O Banco Central Europeu (BCE) reduziu novamente, esta quinta-feira, as taxas de juro de referência em 25 pontos base. A taxa de juro da facilidade permanente de depósito – a taxa de referência – cai, assim, para os 2%.

A taxa de juro de operações principais de refinanciamento cai, por sua vez, para os 2,15%, e a taxa de juro da facilidade permanente de cedência marginal de liquidez reduz-se para os 2,4%. As taxas começam a aplicar-se a partir de 11 de junho.

Esta é a quarta vez que o BCE reduz as taxas de referência em 2025 e a oitava desde que começou o atual ciclo de alívio da política monetária, em junho de 2024.

Esta nova redução vai ao encontro das expectativas do mercado, que antecipavam novo corte numa altura em que a taxa de inflação na zona euro se alinha com a meta de médio-prazo de 2%.

Ao mesmo tempo, a incentivar novo alívio, as economias da moeda única apresentam crescimentos económicos nulos ou débeis, em parte fruto da incerteza geopolítica e comercial (leia-se: as taxas alfandegárias de Donald Trump).

“Ao nível atual das taxas de juro, estamos a chegar ao fim de um ciclo de política monetária que respondia a choques acumulados, incluindo a covid-19, a guerra na Ucrânia e a crise energética”, disse a presidente do BCE, Christine Lagarde, citada pela agência Lusa, na conferência de imprensa que se seguiu ao anúncio da decisão de política monetária. O banco está, assim, “numa boa posição” para alcançar a meta de longo-prazo de uma taxa de inflação de 2%.

A decisão foi tomada “quase por unanimidade”, disse. “Apenas um membro não apoiou a decisão”, avançou.

Parece estar no bom caminho para que tal aconteça: o Eurostat estimou a taxa de inflação harmonizada (indicador que permite comparações entre Estados-Membros) de maio nos 1,9%, menos três décimas do que em abril. O próprio BCE anunciou esta quinta-feira que reviu as suas perspectivas para a inflação no espaço da moeda única para uma média de 2% este ano e de 1,6% no próximo. Ou seja, uma redução nos dois casos de 0,3 pontos percentuais, reflexo “principalmente de previsões mais baixas para os preços da energia e de um euro mais forte”.

A taxa de inflação subjacente, que exclui energia e bens alimentares por serem de preço volátil, deve fechar 2025 com uma média de 2,4%, e de 1,9% em 2026, previsões que, face a março, não sofreram alterações.

Num curioso apontamento de joalharia, dias depois da notícia do “Financial Times” de que poderia estar de partida para chefiar o Fórum Económico Mundial, Lagarde compareceu à conferência de imprensa desta quinta-feira ostentando um colar com a expressão “in charge” (“ao comando”, em português) – “para o caso de ainda haver dúvidas”, justificou.

“Posso dizer, de forma muito firme, que sempre estive, e estou, totalmente determinada a cumprir a minha missão, e determinada a terminar o meu mandato. Lamento informar-vos que não estão perto de me ver pelas costas”, disse, citada pela Reuters.

Analistas: pelo menos mais um corte em 2025

Numa nota enviada esta quinta-feira, os analistas do BPI consideram que "dada a incerteza, é provável que o BCE se mantenha cauteloso" nos próximos tempos. Esta redução "deixa as taxas na região em território neutral e dá ao BCE flexibilidade para reajustar a política".

Os economistas do banco antecipam mais um corte em 2025, no final do ano, que colocará a taxa de juro da facilidade permanente de depósito em 1,75%.

O economista-chefe para a Europa do Deutsche Bank, Mark Wall, considera num curto comentário que as revisões em baixa das previsões de inflação – apesar do indicador preferencial para as decisões de política monetária, a inflação subjacente, não ter sido alterado – “não sinalizam necessariamente o fim do ciclo de alívio nas taxas de juro. A guerra comercial é inerentemente imprevisível. A subestimativa da inflação pode aprofundar-se e persistir".

Esta “subestimativa” quer dizer que o BCE pode vir a deparar-se com a situação contrária à da vivida nos últimos anos, em que, depois de anos de ausência, a inflação apresentou-se a gerações que nunca a tinham vivido. Segundo o analista, para evitar inflação a menos, o BCE confia na “resiliência da economia, ajudada pela despesa em defesa e infraestrutura e pelas condições de financiamento favoráveis.”