O râguebi português "atravessa um bom momento", que se refletiu no apuramento de Portugal para o Mundial na Austrália, em 2027, disse hoje à agência Lusa o antigo selecionador Tomaz Morais, que dirigiu os 'lobos' na primeira presença na competição.
"Não tem a ver com uma geração em si, até porque nem todos os jogadores da seleção são formados em Portugal. Sinto que é um bom momento que o râguebi português atravessa. Jogar de igual para igual com todas as seleções permitiu um acréscimo de qualidade competitiva que está a dar os seus frutos", comentou o atual diretor geral do futebol de formação do Sporting.
Segundo o treinador que qualificou pela primeira vez a seleção portuguesa para um Mundial, em 2007, Portugal tem hoje "uma transversalidade maior" nas escolhas "em comparação com gerações anteriores", que resulta de "um trabalho que foi feito com as seleções mais jovens".
"A qualidade dos nossos jogadores é boa e há em número para colmatar as saídas, sabendo que é no bloco avançado que as dificuldades são maiores. Nas linhas atrasadas tem talento muito vasto, os jogadores sabem que não podem facilitar", aprofundou.
Nesse sentido, "a chave" passará sempre por juntar profissionais lusodescendentes formados em França, ou noutros países, aos jogadores formados em Portugal.
"Já observámos, no passado, que quando quisemos construir equipas só com jogadores do campeonato português, tivemos dificuldades, nomeadamente no ritmo do bloco avançado", advertiu Tomaz Morais.
Ainda assim, o antigo selecionador português acredita que a "dimensão atlética" também está a ser trabalhada cada vez melhor em Portugal.
"O que eu vejo chegar à seleção são jovens com maior dimensão atlética, o que me faz pensar que se possa estar a trabalhar melhor a esse nível. Mas, por motivos profissionais, não acompanho de perto o trabalho dos clubes, só vejo os jogos da seleção, por isso não posso avaliar com propriedade", ressalvou.
Em 2007, sob a sua orientação, Portugal conseguiu um ponto de bónus defensivo frente à Roménia e teve momentos altos, como o ensaio à poderosa seleção da Nova Zelândia, mas não conseguiu vencer qualquer encontro.
Em 2023, orientada pelo francês Patrice Lagisquet, a seleção portuguesa alcançou a sua primeira vitória num Mundial, frente às Fiji (24-23).
Questionado pela agência Lusa sobre o que poderão os 'lobos' alcançar no Austrália2027, Morais afirmou que "dependerá do grupo" que calhar no sorteio, mas também da preparação que for feita para a competição.
"Portugal poderá sempre ambicionar ganhar pelo menos um jogo. E depende da preparação que for feita. Para o último Mundial, teve um ano [dez meses] de preparação. Para o Austrália2027 faltam mais de dois anos, tudo irá passar pelo planeamento e pelo investimento que forem feitos", apontou.
Portugal apurou-se no domingo para o Mundial de râguebi Austrália2027, após vencer a Alemanha, no Estádio do Restelo, em Lisboa, por 56-14, resultado que assegurou, pelo menos, um dos dois primeiros lugares no Grupo B do REC25 e o consequente apuramento direto para a competição.
Esta será a terceira presença dos 'lobos' em 11 edições da maior competição internacional da modalidade, que se disputa de quatro em quatro anos, desde 1987.
O próximo Campeonato do Mundo vai ser disputado entre 01 de outubro e 13 de novembro de 2027, na Austrália.
Para além de Portugal, também Roménia, Geórgia e Espanha já estão apuradas na zona europeia, juntando-se aos três primeiros classificados de cada grupo do França2023: França, Nova Zelândia, Itália, Irlanda, África do Sul, Escócia, País de Gales, Fiji, Austrália, Inglaterra, Argentina e Japão.