Nomeado na categoria de Sustentabilidade & Inovação Social na Classe de 2024 da lista 30 Under 30, da Forbes Portugal, João Maria Botelho continuou o seu percurso como voz ativa na luta por um presente e futuro mais sustentável ao longo deste último ano. Prova disso é o seu projeto mais recente: a coordenação e escrita do livro Estudos Sobre ESG (Environmental, Social & Governance) – Desafios Atuais e Futuros. A Forbes falou com João Maria sobre este livro e sobre a sua presença em Bonn, na conferência que antecede a COP.

Como é que surgiu a ideia de escrever este livro?
Eu acho que a ideia de escrever o livro começou na minha cabeça depois da nomeação para a lista da Forbes, porque muitos dos projetos que já tinha feito antes envolviam a questão da capacitação e da literacia da sustentabilidade para a população, no caso sempre com o maior impacto nos jovens, mas havia agora uma necessidade de continuar esta missão pessoal que eu tinha de descomplicar a sustentabilidade e de mostrar às pessoas que nós já estamos num momento um bocado mais crítico da nossa história coletiva. Efetivamente passámos de uma escolha que podia ser vista como meramente reputacional ou para as empresas e que agora era já mais um imperativo jurídico, financeiro, estratégico. E eu só estava a pensar como é que seria a melhor maneira de fazer o livro e também a melhor forma de criar aquilo que eu queria ter tido quando comecei a tocar nos temas de sustentabilidade. Nós temos imensos especialistas em diversas áreas da sustentabilidade em Portugal, mas faltava um livro que agregasse visões, que falasse de visão, de estratégia e de sustentabilidade de uma forma integrada. Daí criar o manual.

Conta com mais de 22 autores, experts cada um nas suas áreas, e era exatamente isso que eu queria, que este livro tivesse uma narrativa integrada e que não mostrasse apenas um vetor da sustentabilidade. Especialmente como são estudos e reflexões sobre o ESG, hoje em dia é muito difícil haver alguém que seja um expert total em ESG, por isso é que nós tocamos em temas como a transição energética, a energia nuclear, a questão da saúde mental como o S, falamos também da sustentabilidade nos mercados financeiros, temos a contextualização da sustentabilidade na história. Portanto, isto é um manual que pretende primeiro equipar as pessoas, juristas, decisores, policy makers, advogados, diretores, pessoas da sociedade civil para terem um livro em casa que lhes permita perceber vários ângulos da sustentabilidade. Numa altura em que a sustentabilidade, especialmente em contexto europeu, está a ser realinhada, este manual permite que o leitor consiga perceber melhor o contexto atual, os principais desafios, as principais oportunidades e, acima de tudo, como é que pode navegar nestes meandros mais regulatórios que a sustentabilidade apresenta.

Como é que foi o processo de escrita?
Eu contei com a ajuda na coordenação do André Alfar Rodrigues, que já tem alguma experiência, e do João Almeida. Foi-me atribuída alguma liberdade e nós trabalhámos sempre em conjunto no sentido de tentar ter as melhores mentes da sustentabilidade e criar mesmo um ecossistema do saber. E foram vários meses onde primeiro foi ‘qual é que vai ser o nome do livro, porque a sustentabilidade é muito abrangente’, depois ‘quem é que são as principais vozes do saber da sustentabilidade em Portugal?’, depois ‘será que têm agenda?’. Depois foi reunir temas que batessem todos certo numa cadência lógica dentro daquilo que queríamos fazer. Ou seja, dividir o livro por environmental, pelo social e pelo governance. Só que lá está, não podemos fechar tudo em caixas e nós depois tínhamos temas mais mistos: onde é que os arrumamos? Acho que neste meio da sustentabilidade, como nós estamos sempre a bater a mesma tecla da importância e da descomplicação e da necessidade deste imperativo que uma economia pode prosperar e ao mesmo tempo ser sustentável, acho que as pessoas agarraram esta oportunidade também de uma forma de poder aportar o seu conhecimento, que muitas das vezes o dizem em painéis de escolas, de universidades, em salas de direção e de board, para algo já escrito, porque é o primeiro manual de sustentabilidade em Portugal. Depois ainda tínhamos outra camada: eu queria uma introdução à obra que contasse com uma visão também ampla. E aí também foi difícil escolher as pessoas que íamos escolher para o prefácio. Posso dizer, por exemplo, a Mónica Ferro, por trabalhar em temas da saúde sexual e reprodutiva das mulheres e também estar nas Nações Unidas, onde nasce a agenda das ODS, para mim foi óbvio convidá-la para uma introdução do manual sobre a questão do Estado, da agenda de sustentabilidade e da agenda de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas. Por exemplo, outra mulher que eu também admirava era a Carol Portabella, da Fundação Alberto do Mónaco, porque eles trabalham muito com projetos de conservação marinha, de biodiversidade. Nós abrimos o manual, temos um prefácio que nos indica como se fosse um trailer qual o atual estado da sustentabilidade, para onde é que estamos a ir e o porquê da importância do manual. Também para desmistificar, muitas das pessoas pensam que a sustentabilidade é o ambiente apenas, ou o clima apenas, ou o mar apenas, ou ainda pior, apenas a reciclagem. E este livro dota-nos de diversos chapéus e de diversos ângulos.

