A conquista da Taça Libertadores de futebol pelo Botafogo, cuja final é um jogo que "marca para a vida", pesa mais na 'balança' de Artur Jorge, admitiu esta qua o treinador em entrevista à agência Lusa.

Sob orientação do técnico português, o clube do Rio de Janeiro conquistou este ano o campeonato brasileiro 29 anos depois - apenas o terceiro da sua história -  e a 'Libertadores', que nunca tinha ganho, numa final com o Atlético Mineiro (3-1), em que jogou desde os primeiros instantes com menos um elemento pela expulsão do médio defensivo Gregore.

"É difícil escolher, um [título] é a regularidade [o campeonato], o outro é histórico. Mas, até pelo jogo que foi, se eu tiver mesmo que escolher um, escolho a 'Libertadores' por ser um troféu inédito no clube e internacional. Tem um valor diferente, especial. Conseguimos acrescentar um novo título a um clube centenário, que tem uma história riquíssima e uma trajetória de grande valor no futebol brasileiro", disse Artur Jorge em entrevista à Lusa.

Lembrar essa partida "épica" de 30 de novembro, disputada no 'Monumental', em Buenos Aires, na Argentina, é despertar muitas emoções.

"Tenho ainda muita dificuldade em falar sobre esse jogo, porque emocionalmente é um jogo que mexe muito comigo. É um jogo que me deixou marcas para a vida, seguramente. Aquele foi o jogo das nossas vidas. Conquistar o troféu perante todas aquelas circunstâncias que poderiam ser adversas faz com que esta final tenha um sabor muito especial", reforçou.

Aos 40 segundos de jogo, Gregore atingiu um adversário e foi expulso, obrigando o Botafogo a jogar com menos uma unidade mais de 90 minutos, período de descontos incluídos.

"Isso fez com que tivéssemos que ter alguma serenidade, cabeça fria, tomar as melhores decisões e acalmar a equipa", lembra.

Artur Jorge decide então não mexer na equipa, fazendo apenas "alguns reajustes para que a equipa se aguentasse naqueles momentos imediatos", tendo concluído que "a equipa era capaz de dar resposta da forma como estava, não perdendo nunca a objetividade de poder ganhar".

"Eu sei que poderia ter tirado um homem da frente, jogámos com quatro homens mais atacantes, e poderia ter sido a solução naquele momento. Mas, quisemos dar continuidade àquilo que tem sido um lema nosso e demonstrámos essa coragem ao manter a mesma equipa, com os ajustes necessários e um grande compromisso de todos eles naquilo que era o sentido de missão", detalha.

Depois, elogiou, foram os jogadores que não se deixaram abalar por essa circunstância, unindo-se "mais do que nunca", e fazendo "um jogo tremendo e de grande superação: tenho que dizer muito obrigado aos jogadores pela forma como se comportaram".

Sobre a conquista do campeonato, destacou a vitória por 3-1 no terreno do Palmeiras, "um competidor extremo" que obrigou o Botafogo a estar "sempre no limite", na antepenúltima jornada e após três empates consecutivos que colocaram mesmo a turma de Abel Ferreira na liderança, como "um momento chave".

"O 'Brasileirão', pela regularidade que implica e pela competitividade que o campeonato tem, é um título também que me deixa muito satisfeito", frisa.

Antes desse jogo com o Palmeiras, ao contrário do habitual, Artur Jorge sentiu necessidade de falar aos jornalistas por causa desses "três resultados negativos" que fizeram regressar o 'fantasma' da época passada em que o Botafogo desperdiçou, na reta final, uma vantagem de 14 pontos para o 'Verdão', no sentido de garantir que "a equipa ia lutar até ao fim" e não se ia "encolher" no reduto do rival.

"Naquele momento, poucos acreditaram que não fosse, uma vez mais, o momento em que a equipa quebrasse", recorda.

Num "terreno adverso", o Botafogo fez "um jogo brilhante, um jogo de grande nível", mostrando "grande personalidade, coragem e, no que mais duvidavam da equipa, uma grande saúde mental: visto agora 'a posteriori', digo que [esse ciclo negativo] foi bom para nós porque não havia excesso de confiança, nem íamos para defender nada, tínhamos que ir atrás da vitória e fomos. Marcámos uma posição de uma forma fortíssima para o final do campeonato.".

Artur Jorge admite que, quando chegou ao Brasil, no início de abril deste ano, nunca imaginou conseguir estes feitos.

"Quando decidi apostar neste projeto, ia carregado de ambição e determinado em poder fazer história no clube, mas confesso que não imaginaria a dimensão daquilo que foi conseguido. O que conseguimos, fazendo um balanço, superou todas as expectativas que eu tinha", admite.

O real impacto destas conquistas só virá dentro de algum tempo, como lhe transmitiram os adeptos, no Rio de Janeiro.

"Uma das coisas que eu mais ouvi foi 'vocês não têm noção do feito que alcançaram'. Porque estamos a falar do que só aconteceu três vezes no futebol brasileiro, com o Santos, Flamengo e agora o Botafogo, de vencer a Libertadores e o campeonato no mesmo ano. Tudo isto foi um feito que nos deixou uma marca muito vivida. Vimos famílias inteiras a chorar, que quebraram com a emoção, que ansiavam por todos estes momentos de alegria. Foi uma jornada incrível e impagável, inolvidável mesmo. Seguramente que o tempo nos vai ainda levar para uma galeria dos notáveis da elite, daquilo que são as lendas e os heróis do Botafogo", concluiu.