
Sabem aqueles atletas que são tão bons que gostamos de dizer que deviam dar alguns golos ou pontos ou minutos de avanço à concorrência? Pois bem, na Volta à Suíça João Almeida levou a experiência à letra, saindo por cima de forma clara e inequívoca.
À 1.ª etapa, um erro de avaliação da UAE Emirates deixou o seu líder a mais de três minutos de um grupo de ciclistas com sérias pretensões à vitória numa das mais importantes corridas de uma semana do calendário. Gente como Kévin Vauquelin e Ben O’Connor viram-se, de repente, com muito tempo para gerir.
Mas João Almeida vestiu o fato de formiguinha. Foi ganhando tempo a cada tirada, fosse em ataques a 50 quilómetros da meta ou conseguindo, a ritmo, eliminar alguma da concorrência. Romain Gregoire, o primeiro camisola amarela, e Ben O’Connor foram os primeiros a ceder, perdidos nas elevações helvéticas, vendo Almeida pelo espelho retrovisor até serem ultrapassados sem contemplações pelo português que, na crono-escalada final, desferiu o último golpe, roubando a amarela a Kévin Vauquelin com uma exibição de autoridade na prova suíça, onde há um ano já tinha sido 2.º.
O objetivo de abocanhar os derradeiros 33 segundos que o separavam do topo da classificação parecia, desde a véspera, bem possível. Depois de ganhar ao francês ao sprint na penúltima etapa, a cara do português transpirava frescura e confiança, bem mais que a do rival. Na escalada entre Beckenried e Stockhutte, muitos portugueses acompanharam o caldense. Gritavam-lhe “acredita”. E ele acreditou sempre. Com João Almeida a fazer melhor que Félix Gall no ponto intermédio, restava esperar por Kévin Vauquelin, que aí já perdia mais de 20 segundos para Almeida. Mais da metade do trabalho estava feito.
No final, seria de 1,40 minutos a diferença, muito mais do que o necessário para João Almeida vencer a etapa (a terceira nesta edição) e pela primeira vez a Volta à Suíça, juntando-se, entre os portugueses, a Rui Costa, que ali ganhou três vezes a geral. Vauquelin (Arkea) ainda segurou o 2.º lugar, a 1,07m, com o jovem Oscar Onley (Picnic) a ser terceiro, a 1.58m.
“Foi um longo caminho até aqui, um pequeno erro custa muito. Estou muito feliz, fiz uma boa subida, estava a sentir-me muito bem”, comentou o português no final da etapa, reconhecendo que no início do contrarrelógio “começou um bocadinho rápido demais”.
“Andei demasiado no início e no final não tinha muito combustível para puxar no último quilómetro. Mas não foi necessário”, explicou ainda, sublinhando o papel importante da equipa na recuperação e a lição que fica desta prova: “Nunca desistir. Às vezes as coisas correm mal e é preciso continuar a tentar. Sempre acreditámos na equipa e no final conseguimos”.
A duas semanas da Volta a França, onde será o principal tenente de Tadej Pogacar, João Almeida solidifica um 2025 que tem sido a sua melhor época em matéria de resultados, juntando a Volta à Suíça à Volta à Romandia e à Volta ao País Basco. Todas fazem parte das sete principais voltas de uma semana do World Tour. Mas também há uma evolução clara na forma de correr, juntando à sua já reconhecida capacidade de sofrimento, de voltar a jogo depois de tudo parecer perdido (as famosas Almeidadas), uma fome de ataque nunca antes vista - e 2025 ainda só vai a meio.