E este manual vem logo depois de um pacote muito importante da União Europeia, que é o pacote Omnibus, que é um novo pacote de simplificação da Comissão Europeia que visa abordar a dicotomia entre sustentabilidade e competitividade. E ao longo do manual isso é visível. Nós desconstruímos o conceito e desconstruímos o claim que muitas das vezes é feito, que é: nós precisamos de desregular para aumentar a competitividade. E aqui o que nós queremos mostrar, lá está com os diversos ângulos, é que efetivamente a sustentabilidade como estratégia a longo prazo irá sim trazer benefícios de alinhamento com as estratégias de sustentabilidade cooperativa.

Se tivesses de pegar em apenas alguns dos temas que são abordados no livro e destacar, quais seriam?
Acho que para termos uma visão mais completa, logo no início do manual, a introdução e o contexto da sustentabilidade, foi eu que o escrevi, porém escrevi-o depois de ter falado com bastantes pessoas. Foi uma viagem mesmo ao porquê de estarmos onde estamos hoje, e também mostrar que o ESG sempre teve nomes diferentes, mas o core já está há muitos anos, e os objetivos só têm vindo a densificar e a urgência tem vindo a aumentar. Também temos um artigo muito, muito bom da Paula Redondo Pereira, é uma pessoa que trabalha nos mercados financeiros há muitos anos e teve o privilégio de emitir uma obrigação verde num país em desenvolvimento, e é uma perspetiva prática da importância que estes projetos têm para as comunidades locais. O artigo do Bruno Ferreira, managing partner da PLMJ, também é muito interessante, porque fala meramente das repercussões de um instrumento jurídico nos mercados financeiros, e qual é a repercussão que ele pode vir a ter. A Mariana Vicente falou sobre um tema que muitas vezes não é falado, que é a importância do luxo sustentável, depois de ter ido a uma cimeira das Nações Unidas em parceria com a Cartier, portanto é uma perspectiva também bastante prática do negócio de luxo como segmento sustentável. A Catarina Milagre traz-nos no seu artigo à tona um debate que é a questão da transição energética através do nuclear. O livro está feito, tailor-made, para cobrir os principais tópicos de ação e, mesmo assim, tínhamos mais alguns autores que, infelizmente, não conseguiram fazer parte, mas nós já contamos com quase 600 páginas só de temáticas de sustentabilidade.

