Os bancos têm as suas ofertas segmentadas de diversas formas. Entre elas, as que estão ao dispor dos jovens vão desde a aposta em soluções digitais mais flexíveis ao crédito à habitação mais atrativo. Um estudo feito no Reino Unido pela Tink, no ano passado, revelou que atrair clientes jovens ia ser um dos desafios mais complicados para os bancos ao longo do próximo ano. Dois terços dos executivos sondados neste estudo admitiram que é uma questão de tornar o seu negócio ‘future proof’, com 50% a considerar isto crucial para se manterem competitivos.

Os novos ‘players’ do mercado apostam em produtos de investimento e à adesão cada vez mais prematura como meio de consolidar clientes. O estudo referido aponta que as gerações mais novas – a Geração Z no caso – são mais exigentes em relação ao seu banco. Mais ainda, estima-se que os bancos de 31% desta nova geração estão em risco de os perder caso não atualizem as suas ferramentas e serviços digitais. O Jornal PT50 quis saber, junto dos bancos a operar em Portugal, que produtos e estratégias empregam para as faixas etárias mais novas.

Tudo começa no conceito de jovem, que não reúne consenso em termos de idade limite. Entre os bancos que responderam às nossas questões, ficou-se a saber que, para o Novo Banco, o limite da juventude está nos 25 anos – com as pessoas até esta idade a representarem 12% dos clientes particulares – e no BPI esta vai até aos 30. Neste último, os jovens são cerca de 20% da base de clientes particulares. Já a Revolut revelou que 5% dos seus clientes têm menos de 18 anos, 29% têm entre 18 a 24 e 29% estão entre os 25 e os 34 anos. Desta forma, 52% dos clientes da Revolut são jovens até aos 34 anos.

Sobre a tendência de crescimento, ou não, deste público, o Novo Banco destaca que este é um segmento que “tem crescido acima da média da base de clientes” do banco. Do lado da Revolut, o neobanco destaca que, em 2024, teve um crescimento de 50% em clientes abaixo dos 18 anos. Já o BPI referiu não divulgar esta informação.

O perfil do cliente jovem: mais digital e mais interessado em investir

Sobre o que atrai os jovens e quais os produtos que estas empresas têm ao seu dispor, há uma convergência em torno da experiência digital, simples e flexível. O BPI defende que os jovens pretendem “benefícios mais tangíveis, ausência de comissões e uma experiência digital fluida”. A Revolut apresenta uma análise idêntica, indicando que as gerações mais novas esperam “soluções financeiras simples, digitais e personalizadas”.

Neste sentido, o Bankinter Portugal destaca a abertura de conta 100% digital, que se estende à contratação do crédito à habitação completamente ‘online’ e disponibilizam ainda plataformas digitais para investimento. O Novo Banco segue a mesma lógica, argumentando que a sua aplicação “funciona como centro da relação entre os jovens e o banco, permitindo realizar a maioria das operações bancárias com toda a simplicidade”.

Desde 2022, o BPI oferece a conta AGE para pessoas até aos 30 anos, com benefícios mais habituais, como a domiciliação automática de ordenado (com valor igual ou superior a 900 euros) e a isenção de comissões de manutenção. Estas isenções também existem no Bankinter até aos 18 anos e, a partir desta idade, o banco adianta que “existem várias contas sem comissão de gestão”, bem como a oferta dos cartões e as transferências gratuitas. O Novo Banco, por sua vez, salienta os cartões – físicos e virtuais – gratuitos, o MB Way ilimitado gratuito e também a opção de domiciliação de ordenado.

Outro ponto de encontro entre as instituições é a possibilidade de investimento. Na Revolut, as gerações acima dos 18 “demonstram um envolvimento sem precedentes nos investimentos”. Segundo o banco digital, a faixa etária entre os 18 e os 24 anos teve um aumento de contas abertas para produtos de investimento de 242% em 2024. Para jovens entre os 25 e os 34, a variação foi de 146%.

Recentemente, a título de exemplo, o Banco Carregosa lançou uma ferramenta de investimento dirigida especificamente para jovens. Esta permite a criação de uma conta 100% digital que se destina a atrair investidores e aforradores abaixo dos 30 anos. O banco referiu que se trata “um passo fundamental na modernização da relação com o cliente e na eliminação de barreiras de entrada para quem está a iniciar o seu percurso financeiro”.

