O Farense recebe neste domingo o FC Porto no Estádio Algarve e Tozé Marreco reconheceu que o clube algarvio tem uma necessidade de conquistar pontos. O treinador dos algarvios abordou também o voto de confiança dado pela SAD do Farense e considerou «normal» existir ansiedade nos jogadores na equipa, face aos resultados recentes – os algarvios não vencem há seis jogos para o campeonato – acreditando numa «boa resposta» no encontro com o FC Porto e no que resta da temporada.

A cumprir o primeiro de dois jogos de suspensão pela expulsão diante do Nacional, Elves Baldé não entra nas contas do treinador e Ângelo Neto e Pastor, por questões físicas, estão em dúvida.

- Colocou o lugar à disposição depois do jogo com o Nacional e houve voto de confiança por parte da SAD. Há uma comunhão reforçada e de que forma é que isso se vai sentir em campo?

«Os treinadores têm sempre o lugar à disposição, só quem não tiver essa abertura ou essa consciência. Sabemos como funciona o futebol. Nós sabemos o que estamos a fazer e nas questões que já demos a volta e que conseguimos mudar, e a minha confiança é a mesma exatamente desde o primeiro dia que entrei aqui. Aquilo que eu faço sempre é um exame de consciência e de responsabilidade, de dizer que o meu lugar está sempre à disposição de quem quer que seja, ainda mais com gente que sabe o quanto sofre com o clube, o quanto trabalha para o clube. O meu lugar e de qualquer treinador está sempre à disposição e muito ligado àquilo que é os resultados.

Eu sei desde a minha entrada e da minha equipa técnica que não há margem para más fases. Todas as equipas o têm, todos os treinadores o têm, eu digo sempre desde o primeiro dia que não há milagreiros no futebol. Eu sei daquilo que temos feito, agora nós não temos margem para más fases, para jogos sem pontuar, nós não temos esta margem, infelizmente. O meu exame de consciência, a minha maturidade, e a palavra certa é responsabilidade, exige-me sempre que primeiro não minta, que diga sempre a verdade, que lide com ela e que esteja sempre disponível para aquilo que é as decisões de quem manda, sabendo sempre, e volto a dizer, que a minha confiança é exatamente a mesma desde o primeiro dia e sei bem a situação que encontramos e sei bem como demos a volta.

Vêm dizer que normalmente a seguir a um voto de confiança vem um despedimento e, portanto, eu não quero isso, isso não vai acontecer. A questão do voto de confiança é da imprensa que fala sempre dessas questões de voto de confiança. Nós os três [João Rodrigues, José Luís e Tozé Marreco] estivemos sempre alinhados desde o primeiro dia e vamos estar até ao final. Importante sim, é perceber que eu não falo por acaso e sou muito verdadeiro e digo aquilo que penso. Importante sim é a reação que tem de haver de dentro neste momento, que é de quem joga, quem está no campo e que foi para eles essa nossa mensagem principal e depois transferir essa vontade e essa crença e essa ambição para dentro do campo e para os atores principais, que são os jogadores.»

- Pediu mais responsabilidade, mas também teve carta branca dos jogadores para fazer o que quiser em prol da equipa. Admite fazer mudanças a nível tático, como tirar um terceiro central?

«A conversa da tática é absolutamente secundária, é o ponto de partida, quer da parte defensiva, quer da parte ofensiva. Nós deixamos de ser a pior defesa, e eu falo poucas vezes isso, eu gosto de falar depois com objetivos conquistados. Nós tínhamos uma situação muito difícil em termos de organização defensiva, conseguimos combater isso, não é por jogarmos com três centrais que somos mais defensivos ou que atacamos com menos gente. Não é, não tem nada a ver com isso. Eu sei que eu não vou perder tempo a explicar isso porque não vale a pena, porque eu tenho de fazer a minha análise daquilo que eu sinto que nós precisamos para os jogos.

Não é por jogarmos com três centrais que somos mais defensivos, não é por jogarmos com uma linha a quatro que somos mais ofensivos, não tem nada a ver com isso. Tem a ver depois com o resto das outras questões, das outras dinâmicas, das outras nuances que pomos no jogo. Isso não está tudo mal, como não estava tudo bem há algumas semanas. Eu sei bem no que temos de insistir na parte defensiva, está-nos sim a faltar uma agressividade que já tivemos, muito grande, os níveis de agressividade muito altos, de atenção, de concentração, está-nos a faltar isso, porque a organização está na equipa, nós permitimos muito pouco, quem fizer essa análise estatística também vai perceber isso.