Em que fase é que achas que estamos em Portugal relativamente ao tema da sustentabilidade?
Nós temos um país bastante próprio e como estamos na União Europeia seguimos métricas, seguimos diretivas e também seguimos uma agenda bastante própria, daí a importância de perceber o que vem de cima, porque nós estamos bastante circunscritos neste sentido. Diria que estamos num caso intermédio. Há um relatório que de 0 a 100 pontua Portugal em 70,6. Nós estamos em 22.º lugar entre 34 europeus. Na contagem global estamos em 80,6 de 100. E aí já estamos a falar do universo de 193 Estados. Eu diria que nós estamos a fazer um ótimo caminho no que diz respeito à energia, à clean energy. Em 2024, 10% de eletricidade veio de combustíveis fósseis, as emissões estão a cair, caíram mais de 50% face a 2022. Mas nós também temos uma dicotomia. Por exemplo, o ODS 15 da vida terrestre e o ODS 14 estão em graves, estão no vermelho como obstáculos ainda e pontos a melhorar. Especialmente a Portugal, que tem uma grande faixa costeira e ecossistemas muito importantes, é algo que nos devia assustar, especialmente pelo facto de nós termos uma zona económica exclusiva, pelo facto de nós termos uma economia bastante pujante nesse sentido, e muitas das vezes ficamos atrás dos diálogos europeus. Temos tudo para ser aqueles que mais ditam o futuro da economia do mar e este ODS tão importante como a vida marinha e não lideramos a conversa, vamos atrás de países que muitas das vezes não têm estas particularidades que nós temos. Outro dos pontos que também é importante é a produção e o consumo do ODS 12 e a alimentação sustentável. Não estão em grave, mas estão em níveis de convergência bastante lentos. Portanto, o que é que nós podemos fazer para operacionalizar e para melhorar este facto? Cumprir a nossa lei de base do clima, os nossos planos nacionais de energia e clima cumpridos, e acima de tudo ir aos diálogos internacionais, pertencer aos fóruns internacionais, mandar pessoal que domine estas pastas nos diálogos internacionais para também poder fazer valer a voz de Portugal nestes fóruns que são bastante decisivos.

E em relação à Europa?
A Europa está num momento, diria eu, de simplificação. Temos um pacote de simplificação que é o Omnibus, que é uma figura europeia que já tinha acontecido antigamente para pacotes de direito de consumo. O Omnibus visa fazer alterações a diversas peças. Nós tivemos o primeiro pacote Omnibus já no início do ano, que visava reformular peças-chave do framework de sustentabilidade europeia, e o que é que fez? Aumentou os limiares, que antigamente estavam mais circunscritos para aliviar as empresas. E não podemos confundir aliviar burdens regulatórios com o desregular simples e bruto para, de repente, fomentar o mercado de competitividade da União Europeia. Nós temos uma lei europeia do clima, nós temos metas de neutralidade carbónica e todo o pacote de finanças sustentáveis que a União Europeia tem vindo a fazer desde 2018, com a taxonomia europeia, que também está a ser simplificada, tem de ser vista com bastante sensibilidade. E a sustentabilidade é um pilar core da União Europeia, não fosse o Green Deal uma chave para alocar financiamento às empresas que mais poderão vir a alocar fora da economia fóssil. Portanto, perceber também o porquê da Europa estar onde está tem muito a ver também com as políticas que segue, e se seguimos políticas que visam apenas a competitividade rápida com o comprometimento dos pledges climáticos, teremos consequências que depois se vão repercutir nestes dados que eu já disse de Portugal. Porquê? Porque nós bebemos de fundos, nós bebemos de bilhetes, nós bebemos de bolsas e também estamos dependentes da própria agenda europeia. Temos a nossa independência, mas estamos muito dependentes. Portanto, eu diria que Portugal tem ainda algum caminho a fazer, mas na escala europeia e na escala mundial não está tão mal como, por exemplo, nós vivemos nas notícias e vivemos em headlines mais mediáticas, temos de perceber qual é que foi a fonte, qual é que foi o relatório e quem é que está a dizer esses dados e em que contexto.

