O jogo era de mata-mata e Rui Borges e Vítor Bruno mostraram-se avessos ao risco, privilegiando o controlo do meio-campo, em detrimento de um futebol mais ousado e assertivo. Por isso, os dedos de uma mão chegam e sobram para contar os remates enquadrados de ambas as equipas, num jogo que não teve muita qualidade técnica e acabou por ser disputado com uma intensidade quase sempre baixa.
As equipas apresentaram-se armadas em modelos semelhantes, e até com dinâmicas quase paralelas, residindo a principal diferença na influência Rodrigo Mora teve (e Trincão não teve) na primeira parte, e foi por isso que nos primeiros 45 minutos houve mais FC Porto que Sporting. No mais, encaixes e mais encaixes, cuidados e caldos de galinha não faltaram dos dois lados, com tímidas ações de pressão sobre a bola de saída do adversário, morrendo quase sempre o jogo a meio-campo. Como a bola não chegava em condições a Gyokeres, e só depois da entrada forçada de Quenda é que o Sporting começou a soltar-se um pouco mais, os campeões nacionais foram praticamente inofensivos na primeira metade, enquanto que os portistas tiveram a única boa jogada aos 20 minutos, quando Rodrigo Mora fez magia e assistiu Nico González, que rematou pouco ao lado. Foi preciso esperar mais 21 minutos para Gyokeres ter o primeiro assomo, com um remate que também falhou o alvo. Terá sido esta vontade das equipas de, mais do que se atacarem, medirem-se, fruto do conhecimento profundo que cada uma tem da outra?
Fosse o que fosse, uma coisa foi certa: o Sporting perdeu largura face a um passado recente (com Amorim chegou a ter linhas atacantes, nos 68 metros do campo, com cinco jogadores) e caminha para um futebol diferente; e Pepê e Galeno estão uma sombra do que foram, perdendo dramaticamente influência na manobra da equipa, o que deve motivar uma reflexão profunda de Vítor Bruno que, apesar de ter de esticar demasiadas vezes uma manta que é curta, está a menorizar o papel desequilibrador de dois jogadores que têm potencial para fazer a diferença..
O SUSPEITO DO COSTUME
Depois de uma primeira parte em que, apesar do platonismo, houve mais dragão que leão, a metade complementar iniciou-se com um Sporting mais vivo, muito em função da irrequietude de Quenda, que fez a cabeça em água a Martim Fernandes e realizou um primeiro aviso aos 54 minutos, com um cruzamento perigoso, para dois minutos volvidos realizar uma assistência açucarada para Viktor Gyokeres, que com classe bateu Cláudio Ramos. Pela terceira vez em três jogos de leão ao peito, Rui Borges via-se em vantagem, gerando-se a dúvida sobre se seguiria as pisadas dadas contra o Benfica, ou frente ao V. Guimarães, que foram diametralmente opostas.
O treinador do Sporting, escaldado pelos quatro golos encaixados na cidade-berço, optou pela prudência e respondeu às alterações feitas por Vítor Bruno aos 61 minutos - lançou Zaidu para a esquerda, fazendo subir Galeno no terreno e mandando a jogo o criativo Fábio Vieira - com o refrescamento do meio-campo (69), com João Simões no lugar de Morita. Pouco depois, (71), Vítor Bruno voltou a mexer na equipa, com Iván Jaime e João Mário nos lugares de Rodrigo Mora e Martim Fernandes, mas estas mudanças não foram suficientes para que o Sporting abanasse.
O jogo estava pedir, aos portistas, mais um ponta-de-lança que desse apoio a Samu, mas quando isso aconteceu, com a entrada de Deniz Gul aos 83 minutos, saindo Eustáquio, o Sporting manteve-se confortável, porque a pressão dos dragões nunca foi (nem lá perto) sufocante. Ou os leões cometiam um erro (como aconteceu com Maxi, aos 81 minutos, que teve uma perda de bola comprometedora, aproveitada por Samu para um remate com a mira levantada), os azuis-e-brancos, por mais que porfiassem e circulassem à volta da área, não mostravam arte para ‘matar caça’.
E pior ficaram quando Rui Borges, aos 89 minutos, refrescou o ataque com Harder e passou a três centrais, com a entrada de Quaresma e o recuo de Catamo na ala direita. A equipa estava blindada e, sem ópera nem champanhe, mais em noite de fado e cerveja, o Sporting marcou lugar na final da Taça da Liga de 2024/25, a disputar no sábado contra SC Braga ou Benfica.