Na fatura detalhada da transferência de Ruben Amorim do Sporting para o Manchester United, onde estará a rubrica da cláusula de rescisão paga pela estrelinha? Porque aquele pedaço de incontável que tem faltado em Alvalade desde a saída do treinador, rebentou em todo o seu esplendor este sábado no dérbi de Manchester, jogo que o United perdia aos 88 minutos, para conseguir dar a volta num misto de crença, talento e erros alheios. Como tantas vezes fez no Sporting.
Aí está, uma vitória em Fergie time. E logo frente ao rival da cidade. Mais: os dois golos que são alma e obra de Amad Diallo (ganhou o penálti para o empate e marcou o 2-1) carimbam outra vitória para Amorim, que deixou fora da convocatória Rashford e Garnacho, aparentemente castigados por alguma falta de empenho que o treinador mostrou não tolerar. Começando o jogo com muito poucas opções de ataque no banco, Amorim arriscou. Mas não necessitou delas. Esta vitória, em casa da equipa mais poderosa da Premier League dos últimos anos, mais um Amorim contra Guardiola, vale muito mais do que três pontos para o treinador português, que vinha de duas derrotas seguidas na Premier League.
Tudo isto num jogo pálido, fraco, uma fresco bem real do momento das duas equipas. O City de Guardiola é, por estes dias, uma equipa irreconhecível, uma espécie de opção marca branca da equipa que moldou os parâmetros do futebol europeu na última década. Marcou à passagem da meia-hora, num canto, por Gvardiol, mas até então a bola era pertença do United, uma surpresa servida por Amorim, que aos 12’ perdeu Mount por lesão, mirrando ainda mais as já parcas opções que tinha disponíveis para mudar o jogo.
Se na 1.ª parte a insolência mancuniana deu algum sal ao jogo, na 2.ª o encontro baixou ainda mais de nível. A posse do United diluiu-se na pouca qualidade dos intervenientes e o City tão-pouco aproveitou para se distanciar. Diallo, quase sempre o homem contra o mundo, ainda que nem sempre da forma mais fria, esteve perto do golo de cabeça aos 62’ e aos 74’ o United mostrou novamente as unhas, com uma bela jogada que começa numa bola ganha por Mazraoui antes do meio campo e que Bruno Fernandes desperdiçou, isolado, após passe a rasgar de Hojlund.
E quando o jogo já caminhava morno, macilento para um final pouco glorioso para o United (e para o City só se salvava o resultado), Matheus Nunes errou duas vezes, primeiro no atraso para Ederson e depois a rasteirar Diallo na área quando o guarda-redes brasileiro já controlava o lance. Bruno Fernandes não falhou o penálti e o United acreditou. Dois minutos depois, Lisandro Martínez lançou uma bola redondinha lá de trás para Diallo, que com dois toques tirou Ederson do caminho e rematou para a baliza, mudando definitivamente o rumo do dérbi.
O City vai em oito derrotas em onze jogos, duas das quais frente a Ruben Amorim, com duas equipas diferentes. O treinador português esteve prestes a sair do Etihad com três derrotas seguidas no campeonato, com todo o peso mental às costas, e em dois minutos (e à primeira tentativa) conseguiu aquilo que Erik ten Hag não havia logrado: vencer no estádio do vizinho e principal rival. A estrelinha também terá precisado de visto de trabalho?