O quão problemáticos são os anos de instabilidade política para a agenda de sustentabilidade?
Eu acho que a instabilidade política no seu geral é sempre algo que é temido por todos, pelas agências de rating, pelas agências internacionais, pelos investidores e a sustentabilidade não fica atrás. Não fica atrás porque a sustentabilidade deve ser vista como um pilar estratégico, como um pilar de inovação, como um pilar que tem muito mais para dar. E lá está, nós precisamos de investir, precisamos de fiscalizar, precisamos de integrar as políticas setoriais para que este 25-30 transforme metas legais em resultados tangíveis para as pessoas e para o planeta. E como é que nós fazemos isso? Através dos decisores nacionais, europeus e supranacionais. Se estes decisores nacionais e internacionais se encontram nesta instabilidade, eu não vou ter tanta claridade para abordar temas que muitas das vezes são vistos como secundários. Isto pode-se ver até quando reorganizamos um governo, qual o nome e onde é que vamos alocar as temáticas do próprio governo. E neste caso nós temos um ambiente e uma energia juntos, o que me dá a sensação de que querem ser tratados de uma forma mais prática. Eu acredito que são escolhas e esta escolha que tivemos agora nesta organização governamental parece-me dar uma tónica à sustentabilidade. Quando nós vivemos num período de guerras, de invasões, de problemáticas tarifárias, a sustentabilidade vai ter uma grande repercussão da forma negativa. Porque nós vamos focar a nossa atenção no que é dito day-to-day business, core day-to-day de um país e vamos fomentar um clima que nos coloca à sombra de pledges que já fizemos como neutralidade carbónica em 2045, neutralidade carbónica em 2040. Vamos viver em períodos programáticos de 4 e 5 anos e passamos a bola a outro, como se costuma dizer, passamos a mensagem ao próximo que vier. Temos um Donald Trump que sai de um acordo de Paris, temos um Donald Trump que não acredita numa World Health Organization, temos uma NATO que pretende um maior alocar de financiamento em segurança. Isto são tudo escolhas que no final do dia dependem de dinheiro que vai ter que vir de algum lado. Se nós precisamos de dinheiro para descarbonizar e para capacitar as empresas para uma menor pegada carbónica e para research and development, mas ao mesmo tempo precisamos de alocar 5% do PIB para a defesa, ou precisamos de estar atentos a qual é que é a próxima jogada mercantil, qual é que é a próxima tarifa que vai ser posta em cima do aço ou do ferro, eu não consigo planear de forma tão organizada e de forma tão estratégica como poderia fazê-lo quando estamos a jogar num xadrez mais azul e branco. Saídas de acordos internacionais, não reconhecimentos de decisões internacionais, também contribuem para o desacreditar não só da sustentabilidade, mas também como do direito internacional próprio. Porque isto depois tem outras consequências. E lá está, temos muita soft law que depois requer implementação europeia e nacional. São tudo escolhas. Preferimos escolher num cenário onde eu sei onde vou alocar os meus fundos, eu sei que projetos tenho, eu sei quem são os meus aliados ou tenho que andar todos os dias numa rede social a perceber qual é que é a próxima jogada que vai acontecer? E eu acho que isto depois tem consequências que não são tão positivas, quer para os investidores, quer para o mercado, quer para as empresas. Isto claramente que se vai repercutir e, por exemplo, nós podemos ver o corte que tivemos em imensos projetos das Nações Unidas por parte do governo americano. Isto é claramente uma consequência direta de escolhas do executivo.

João Maria Botelho pertence à Classe de 2024 da lista 30 Under 30 da Forbes Portugal.

Nesta questão de se ouvir os jovens em relação ao futuro, em que momento achas que estamos?
Eu diria que ainda há muito caminho por fazer. Eu noto isso nos e-mails diários que envio, ou nas conversas que tenho, ou quando me convidam para falar aqui ou ali, muitas das vezes eu ainda noto que, pela forma como está distribuída, eles queriam ter um jovem, independentemente de que área fosse, precisavam de ter um jovem porque fica interessante e porque se calhar o marketing assim o disse. Mas noto desenvolvimentos desde 2021. Ou seja, eu notava que era muito mais complicado ouvir um jovem em 2021 do que hoje em dia. O que eu noto é que é muito mais fácil lá fora. Eu agora voltei de Bonn e estive numa conferência das Nações Unidas e eu notei completamente a diferença de organização e a forma como nós somos ouvidos e integrados lá fora. Não sei se é algo cultural nosso, português, não sei se é um trabalho que nós próprios juventude em Portugal precisamos de fazer e trabalhar, porque também não é só pedir para sermos ouvidos e querer falar e depois, quando são feitos os desafios, nós também não estamos ao mesmo nível. Eu acredito que nós estamos ao mesmo nível, que nós nos estamos a esforçar. Eu acredito muito em intergeracionalidade e acho que, às vezes, um dos problemas dos mais novos, já nem digo da minha idade, mas digo dos 16 – 19, é: eu estou certo e o outro está errado. Eu sempre pautei o meu caminho muito pelo diálogo da convergência e pelo perceber as multiplicidades dos diferentes diálogos, dos diferentes anos. Eu acho que nós ficamos muito mais ricos, vemos visões que nós, se calhar, em discussão connosco próprios não tínhamos visto. Já foi feito um caminho, mas efetivamente ainda temos muito caminho por percorrer e eu acho que isto é aquela dualidade do: permitam-nos mostrar-vos e também permitam-nos fazer parte da conversa.