Portanto, não está tudo mal, estamos sim a alterar com bola, houve um défice claro, e isso foi a parte que eu vi, a nível de soluções para a frente, precisávamos de fazer este refresh que fizemos no mercado, agora temos de os ir inserindo para sermos mais efetivos na parte ofensiva, que o vamos ser. Não é por falta de qualidade, atenção, porque já sabemos é que quando acontece um mau resultado sofres primeiro a ansiedade e tudo o resto de quem precisa de pontos surge, mas não há margem para isso, temos de resolver isso rapidamente.»

- O FC Porto vem de cinco jogos sem vencer no campeonato, e há uma eliminatória europeia e por isso poderá fazer descansar jogadores. Isso aumenta as probabilidades do Farense?

«Não me parece que haja margem para muitas alterações do lado do FC Porto. Sabemos o que vamos encontrar, o que temos de fazer, como temos de defender e como temos de atacar. Depois, obviamente também dependendo dos jogadores que jogarem em algumas posições do outro lado, pode haver nuances diferentes e que temos de controlar. Sabemos que o favorito está do outro lado, isso é inegável, pelo poderio, pela qualidade que tem, agora muito longe de estar resolvido.

Sabemos que nenhuma nem outra equipa atravessa uma fase boa, muito boa, isso também é claro, agora parece-me que o jogo pode ser decidido de várias formas. Não pode ser decidido é por falta de agressividade nossa, por falta de crença, por falta de organização. Isso não pode acontecer e eu tenho a certeza de que vamos dar uma grande resposta, não só hoje como até ao final do campeonato. Estou absolutamente confiante nisso, que vamos ser ainda mais efetivos, tal como já fomos algumas semanas atrás e eu estou confiante num grande jogo da nossa parte.»

- Há ansiedade e bloqueio mental nos jogadores?

«É normal quando as equipas estão tão necessitadas de pontos, que é a realidade e isso temos de a encarar. Precisamos de pontuar, é normal esse tipo de falta de confiança. A parte mental comanda tudo, isso sabemos, por isso vemos que há jogadores que vão alterando muito o seu rendimento por causa dessa confiança que vão ganhando ou não, e os grupos é a mesma coisa. Nós sabemos que estamos num momento da época em que precisamos pontuar, que não temos margem. Nós sabemos disso e, portanto, é normal haver essa ansiedade, mas temos de a encarar, não vale a pena varrer para debaixo do tapete ou esconder isso, é a realidade.

Temos de aprender e no último jogo passou-se e nos deixamos levar pelas emoções em alguns momentos, mesmo estando 2-0 aos 60 minutos. No passado estava um jogo 2-0 aos 90 minutos e acabamos por empatar. Portanto, temos de conseguir gerir essa ansiedade, lidar com ela e acima de tudo aquilo que eu faço sempre, o tal exame de consciência e de responsabilidade, assumir as responsabilidades, encará-las, é a única forma de resolver. Temos este problema, temos de corrigir isto, temos de insistir naquilo e enfrentar os problemas. Só assim é que se resolve, seja no futebol, seja na vida.»

- Poderá haver uma energia extra por ser contra grande?

«Não, nós não estamos em um momento de ser diferente jogar com o FC Porto, com o Benfica ou com o Sporting, e jogar com o Nacional ou com o Aves ou com o Famalicão. Não. Não pode ser. Nós precisamos de pontos em todos os jogos. Portanto, para nós tem de ser absolutamente igual e é mau sinal quando assim é. Encarámos da mesma forma a Sanjoanense no início, como encarámos o Estoril, e isso tem de ser a nossa forma de estar. E é isso que eu exijo, a mesma atenção, o mesmo foco, porque temos de o ter, seja agora contra o FC Porto, seja depois contra o Arouca. E vamos tê-lo.»

- Já se nota o dedo do novo treinador do FC Porto? de que forma, e quais são os principais perigos?

«Claramente, o tal ponto de partida que falo alterou de forma substancial. Passou a jogar com uma linha  a três, extremamente ofensiva, que projeta muita gente, muitas vezes com o Otávio, o Djaló ou com o Zé Pedro a envolverem-se até pelo corredor. Sabemos do que procuram, o estilo de jogo que querem, uma equipa que tem uma primeira fase de construção muito bem definida, altera o 3-4-3 com o 3-5-2, muita projeção dos laterais, que subiram também de forma substancial no número de cruzamentos. Portanto, sabemos o que vamos encontrar, preparados para isso, alteração significativa daquilo que era o FC Porto do Vítor Bruno e agora gerir isso, encarar isso e acima de tudo manter altíssimos os níveis de competitividade e agressividade.»