Nove golos no total, dois deles portugueses e a passagem às meias-finais da UEFA Europa League para o Manchester United. Ruben Amorim e Paulo Fonseca foram os comandantes das peças que, no relvado de Old Trafford, protagonizaram um dos jogos do ano, que culminou com a vitória dos red devils frente ao Lyon por... 5-4!

E antes de começar a falar deste jogo, caro leitor, permita-me que reforce. Foi, mesmo, um dos jogos do ano. E para lhe fazer justiça, as palavras podem não ser suficientes, sobretudo para contar aquilo que aconteceu nos últimos 30 dos 120 minutos. Lá chegaremos.

Foi mesmo o Manchester United que, potenciado pelo ambiente de Old Trafford, começou melhor. Muito melhor. Pressionou, criou, fez combinações. Logo aos 11 minutos, Ugarte finalizava com acerto depois de jogada inteligente de Garnacho do lado direito da área. Os 20 minutos iniciais do Man. United cedo levaram a que a equipa da casa perdesse gás e que os visitantes crescessem, obrigando Onana a duas defesas apertadas. Antes do intervalo, porém, mais um balão de oxigénio: Bruno Fernandes acertou na trave mas, minutos depois, Diogo Dalot recebeu de Maguire, fez o 2-0 e colocou bandeira portuguesa na lista de goleadores.

Até parecia mentira: o Manchester United estava... organizado! Calmo, frio, com algumas oportunidades e sem tremer nos momentos em que o Lyon ameaçava, sobretudo por Cherki, sempre inconformado e quase incontrolável, mas Yoro lá ia dominando o adversário. E a segunda parte não começou de maneira diferente, a não ser no acerto que Garnacho não teve. Mas cedo se perderia tudo isso. Porque até é possível fazer um certo paralelo entre os red devils dos tempos modernos e algumas leis do Universo: mesmo que nem para todas as ações haja uma reação, pelo menos o caminho para a entropia é sempre seguido. Do outro lado, ajudava a isso que estivesse uma equipa sólida, compacta e bem trabalhada, como é este Lyon de Paulo Fonseca. E ainda havia Malick Fofana a saltar do banco.

A reação não tardaria: foi da cabeça de Tolisso que os franceses reduziram, num lance que, remontando às leis da física, os defesas em nada deveram à inércia, ao permitir uma e outra antecipação de cabeça na área. E seis minutos depois, perante o caos causado pelo primeiro, eis que surgiu o segundo dos pés de Tagliafico, após jogada começada por Fofana. Neste momento, o Manchester United estava completamente encostado às cordas e sem capacidade de reação, dada a pressão e competência do Lyon. Só que... um balde de água fria havia de chegar antes dos 90': Tolisso viu o segundo amarelo. Os visitantes estavam reduzidos a 10 para o prolongamento e teriam de aguentar 30 minutos com menos um. Vantagem clara para o Manchester United. Só que... é o Manchester United.

Prolongamento que mais pareceu um jogo inteiro

Os 30 minutos adicionais tiveram mais ação, drama e casos que muitos jogos têm nos 90 regulamentares. A bola estava do lado do Man. United, figurativa e literalmente, e, com esta pressão, o golo parecia estar mais perto da baliza de Perri. Aproveitando a procura pela vantagem, o Lyon soube esperar e, num contra-ataque fulminante, Cherki foi finalmente recompensado com o golo, um remate cruzado espetacular que não deu hipótese a Onana. A segunda parte vinha aí, o Man. United procurava carregar e, novamente no contra-golpe, eis que Fofana foi derrubado por Luke Shaw na área e Lacazette fez o 2-4. O caos era lei neste United e, com mais um, a equipa sofreu dois golos que a deixavam fora da prova. Eis que entrou... o herói improvável.

Bem-vindo de volta, Casemiro!

Voltemos à ideia principal: o caos é rei neste Man. United. Só que, por vezes, essa base pode... ser boa. Porque se, por um lado, não é expectável que, com mais um, em casa, a equipa sofra dois golos, também não se esperava que, com 11 minutos, a equipa desse a volta para chegar às meias-finais. E entra em palco... Casemiro. Na verdade, já estava em palco desde o primeiro minuto, mas voltou a fazer o que há muito não fazia: foi decisivo. Poucos minutos depois de sofrer o 2-4, o médio apareceu na área e ganhou o penálti com que Bruno Fernandes diminuiu a desvantagem. Old Trafford explodiu, o português deu no brasileiro e o ex-Real Madrid deixou para Mainoo fazer, aos 120', o 4-4. O minuto final aproximava-se e Casemiro não tinha acabado. Nem Maguire. Um cruzamento do brasileiro foi bem encaixado pelo inglês, com a bola a entrar na malha lateral e a loucura a tomar conta do relvado, das bancadas e do banco, onde Amorim celebrou agarrado a... Onana, agora de novo figura pela positiva, de tantas boas intervenções durante a noite.

Depois de quatro golos sofridos, o United marcou 3 em oito minutos para passar de 2-4 a 5-4. Aliás: passou de 2-0, para 2-2, para sofrer mais dois com mais um em campo. E depois, Casemiro voltou a ser protagonista, assistiu dois, Maguire foi herói e, contra toda a lógica, o Manchester United chegou às meias-finais da UEFA Europa League. Agora pergunto-lhe, caro leitor: mesmo que nada disto faça sentido, não é espetacular?!