
Nicolò Fagioli, investigado pelo Ministério Público italiano por alegadamente liderar uma rede de apostas ilegais, revelou ter sido ameaçado com graves consequências caso não pagasse as suas dívidas. O médio da Fiorentina contraiu empréstimos que totalizaram 1,5 milhões de euros, com juros de 7%, e aliciava jogadores com relógios de luxo.
O jogador, que escapou a sete dos 12 meses de suspensão que lhe foram impostos após ser apanhado a apostar em jogos de futebol enquanto estava na Juventus, revelou, durante os interrogatórios, que lhe foi dito que, se não devolvesse o dinheiro, seria forçado a abandonar o futebol. Definitivamente!
«Vou fazer com que te reformes. Vou obrigar-te a trabalhar como pedreiro! Vou fazer-te assinar os "contratos" com a tua própria mão.» Assim soavam as ameaças dirigidas a Fagioli, publicadas pelo Corriere della Sera, e que alegadamente pertenceriam a Nelly, uma figura misteriosa que usava um cartão de telemóvel em nome de um cidadão suíço.
«Ele percebeu que se tinha metido numa grande alhada!»
«Parece que ninguém sabe o nome dele. Estas ameaças confirmam o que transparece das declarações anteriores de Nicolo e a coragem com que pediu empréstimos a amigos e colegas de equipa. Ele estava sob muita pressão. Tinha-se apercebido que se tinha metido num negócio demasiado perigoso e numa grande alhada», escreve o jornal.
«Achas que me podes enganar?», disse Nelly. Fagioli tentou então explicar, justificar-se e acalmá-lo: «Cometi um erro maior do que o meu salário anual... Pedi ajuda a colegas para te devolver o dinheiro.»
A dívida do jogador é estimada pelo Corriere della Sera em 1,5 milhões de euros. O suficiente para lhe destruir a vida e a carreira no futebol, para o atirar para um enorme buraco negro. Nas mensagens gravadas, Fagioli reagiu, por vezes, de forma agressiva (em abril de 2023): «Agora vamos ver quem é o pior? Vou dar cabo deles.»
Mas mais tarde, Fagioli mudou de tom e explicou ao seu amigo Marco (para os investigadores, o filho do ex-futebolista Bruno Giordano): «Com esta gente não se brinca, até o envolvimento de outros tipos é problemático.»
O médio italiano entrou em espiral, porque os valores a reembolsar eram cada vez maiores. Fagioli confessou ter recorrido às pessoas erradas, mas, em vez de se livrar das dívidas, apenas provocou o aumento dos valores: «Tinha de pagar mais 7% por mês. Isso significa 140 mil euros.»
Como funcionava o sistema de "empréstimos" idealizado por Fagioli
Mas como é que o internacional italiano chegou a dever um milhão e meio de euros? A partir de setembro de 2022, Fagioli propôs negócios fantasiosos. Atraía os "clientes" com relógios Rolex, que seriam comprados a baixo preço e revendidos rapidamente por um preço mais elevado.
O extrato das apostas de Fagioli na NBA, tendo perdido milhares de euros em algumas horas
«Por vezes, mencionava o nome de Álvaro Morata, o seu antigo colega de equipa na Juventus, explicando que era o espanhol que arranjava os relógios. Os cartões indicam pagamentos à joalharia Elysium em nome de Nicolò por 31 pessoas diferentes, confirmando que vários jogadores aceitaram o "negócio".
Alguns não receberam o dinheiro de volta a tempo, por isso pediram satisfações a Nicolò. E revoltaram-se, como demonstram as mensagens, os pedidos e as pressões cada vez mais fortes sobre ele. Fagioli prometia, desde então, que tentava livrar-se deste pesadelo: «Quero acabar com tudo isto. Para sempre. E poder andar na rua descansado, tornar-me um verdadeiro futebolista», pode ler-se nas transcrições publicadas hoje.
Muitos deixaram-se convencer quando ouviram falar de Morata
Fagioli emprestou um total de 587 mil euros a 31 pessoas, que aceitaram dar-lhe as quantias sem pedir explicações. «Por vezes, mencionava o nome de Morata. Apesar de ganhar 125 mil euros por mês, foi forçado a pedir dinheiro em todo o lado para se livrar das dívidas», escreve a Gazzetta dello Sport.
No entanto, teve problemas com um antigo colega da Cremonese, Caleb Okoli, que chegou à antecâmara da seleção nacional: «Vais pedir dinheiro a toda a gente e depois acabas a dever a todos. És um grande idiota!»
Os jornais italianos também revelaram que Fagioli usava várias estratégias para atrair as suas vítimas. Como enganou Nicolò Armini, antigo colega da seleção sub-21? «Um colega meu tem de receber 40 mil euros de prémio e quer comprar um Rolex. Como não lhe aceitam dinheiro, perguntou no balneário se alguém queria pagar-lhe o relógio, em troca de um bónus por este favor.»
A mesma proposta foi feita a Gabriele Boloca e a Cristian Volpatto: «Já o fiz com Turati e com Raffaele Russo. Ganharam muito dinheiro sem fazer nada, apenas se fez a transferência para o Rolex.»
Para impressionar os clientes, Fagioli teve o cuidado de exibir, por vezes, o nome de Morata. «Consigo Rolex a preços muito mais baixos através do Morata e depois ele vende-os para mim.»
Temos este negócio há um ano. Mas como já atingi um limite, já não consigo fazê-lo sozinho. Em dois ou três meses, recebemos o nosso dinheiro de volta. «Fagioli tinha uma relação próxima com Morata na Juventus, mas o avançado, agora no Galatasaray, não aparece entre os que apostavam ou jogavam.»
«O Nico fez algumas asneiras e agora quer redimir-se»
O maior problema para Fagioli era devolver os empréstimos. As mensagens encontradas pelos procuradores no seu telemóvel demonstram-no. Por exemplo, Alessandro Russo pede-lhe que pague: «Daqui a pouco tempo faz um ano». Okoli foi mais duro: «Estou à espera há meses, deixaste-me furioso. Vieste dizer-me que o teu pai precisava de dinheiro e eu dei-to na hora.»
A forma como geria a situação era sempre a mesma. Nicolò ganhava tempo, inventando todo o tipo de desculpas. «Juntamente com Marco Sartori de Piacenza, foi ao ponto de pedir a Tommaso De Giacomo (o principal suspeito) para intervir.»
E De Giacomo fê-lo, enviando a mensagem: «Olá Marco, sou amigo do Nicolò. A solução pode ser encontrada, mas temos de ser compreensivos. Porque o Nico fez algumas asneiras e quer redimir-se.» Por enquanto, não é claro nos documentos que chegaram às mãos dos investigadores quem recebeu o seu dinheiro de volta de Fagioli e quem não recebeu.