
Guilherme Magalhães é preparador-físico no Madureira e escreve para o Bola na Rede sobre a onda de lesões cada vez mais frequente no mundo do futebol nacional e internacional.
Esta recente onda de lesões deve-se ao elevado número de jogos a que os jogadores são sujeitos. O trabalho complementar de ginásio, a recuperação, a nutrição e a vertente psicológica são ferramentas muito importantes para que o jogador consiga suportar as cargas elevadas a que está sujeito. As questões genéticas ou a idade também são fatores fundamentais para que se consiga sustentar tamanhas demandas de trabalho. Observemos o caso do St. Juste, do Sporting, que, nos últimos 12 jogos, apenas jogou três e em cinco não foi convocado devido a lesão. Neste caso, como se trata de algo tão recorrente, alguma questão genética pode estar a prejudicar a performance desportiva. Não acredito que o caráter do jogador, assim como a qualidade dos departamentos médico e performance do Sporting, devam ser colocados em causa.
A tecnologia, a base científica, a partilha entre profissionais da área e a constante procura de novas ideias têm sido uma preciosa ajuda para que os preparadores físicos e os departamentos de performance consigam controlar as cargas e serem mais exímios na avaliação dos jogadores, tendo uma visão personalizada e avaliando cada atleta como um caso único, e não de forma geral.
É como se os preparadores físicos estivessem a puxar a corda para um lado e a quantidade de jogos a puxar para o lado oposto. Ainda temos um longo caminho a percorrer para que seja possível colocar os jogadores a suportar fisicamente tantos jogos. Acredito mais que o nível do jogo possa baixar, devido ao cansaço dos jogadores.
Felizmente, até agora, nunca tive mais do que um jogador ao mesmo tempo no departamento médico com lesões musculares. Durante o meu percurso, sempre tentei ser o mais exigente possível comigo próprio, tal como com os que trabalhavam comigo. O mérito não é só do preparador físico, da mesma forma que, quando existem várias lesões, a culpa não é exclusiva dele, mas exigir o máximo dos meus colegas de trabalho é fulcral para nos mantermos sempre num nível o mais alto possível.

Para se ter sucesso nestas circunstâncias, o comprometimento do jogador com a causa é muito importante. Ser jogador profissional não é trabalhar apenas aquela hora ou jogar os 90 minutos. Tal como referi, o trabalho complementar, o que não é visto, é o mais importante num profissional. Se não houver este trabalho, juntamente com a ajuda de profissionais de elite, que regulam as cargas e fazem descansar jogadores, as lesões podem começar a aparecer e, por vezes, pode começar a haver desconfiança nas capacidades do grupo de trabalho, especialmente, da equipa técnica. Psicologicamente, o jogador pode alterar os seus comportamentos, fazendo surgir divergências entre colegas, por um ou outro poder estar um pouco mais sensível. Tudo somado, pode levar à existência de mais problemas para o treinador principal.
Como conclusão, considero que esta onda de lesões de atletas como Di Maria, Bah, Daniel Bragança, entre muitos outros, deve-se ao facto do número de jogos ter aumentado, fazendo com que os jogadores não tenham tempo para a recuperação total. Como muitos deles, são importantes para as respetivas equipas, entende-se que o treinador principal os queira colocar mais vezes e mais tempo, levando-os ao limite. São decisões difíceis de tomar: ou temos os melhores em campo, aqueles que podem decidir jogos, ou não temos e, consequentemente, existe menor qualidade de jogo.
Em suma, o fundamental para o trabalho dos preparadores físicos e dos fisiologistas passa pela necessidade de criar um canal direto de contacto com o treinador principal, para que se possam ajustar, de forma significativa, as cargas de cada jogador no treino, de modo a permitir uma melhor utilização em contexto competitivo.