Ninguém ficou de queixo caído quando Frederico Varandas anunciou o nome do novo treinador do Sporting. O presidente dos leões explicou os motivos da escolha e logo a seguir passou a palavra ao sucessor de Ruben Amorim para que este, por sua vez, enumerasse as razões que o levaram a aceitar. Enquanto trocavam de lugar no púlpito colocado diante da Porta 10A, no Estádio de Alvalade, houve um abraço. João Pereira recebeu uma sólida palmada nas costas. Ouviu-se o rangido do corpo, mas aguentou o firme afago antes de iniciar uma intervenção ensaiada que perdeu a formatação quando foi exposto a perguntas.
João Pereira está agora na incubadora. Assumir o comando do Sporting nesta fase da época é precipitar um passo que estava planeado acontecer só no final da temporada. “Se pensasse que podia correr mal, não estaria aqui. Não me passa pela cabeça que possa correr mal”, afirmou o treinador de 40 anos que começou como adjunto do sub-23 dos leões, em 2021/22.
O antigo internacional português admite que está numa “posição que traz grande responsabilidade”, mas que a “ambição passa por continuar a fazer do Sporting um clube de futuro”. João Pereira ainda não tem qualquer experiência como treinador na I Liga, mas neste momento tem ao seu encargo o mesmo o líder da mesma. “A preparação não foi feita na última semana, foi feita nos últimos anos. Seria um erro se me tivesse tentado preparar na última semana. Fiz o trabalho de casa e tenho confiança no que posso trazer ao clube.”
Consciente de que terá que conquistar o balneário, assume que o “cunho a implementar” vai precisar de “calma e paciência”, porque os jogadores estiveram quatro anos e meio sob “uma liderança e isso não se muda de um dia para o outro”. Ainda assim, aponta a “retoques” e a “diferenças” face ao antecessor. “Pediram-me para ser eu próprio. O maior erro seria eu querer imitar alguém.”
Inevitavelmente, Ruben Amorim não foi esquecido. Aliás, o próprio João Pereira fez questão de agradecer ao novo treinador do Manchester United “pelo que fez” pelo Sporting e pelo futebol português e partilhou um conselho. “O Ruben teve uma conversa comigo e deu-me um conselho que vou levar para a vida: sempre que queiras inserir uma nova dinâmica na tua equipa e não consigas explica-la numa frase simples ou palavra é porque ainda não estás preparado para a passar.”
João Pereira quer “corresponder, dando mais títulos” ao Sporting do que aqueles que conseguiu dar como jogador nas três passagens que teve pelo clube. Algumas coisas mantêm-se desde a altura em que não se ficava pela borda do relvado. “Detesto perder, adoro ganhar, sou muito competitivo e quero que as minhas equipas sejam muito aguerridas”, explica o técnico com contrato válido até 2027. Forçosamente, algumas coisas mudaram. “Sou uma pessoa muito mais calma do que quando era jogador.”
A bênção de Varandas
Sabia-se que, dentro da estrutura do Sporting, João Pereira estava a ser preparado para render Ruben Amorim. Foi isso que Frederico Varandas se preocupou em transmitir. “A apresentação acaba por acontecer sete meses antes”, disse o presidente do Sporting. Era só nessa altura, no final da época, que, supostamente, Ruben Amorim deixaria os leões e procuraria um novo desafio. A evolução dos acontecimentos não decorreu como previsto.
O planeamento da sucessão “teve início há cerca de quatro anos” pelo que, segundo Varandas, levou a que a escolha tenha sido “simples” e “natural”. “João Pereira conquistou e convenceu a estrutura de futebol pela sua competência e liderança”.
Quer o presidente, quer o novo treinador do Sporting, partilharam que, assim que se soube que Ruben Amorim ia abandonar o projeto, Frederico Varandas enviou uma mensagem a João Pereira dando-lhe conta da antecipação do cenário projetado apenas para 2025/26. “Tenho muito poucas dúvidas de que João Pereira, daqui a quatro/cinco anos, estará num dos clubes mais poderosos da Europa”, reforçou.