O Bankinter sublinha a sua remuneração dos depósitos à ordem, com taxas até 2%, que podem ir até aos 5% no primeiro ano para jovens que já estejam a trabalhar. O banco tem também um programa de apoio à poupança que “incentiva planos de entregas programadas para jovens com mais de 18 anos, duplicando a primeira entrega do cliente até um máximo de 100 euros pela abertura de conta conjunta de bebés até um ano com os pais”.

No campo das funcionalidades específicas para jovens, a Revolut destaca ainda a modalidade abaixo dos 18, que inclui subcontas com objetivos específicos e a possibilidade de receberem dinheiro diretamente dos pais.

O Novo Banco e a Revolut optaram recentemente por apostar em rostos jovens para atrair o público em causa. No caso do Novo Banco, este escolheu a atriz Júlia Palha como rosto de campanhas. Já a Revolut lançou uma campanha digital com o humorista Salvador Martinha, com o objetivo de, justifica a empresa, “reforçar a presença da marca em Portugal e chegar a um público mais jovem”. Paralelamente, estas duas instituições são também patrocinadoras de festivais, algo que faz parte da sua estratégia de marketing para estas faixas etárias. O Novo Banco é o banco oficial do NOS Alive e a Revolut é patrocinadora do Primavera Sound e do Coala Festival.

Garantia pública complementa um segmento já com ofertas específicas

No que diz respeito ao crédito à habitação, este tem tido especial destaque desde a entrada em vigor da garantia pública, que permite aos jovens até aos 35 anos pedir um empréstimo para habitação própria e permanente que financie até 100% do valor da casa. O BPI revela que esta medida teve um “impacto expressivo na afluência deste público à contratação de crédito à habitação”.

O Novo Banco realça que tem um crédito à habitação específico para a primeira casa desde 2019. Os jovens têm, assim, a possibilidade de financiamento até 90% através do reforço do crédito habitação com a hipoteca da casa dos pais e possibilidade de acesso às “melhores condições de crédito” também com a hipoteca da casa dos pais, baixando o LTV, o risco da operação, o ‘spread’ e a prestação, esclarece. A par disto, o banco garante ainda a isenção das comissões iniciais de estudo de processo, avaliação do imóvel e formalização do contrato, bem como uma bonificação de 0,1% ao ‘spread’ de grelha existente. Há ainda a oferta de ‘casback’ de até 2% sobre o total do crédito. A isto junta-se a possibilidade da recente garantia pública.

No caso do Bankinter, o banco salienta que disponibiliza condições “muito competitivas”, com taxas fixas a longo prazo para apoiar jovens na compra da primeira casa, garantindo uma taxa de esforço mais baixa na fase de análise de crédito pelo banco. A instituição tem também um programa de recomendação do crédito à habitação entre familiares ou amigos, que reembolsa a prestação do cliente que recomenda e do recomendado até um máximo de 750 euros cada.

A iRevolut não possui produtos hipotecários.

Banca tradicional atenta à concorrência, mas não preocupada

Sobre a atenção aos concorrentes emergentes no mercado, a banca tradicional diz-se atenta a todas frentes. O BPI entende que cada grupo etário tem diferentes comportamentos e expectativas e o desafio reside em manter a proximidade. “Estamos a adaptar a nossa forma de comunicar, inovar e criar valor, para garantir que continuamos a ser uma escolha natural para quem cresceu num mundo digital”, adianta o banco. A empresa reforça também que está “focada em oferecer uma experiência de cliente diferenciadora face a qualquer concorrente e em qualquer canal”.

Já o Novo Banco refere que acompanha “com interesse a entrada de novos ‘players’ no mercado”, mas considera que “provavelmente, a maioria dos seus clientes ainda os usa como segunda conta, dado que esses ‘players’ ainda têm dificuldade em apresentar uma oferta tao completa como a que existe no Novo Banco”.

Por sua vez, a Revolut reconhece que é um desafio “manter o interesse deste público que valoriza a autonomia e a transparência”. “É por isso que nos esforçamos por estar na vanguarda da tecnologia com soluções eficazes que respondam às exigências e valores específicos das gerações mais jovens”, acrescenta o neobanco.

O Jornal PT50 questionou os principais bancos a operar em Portugal sobre este assunto.