Antes do Mundial 2030, em que Portugal está envolvido como anfitrião, há o Mundial 2026. No próximo ano, Estados Unidos, Canadá e México vão repartir a organização do evento e por esta altura vão sendo ultimadas algumas questões. No polo mais a sul da edição que se avizinha, o Estádio Azteca tem estado a ser retocado. A ESPN fala num investimento de cerca de €69 milhões para aprumar o sítio onde vai ter início o torneio.

Esta terça-feira, a Building and Wood Workers’ International (BWI) fez-se representar junto da infraestrutura. Esta organização global e independente de defesa dos trabalhadores divulgou em comunicado que lhe foi “negado o acesso para verificar as condições dos trabalhadores”. “A FIFA está, mais uma vez, a colocar o lucro acima das pessoas”, denunciou a agremiação de sindicatos. “Não há praticamente nenhum escrutínio aos direitos dos trabalhadores”, porque a FIFA “se recusa a agir”.

Não é a primeira vez que a FIFA é alvo de acusações semelhantes. Uma investigação do “The Guardian” revelou que cerca de 6.500 trabalhadores migrantes morreram durante a construção dos estádios que serviram o Mundial do Catar. “A FIFA tem que agir já ou o Mundial 2026 vai ser outro caso de promessas quebradas e trabalhadores negligenciados”, alerta Ambet Yuson, secretário-geral da BWI.

Contactada pela Tribuna Expresso, a FIFA foi parca nas respostas dadas por e-mail. O organismo que tutela o futebol diz que as obras do estádio que foi berço da glória de Pelé e Maradona (e daqueles Mundiais de 1970 e 1986) “não são geridas pela FIFA”. Assim sendo, “a proteção dos direitos dos trabalhadores é supervisionada por um sindicato local, a Confederação Autónoma de Trabalhadores e Empregados do México” e pela Câmara Mexicana da Indústria da Construção. A FIFA diz existir um “contacto próximo” com estas organizações num esforço para “promover os mais altos padrões internacionais de trabalho”.

À questão acerca do motivo que levou a delegação da BWI a ser impedida de verificar as condições dos trabalhadores, não houve resposta. A FIFA também não esclareceu quantas pessoas estão envolvidas na requalificação do Estádio Azteca nem, como foi pedido, caracterizou a força de trabalho que está a levar a cabo as obras.

“A FIFA continua a prometer ao mundo um espetáculo enquanto se esquiva da sua responsabilidade para com os próprios trabalhadores que o tornam possível. O presidente da FIFA, Gianni Infantino, não tem problema em aparecer em fotografias com o presidente dos Estados Unidos, mas a FIFA não consegue garantir proteção aos trabalhadores que constroem o seu próprio espetáculo. Se a FIFA pode organizar patrocínios multimilionários e experiências VIP, certamente pode garantir que os trabalhadores têm salários decentes e condições seguras”, acrescentou Ambet Yuson.

A BWI monitorizou as circunstâncias laborais de trabalhadores envolvidos em grandes eventos que vão desde o Mundial 2010, na África do Sul, aos Jogos Olímpicos de Paris. O sindicato diz ter debatido a realização de inspeções durante o período que antecede o Mundial 2026, mas alegadamente a FIFA abandonou a negociação antes de assinar qualquer acordo.