Aos 23' do Benfica-Sporting, Cláudia Neto apareceu na área. A veterana cruzou para Telma Encarnação, na tentativa de oferecer o golo à madeirense, intenção que foi travada por uma boa saída de Lena Pauels. A bola sobrou para Diana Silva, que rematou para defesa da guarda-redes do Benfica.

Naquele instante, parecia que o estado natural deste dérbi era o ataque seguido de contra-ataque, o bola-cá-bola-lá, a oportunidade seguida de oportunidade. Em pouco mais de 20 minutos, houve dois golos, uma bola na barra, um penálti, diversas ocasiões de perigo. Nem se pode dizer que os espectadores estivessem sempre a levantar-se das cadeiras porque, provavelmente, nem se chegavam a sentar.

Como um corredor de fundo que imprime um ritmo muito intenso muito cedo, o embate foi travando, foi perdendo velocidade. Ganhou contornos diferentes, menos ofensivos, mais tensos, provavelmente menos espetaculares, seguramente mais estáveis.

Mas comecemos pelo início. Nem 5 minutos haviam decorrido e já a inteligência de Cláudia Neto roubara a bola a Catarina Amado, que, depois, derrubaria a centrocampista. Penálti de Maiara Niehues e 1-0.

O Benfica respondeu com contundência. No ataque, a equipa de Patão tem Cristina Martín-Prieto, uma ponta-de-lança que só pelo olhar mostra ser obcecada com o golo. Teve dois lances para empatar, antes de Maiara ter, ela própria, uma chance para o 2-0.

O 1-1 veio mesmo pela espanhola que veio para Portugal para marcar. Martín-Prieto chegou aos 17 golos em 23 partidas na época na sequência de um canto. Estávamos apenas no minuto 17, mas, a nível de incidências, parecia já irmos no 71.

O Sporting, no primeiro dérbi com Micael Sequeira no banco, sofria muito com as bolas longas das águias. Aos 20', numa desses lances, Andreia Faria atirou à barra, antes de dar para Lúcia Alves, que atirou para fora. Este último remate foi aos 29' e, de certa maneira, marcou o fim da fase caótica do dérbi.

Depois do frenesim do primeiro terço do encontro, após os 30' iniciais em que o jogo decorreu sem amarras nem paragens — como se, ao passar o meio-campo, o relvado se tornasse num escorrega que levava fatalmente até às áreas —, a partida acalmou. O embate permitiu-se respirar, obter fôlego, medir possibilidades e rotas. O intervalo chegou com esta sensação de calma depois da tormenta.

O recomeço trouxe um dérbi diferente. Com menos balizas e mais cálculos, com mais tensão e menos ataque livre e solto. As 19.894 pessoas que foram ao Estádio da Luz demoraram alguns minutos para presenciar perigo, que chegou do lado visitante. Aos 60', Maiara Niehues, autora de uma bela exibição, disparou de longe para boa defesa de Lena Pauels. Na sequência do canto, Andreia Bravo colocou a bola na cabeça de Telma Encarnação, mas a primeira futebolista portuguesa de sempre a marcar num Mundial atirou por cima.

O Benfica teve mais iniciativa e mais bola na segunda parte, mas sofreu para criar perigo. Talvez a gerir a vantagem pontual ou, simplesmente, sem capacidade para chegar à frente com criatividade, a equipa da casa não criou nenhuma verdadeira situação de golo depois do descanso.

O Sporting também não se expôs muito. Os bancos foram, de lado a lado, mexendo, e foi depois de Micael Sequeira lançar o futebol de gazela de Brittany Raphino que veio a maior oportunidade da etapa complementar. A atacante superou Carole Costa em velocidade e potência, mas, quando só tinha Pauels pela frente, atirou sem direção.

A falta de pontaria de Brittany Raphino despediria o perigo no dérbi. Depois do triunfo do Sporting na Supertaça e da vitória do Benfica na primeira volta, um 1-1. Faltam sete jornadas para o fim e as águias seguem com mais três pontos que o adversário da cidade na luta pelo título que, caso seja do Benfica, será o quinto seguido.