E por fim, perguntar-te sobre o Bonn, que pontos achas importantes destacar?
Esta ida a Bonn foi muito significativa para mim porque eu fui integrado na delegação portuguesa, a convite da nossa ministra do ambiente, portanto foi o primeiro ano em que isso aconteceu e isto mostra-nos aquela questão do ‘permitam-nos fazer parte, porque nós temos algo a acrescentar’. Bonn é a pré-câmara da COP. Nós temos dois grandes momentos no ano: a COP, que é a Conferência das Partes, que é uma implementadora e temos a Bonn, que acontece em Bonn, na Alemanha, este ano reuniu quase 10 mil participantes, e isto foi um encontro para decidir quais os temas que vão ser levados a Belém, no Brasil. Este ano temos uma presidência do Brasil, uma presidência que eu acredito que é diferente das duas presidências anteriores que tivemos no Azerbaijão e nos Emirados Árabes, porque o Brasil historicamente tem uma presença na esfera do ambiente e na esfera ambiental muito própria. Eles falam de causa própria, falamos da Amazónia, falamos dos povos indígenas. Nós temos causas que lhes são bastante próprias e eu acho que isso dita muitos dos temas que eles querem pôr na mesa. Eles vão querer implementar também no sentido de fazer face àquilo que ao longo dos anos têm vindo a experienciar. Nesta abertura e neste fecho, o secretário Executivo começou logo com um sublinhar de urgência de avançar mais depressa e com mais justiça. Foram estas frases, ou seja, mais depressa e com mais justiça para chegarmos a Belém com temas muito mais definidos.

Qual é que é a importância também de Bonn como antecâmara? Preparar os temas. Nós chegamos a Bonn com muitos temas, com muitas temáticas que precisam de ser trabalhadas, densificadas, excluídas, para já termos textos finais e próprios para serem debatidos depois e aplicados em Belém. Isto é técnico, é rigoroso, tem menos media, tem menos aparato, mas é muito importante porque falamos da tecnicidade que vai permitir uma boa implementação de uma boa COP.

Pontos interessantes. Por exemplo, não começou logo no primeiro dia por desalinhamentos de agenda, o que já me mostrou que poderíamos ter uma conferência mais conturbada porque o plenário, em vez de começar logo de manhã, começou ao final do dia. Mas temas de mitigação e global stocktake foram decididos e foram tópicos que já estavam na mesa há algum tempo. Consenso de como operacionalizar o transition away from fossil fuels, que já tínhamos visto no Dubai. No que diz respeito à adaptação, iniciámos aqui uma conversa à margem para esta lista, para depois implementarmos e densificarmos melhor em Belém. E financiamento climático foi aqui a fratura central das nossas discussões, que acho que vai ser um tópico que vai dar para falar agora em Belém, porque nós temos um alvo mínimo de 300 mil milhões, o sul global tem métricas próprias. Eu lembro-me de termos ficado uma hora a discutir uma vírgula, porque não era no sítio correto. Portanto, nós quando falamos de Bonn, nós falamos efetivamente mesmo de trabalhar em indicadores, trabalhar em metas. Eu acredito que esta conferência que vamos ter agora no Brasil vai ser uma conferência diferente. É uma conferência que tem um pendor histórico diferente, é uma conferência que já estava a ser aguardada há muito tempo e ao mesmo tempo eles têm condições para implementar medidas cruciais na agenda climática internacional.