O Boavista Futebol Clube mostrou-se hoje focado no sucesso do Processo Especial de Revitalização (PER) da SAD axadrezada, da I Liga, após ver a sua tentativa de impugnação rejeitada pelo Tribunal de Comércio de Vila Nova de Gaia.

"O clube está, como sempre esteve, pronto para colaborar com a SAD na aprovação do PER, fazendo votos de que o mesmo seja bem sucedido, já que é parte interessada na dupla qualidade de acionista e credor. A direção, na exclusiva defesa dos interesses do clube, entende apenas que existem factos constantes nesse plano de recuperação que necessitam de ser retificados", dizem as 'panteras', numa nota enviada à agência Lusa.

De acordo com o portal Citius, que tem informação sobre o sistema judicial português, o tribunal não deu provimento na segunda-feira ao recurso interposto pelo clube presidido por Rui Garrido Pereira, que contestava a extemporaneidade do depósito em tribunal do plano de pagamentos para votação dos credores, tal como a inexequibilidade do mesmo.

"O clube foi notificado do plano de recuperação da SAD, no âmbito do PER que está em curso, sem prejuízo de não ter tido conhecimento antecipado do mesmo, algo que se lamenta. Em nenhum momento foi o dito plano impugnado por parte do clube", ripostou.

O tribunal considerou que o recurso do clube era "manifestamente extemporâneo, caso fosse legalmente admissível", num documento em que também se pronunciou contra as contestações apresentadas pelo fundo EOS e pela sociedade BTL, ambos sediados na República da Irlanda e englobados na tabela provisória de credores da SAD do Boavista.

Sobre os recursos submetidos em abril pelo clube portuense, o EOS e a BTL, o tribunal disse que "são inadmissíveis, uma vez que a decisão impugnada não constitui a decisão final do processo, nem se inclui nas decisões interlocutórias autonomamente recorríveis".

A SAD do Boavista, comandada pelo antigo futebolista senegalês Fary Faye, entregou o plano de pagamentos em 29 de abril, após ter sido impedida na véspera, devido ao corte generalizado no abastecimento elétrico em Portugal continental, mas o clube alega que o prazo já estava ultrapassado e o depósito deveria ter acontecido em 24 de abril, primeiro dia posterior ao fecho das negociações, num pedido avaliado como inválido pelo tribunal.

Na contestação, à qual a agência Lusa teve acesso, o clube, detentor de 10% do capital social da SAD do Boavista, denunciou que "não foi chamado em momento algum para participar nas negociações tendentes à elaboração do plano", cuja seriedade questionou.

"O mesmo prevê medidas que não podem ser concretizadas, porquanto a devedora não detém a disponibilidade de bens corpóreos e incorpóreos que são propriedade do credor Boavista e, mais gravemente, nem sequer pretende pagar pela sua utilização", assumiu, convicto de que as disposições sobre as garantias a terceiros não poderiam ser aceites.

Em novembro de 2024, o tribunal viabilizou o pedido de PER por parte da Boavista SAD, que possibilita às empresas em situação económica difícil ou em insolvência iminente negociarem acordos com os credores para o cumprimento pontual das suas obrigações.

O PER tem seguido os trâmites legais previstos, com a administração de Fary a advertir no passado que, se tal não fosse aprovado, "a única alternativa seria a apresentação de um pedido de insolvência, que culminaria na inevitável liquidação da SAD, frustrando, assim, as legítimas expectativas de todos e a recuperação dos créditos por parte dos credores".

A lista provisória reparte por 239 credores quase 166 milhões de euros (ME) de verbas reclamadas e reconhecidas, entre as quais 35,1 ME à Autoridade Tributária e 4,2 ME à Segurança Social, havendo também 4,8 ME de dívidas requeridas pelo clube, mas não comprovadas junto do administrador judicial nomeado pelo tribunal, Inácio Ramos Peres.

"Tendo o clube sido notificado do indeferimento relativo ao reconhecimento dos créditos junto da nossa participada Boavista SAD, apresentou recurso dessa decisão, tal como outros credores, não tendo para já tido provimento do mesmo", terminou o emblema de Garrido Pereira, desejando a manutenção do 16.º e antepenúltimo classificado da I Liga.