oferta do UniCredit implica um prémio de 0,5%, o que o banco visado considerou não estar de acordo com o seu valor, destacou o mesmo numa nota deixada no seu relatório de contas de 2024.

Ofertas varrem o panorama bancário italiano e não só

Esta é apenas uma das muitas ofertas em cima da mesa no mercado financeiro europeu, além das aquisições já confirmadas. Itália leva o troféu neste campeonato. O UniCredit está também a subir a parada no alemão Commerzbank, onde já conta com uma posição de 29,9%, recentemente aprovada pelo BCE. Ainda em Itália, o Banco Ifis lançou uma oferta pelo Illimity, o Monte dei Paschi di Siena quer adquirir o rival maior Mediobanca e o BPER está a fazer mira ao Banca Popolare di Sondrio. De volta à Alemanha, a mais recente operação notável foi a aquisição do banco OLB pelo francês Crédit Mutuel.

Ainda no Mediterrâneo, ficou-se a saber recentemente que o grego Alpha Bank vai comprar o Astrobank, um pequeno banco cipriota. Aqui ao lado, prossegue uma batalha entre o BBVA e o Banco Sabadell, sendo que o último tudo tem feito para evitar a operação.