
Tal como tudo na história, o futebol é cíclico. O que, ou quem, foi grande, será pequeno um dia e o que, ou quem, outrora, foi pequeno, poderá ser grande um dia, daqui a mais ou menos tempo. A magia do futebol é mesmo esta, senão, qual seria o interesse de serem sempre os mesmos a vencer? Precisamente, nenhum interesse existiria, pois, independentemente do que queiramos ou acreditemos, o futebol será sempre mais emoção do que razão.
A Grécia é uma das provas vivas mais facilmente reconhecíveis da rotatividade histórica. Cinco presenças em seis fases finais possíveis, desde a conquista do Euro 2004 até ao Mundial do Brasil, em 2014. Desde então, não mais marcou presença em qualquer fase final de um campeonato, em quatro oportunidades.
Já com a derradeira cabeçada de Angelos Charisteas após canto de Angelos Basinas, felizmente, longe dos nossos horizontes e com Georgios Karagounis e Kostas Katsouranis apenas na memória dos adeptos benfiquistas, tal como, mais recentemente, Andreas Samarias e Kostas Mitrogolou, a Grécia tentará potenciar esta nova geração ao máximo para, quiçá, voltar à ribalta.
Sem sonhos, a vida não só não tem como também não faz sentido e esta Grécia comandada, à data, pelo germânico de 66 anos Otto Rehhagel, promete sonhar em juntar um campeonato do mundo às epopeias de Homero e Hesíodo. Tal como a maioria das seleções na Europa, a Grécia ainda nem começou a sua fase de qualificação, mas o grupo é algo animador, não só pela presença da algo impotente Bielorrússia, mas também pela presença da Escócia, que apesar de traiçoeira, traz boas recordações recentes, após tê-la eliminada num agregado de 3-1 para consagrar a promoção à Liga A da Liga das Nações.
Há, literalmente, soluções de altíssima qualidade para qualquer zona do terreno, não só, mas também, potenciados pela marca Olympiacos, que vem de conquistas como a Youth League e a Conference League.
Na baliza, Konstantinos Tzolakis, guardião do Olympiacos, apesar da especificidade da posição e da eliminatória algo precoce na Liga Europa, está a espreitar uma transferência para um clube de uma das cinco principais ligas.
Na defesa, conjugam-se duas gerações com dois defesas centrais muito robustos. Konstantinos Mavropanos, mais velho e consagrado, com Konstantinos Koulierakis, apenas com 21 anos e a crescer indubitavelmente na Bundesliga, no Wolfsburgo, fazendo até lembrar a dupla da década anterior entre Sokratis Papastathopoulos e Kostas Manolas. Do lado esquerdo, Kostas Tsimikas, esteja ou não no Liverpool, é garantia de regularidade e experiência ao mais alto nível, até para conjugar com Georgios Vagiannidis, do lado direito, mais jovem e, certamente, com uma transferência à espreita (fala-se de Sporting).
Do meio-campo para a frente, há talento infinito, imensa criatividade e técnica. Para a dupla de médios, talvez nem sejam os mais correspondentes, mas, Christos Mouzakitis – um dos presentes na conquista do Olympiacos na Youth League do ano passado – e Christos Zafeiris, médio técnico, que podia ter escolhido a Noruega, cujas seleções jovens representou.

Dores de cabeça das boas terá o sérvio Ivan Jovanovic, ou quem estiver no leme, para escolher entre Christos Tzolis, Konstantinos Karetsas, Giannis Konstantelias, Vangelis Pavlidis, Charalampos Kostoulas e, ainda, com Stavros Pnevmonidis e Antonis Papakanellos a aparecer – tendo estes três últimos também feito parte da equipa que conquistou a Youth League.
Provavelmente, e admitindo que não existirão lesões, Tzolis é certeza pela facilidade com que ocupa qualquer posição de ataque e com que marca golos, podendo, dependendo da estratégia, ter que subir Zafeiris e incorporar um “destruidor” de jogo mais atrás. Na frente, à partida, Pavlidis parte na frente, mas há Fotis Ioannidis e Anastasios Douvikas para competir, como noves mais tradicionais, podendo Kostoulas fazer essa função ou a de segundo avançado.

Karetsas, médio canhoto, ofensivo ou a partir da faixa direito, podia ter escolhido representar a Bélgica onde, desde logo, representou desde idade jovem. Não o fez. Optou pela Grécia, obteve a sua primeira convocatória e já deixou marca, na sua primeira estreia a titular, tornando-se o mais jovem de sempre a apontar um golo pela sua seleção, antes de fazer 18 anos.
Com tanto talento, nem sabemos quais veteranos tradicionais poderão incorporar as próximas convocatórias. É escolher entre Dimitris Pelkas (que passou pelo Vitória FC), Petros Mantalos, Kostas Fortounis, Tasos Bakasetas, etc.
Há outros conhecidos nomes do futebol português como Sotiris Alexandropoulos (última convocatória em novembro de 2023), Marious Vrousai (última convocatória em novembro de 2021), Andreas Ndoj (última convocatória em setembro de 2024) ou até mesmo Theofanis Bakoulas, que, mantendo rendimento, podem aparecer também numa lista futura.

Vencendo ou não vencendo, resta sonhar aos deuses do Olimpo.