Neymar, já dizia o ditado que “O bom filho a casa torna” e há lá coisa mais bonita que isso? É sempre apaixonante testemunhar o regresso de alguém à casa de partida, seja no futebol ou em qualquer outro prisma do universo, mas para nós, amantes do desporto rei, são estes regressos que nos movem. A emoção, a ansiedade de ver o primeiro jogo, quase de sentir o que o próprio jogador vai sentir naquele momento, são sentimentos inigualáveis… Aliás lembro-me como se fosse hoje dos regressos de Rui Costa e Di Maria ao Benfica, do regresso de Cristiano ao Manchester United, do regresso de Quaresma ao Porto.

Foram todos marcantes para mim, todos com as suas próprias especificidades, propostas por cada um dos universos que representam, mas todas com um denominador comum, o regresso de um ídolo à casa onde já foi feliz. Realmente dizem também que não devemos voltar onde fomos felizes, mas será que esta frase tem assim tanta razão de ser? Quantas e quantas vezes é que assistimos a coisas deste género no futebol, na vida? É certo que pode nem sempre correr bem, mas se o coração diz para tentar, vamos ignorar o seu pedido? Não me parece correto fazê-lo, e seguir o coração é sempre umas das coisas mais sensatas a fazer.

Este artigo não é para falar dos vários regressos a casa que já existiram na esfera do futebol, mas sim de um em específico, da história de um menino muito pobre que foi criado na Vila Belmiro, e que brilhou com as cores do “peixe”. Neymar sempre foi o menino querido da torcida santista, cada toque na bola era a arte do samba mascarada em classe e finesse, numa mistura subtil de imprevisibilidade e rapidez deliciosa.

Cada jogo que passava era como se fosse um docinho para todos os amantes de futebol, cada jogo de Neymar era uma sessão de espetáculo garantido, era pagar bilhete para ver jogar o menino, era uma peça de teatro protagonizada na primeira pessoa por alguém que estava destinado a ser rei. O príncipe da nação santista saiu do peixe como um ídolo para toda a gente, e debaixo de grandes dúvidas de todos os especialistas na Europa porque, como eles diziam, o futebol brasileiro era muito aberto, o ritmo era mais lento, e por isso aquele menino franzino não iria ter grande hipótese para fintar e driblar com a mesma facilidade que tinha antes. Até podiam ter razão sim, no entanto estávamos a falar de Neymar, e não de outro qualquer. Digo isto sem medo nenhum, Neymar é um predestinado, e há muito que gera pequenas dúvidas na minha cabeça, porque sempre achei que Ronaldo tinha sido o melhor brasileiro que vi jogar, mas quando peso na balança, talvez Neymar tenha sido melhor e mais importante para o “escrete” que qualquer outro, e isso vê-se hoje em dia.

Sem Neymar, a seleção brasileira perdeu o norte, não sabe mais o que fazer, porque ele sim levava a equipa para a frente, não tinha medo nenhum, jogava sempre como estivesse na rua. Fez uma carreira muito boa, que não chegou a ser brilhante é verdade, faltou conquistar muita coisa e faltou essencialmente atingir todo o seu potencial. No entanto, estamos a falar de um jogador que foi muito castigado durante toda a sua vida futebolística, e talvez estas sucessivas lesões sejam consequência disso mesmo, por isso às vezes pergunto-me, o que seria um Neymar sem lesões? Seria certamente alguém que ia parar o mundo com a sua consistência, alguém que iria elevar ainda mais o nome do Brasil, como só um predestinado conseguiria fazer. Até hoje, é o jogador que mais gozo me deu ver jogar, porque o fazia com gosto, com diversão, com alegria no sorriso e nas pernas.

O “menino da Vila” está oficialmente de volta à Vila Belmiro, a pedido do Rei Pelé, que surgiu num emotivo vídeo criado pela inteligência artificial, para trazer Neymar de volta a casa. E Neymar voltou, não podia dizer que não ao Rei, e voltou para cumprir o seu destino e ser feliz, agora com a mítica camisa 10 do “peixe”, que Pelé eternizou, e que agora sai em campo nas costas de um príncipe. Diz-se que esta segunda passagem de Neymar pelo Santos pode ser uma “estratégia” do internacional brasileiro para recompor a sua carreira e estar de regresso à Europa, mas também em grande forma para o Mundial que aí vem.

Não sou brasileiro, não sou adepto do Santos, mas sou um grande adepto de futebol, por isso adorava que tudo isso acontecesse, para bem de todos nós. Neymar tem de estar bem, porque personifica o que é o futebol, e o seu nome faz falta entre os gigantes desta modalidade. A ti Neymar, digo-te que sinto saudades de te ver entrar em campo, a sorrir, a fintar, a driblar, a passar pelos teus adversários com a facilidade de quem bebe um copo de água, com a confiança de quem sabe que está acima dos outros, enfim com tudo aquilo que tu és. Espero bem que este regresso seja feliz, e que não seja como eles dizem que normalmente é. Para mim és um génio, para os brasileiros és um ídolo, para o futebol és eterno. Tenho a certeza de que, se jogasses no céu, iria lá acima só para te ver jogar, menino da vila!