A leonina esperança de ganhar ao Gil Vicente teve epicentro a sensivelmente 15 minutos do fim. É uma boa altura para se resolver um jogo, visto restar ao adversário pouca margem de manobra para uma reação detalhadamente pensada. O árbitro viu Debast sofrer uma queda atabalhoada dentro da grande área da equipa de Barcelos. O VAR alertou que aquilo que se tinha passado na capoeira do galo não era motivo de infração. Uma vez que André Narciso tinha escrito a sentença a lápis, ainda foi a tempo de a apagar.
O Sporting sofreu então um derrame emocional. O 0-0 estava a ser uma nódoa difícil de eliminar e, com o empate tão embrenhado, uma óbvia oportunidade para o desfazer surgiu e desapareceu à mesma velocidade com que aparecera. Entre o começo da segunda parte e esse momento, a exibição dos leões até evitou ser apodada de nula. Porém, o abalo da reversão foi tamanho que as pernas nunca mais se voltaram a erguer.
O arranque do Sporting foi pouco impetuoso. Para pescar é sempre preciso lançar a cana. O valor do que se obtém dependerá sempre da qualidade do isco, mas antes de recolher o anzol importa nunca esquecer a necessidade de provocar. Não estavam muito convictos os centrais do Sporting de que o princípio dos seus atos devia ser uma ação com óbvios riscos, mas também com iguais probabilidades de recompensa. Diomande, Eduardo Quaresma e Debast, com esporádicas intervenções de Hjulmand, realizavam uma circulação com palas, sem um olhar para o manancial de possibilidades que havia mais adiante. Facundo Cáseres e Santi García, médios do Gil Vicente, eram a cortina que deixava opacas as ligações ao ataque.
Geovany Quenda ansiava por mais participação. Das raras vezes em que lhe foi dado o privilégio de tocar na bola no meio-campo ofensivo, algo aconteceu. De uma variação de trópico a trópico, Maxi Araújo cruzou para Gyökeres e sabe-se de antemão que, nesse sentido, o sueco é um jogador com pouca cabeça – e por azar foi assim que tentou finalizar em duas ocasiões na primeira parte. Tem outras coisas, como a capacidade de abreviar diagonais e espevitar um jogo que bem precisava de o ser.
Sem ocasiões berrantes de golo, o jogo andou sempre no entrecosto das marcações. Ora, de um lado, Aguirre e Diomande atropelavam-se esquecendo que alguém colocou uma bola nos arredores por algum motivo, ora, do outro, Gbane e Gyökeres começavam a saturar-se da existência um do outro.
João Pereira achou por bem espicaçar os centrais, colocando Debast sobre a direita, onde é mais forte e retirando Eduardo Quaresma, o cromo repetido visto ser também no lado destro que melhor se expressa. Entrou Matheus Reis para se posicionar à esquerda e muita gente andou uma casa para a frente: Maxi Araújo avançou mais, Conrad Harder posicionou-se mais como segundo avançado e menos como extremo e Viktor Gyökeres foi agudo nos ataques às costas da zona de conflito entre Rúben Fernandes e Kazu.
A tumultuosa intervenção de Conrad Harder em zonas mais próximas da baliza causou transtornos à equipa de Bruno Pinheiro. As duas ocasiões mais flagrantes pertenceram ao dinamarquês, beneficiário máximo da agitação trazida por Geny Catamo – rendeu Quenda, que abrandou no arranque da segunda parte –, uma das poucas alternativas reais num banco cheio de jogadores da equipa B. Andrew nem por um segundo vacilou e termina o jogo com duas defesas preponderantes.
O Sporting parecia ter passado a noite numa cama que não é a sua e sofreu com os prejuízos do mau descanso. Não tem sido habitual que a equipa verde e branca vá dormir sem estar no primeiro lugar. Sem querer saber de tal aspeto, na jornada 15, o FC Porto venceu em Moreira de Cónegos e subiu à liderança à condição. O empate do Sporting deixa os dois rivais igualados com 37 pontos e ainda falta o Benfica entrar em campo, o candidato que pode matar dois coelhos de uma cajadada. Na próxima semana, há dérbi. 🍿 🍿🍿🍿🍿