No 25 de Julho de há 25 anos, Luís Figo chegou ao Real Madrid, uma data marcante na sua vida que, certamente, nunca esquecerá. Nesse dia o Luís teve a amabilidade de me convidar para almoçar e desse encontro recordo a sua calma e serenidade sem a exuberância e excitação que seria normal esperar de um jogador a poucas horas de entrar no melhor clube do mundo, mas também sem mostrar estar em estado de choque por tudo o que teve de viver nos complicados dias anteriores em que, de forma inesperada, se viu na dramática situação de ter de decidir entre continuar no Barcelona ou trocá-lo pelo grande rival madrileno.

Ao mesmo tempo que comíamos, Florentino Pérez entregava na sede de La Liga o cheque de 10 mil milhões de pesetas (uns 60 milhões de euros) para pagamento da cláusula de rescisão que figurava no contrato de Figo com o Barça, nunca antes se tinha pago tanto por um jogador.

À tarde, numa austera cerimónia na sala de taças do Bernabéu, Florentino Pérez e Alfredo Di Stéfano faziam a apresentação de Luís Figo como novo jogador do Real Madrid, ponto final a um dos mais rocambolescos episódios da história do futebol e início da famosa época dos galácticos.

Passado este quarto de século não é de mais fazer uma reflexão sobre as consequências desta troca de camisolas feita por Figo. Foi ele, como cabeça de cartaz, quem levou Florentino Pérez à presidência. O outro candidato, Lorenzo Sanz, resolveu antecipar as eleições pensando que a recente conquista da Liga dos Campeões seria argumento suficiente para ser reeleito, mas os sócios deram mais valor a Figo que ao título europeu e outorgaram a vitória ao opositor.

A chegada de Florentino significou a transformação radical das estruturas do clube a todos os níveis, é difícil imaginar que qualquer outro, no seu lugar, tivesse sido capaz de imitar sequer, o enorme trabalho por ele feito a favor do Real Madrid, que hoje pouco tem a ver com o que ele herdou.

E Figo, que teria sido dele se tivesse continuado no Barcelona? No aspeto estritamente desportivo, a mudança não o prejudicou, estava na plenitude de uma carreira que, fosse onde fosse, poderia prosseguir com o mesmo brilhantismo. Mas estava a vertente sentimental, na altura ele era o grande ídolo dos adeptos do Barça, para os quais a sua saída constituiu um enorme desengano, nunca pensaram que tal pudesse acontecer e daí a sua reação não de todo pacífica, mas, de certo modo, compreensível.

Socialmente, Figo gozava em Barcelona de um considerável prestígio, admiração e respeito, virtudes que tinha sabido conquistar e que bem o podiam levar a desempenhar uma posição de relevo dentro da sociedade catalã. Atrevo-me a vaticinar que, a ter continuado até ao fim no Barcelona, Figo poderia ter ficado para sempre como uma figura mítica, semelhante à que Johan Cruyff ainda hoje representa para o clube.

Mas na vida há que tomar decisões, ele tomou a que achou que era a melhor para ele e a sua família e com isso muitas coisas mudaram: tiveram que adaptar-se à nova situação, mas o mais importante é que estão bem onde estão, são felizes como merecem, e oxalá em 2050 a família Figo possa festejar o meio século de vida madrilena, embora duvide que, nessa altura, o Luís me possa voltar a convidar para almoçar.