
Talvez a final da Liga Europa tenha sido um espelho fiel da época de Manchester United e Tottenham. Duas equipas que cedo desistiram de objetivos internos e colocaram a salvação da época num único jogo, numa única final. A final foi emotiva, houve incerteza, mas quase sempre mal jogada. E decidida por um único golo estrambólico, marcado com uma parte do corpo que normalmente não marca golos: um braço. Só que era o braço de Luke Shaw, na baliza da sua equipa, um ressalto fortuito, tão fortuito quanto a época das suas equipas.
Para Manchester United e Tottenham, ganhar a Liga Europa era mais do que levantar um troféu continental secundário. Era também o futuro: a certeza de um final de época mais suave, de uma presença na Liga dos Campeões na próxima temporada. Ruben Amorim, como tantas vezes desde que deixou o Sporting para o desafio de Old Trafford, acabou cabisbaixo, procurando explicações.
Depois da derrota por 1-0, Amorim não quis falar sobre o futuro. O abraço de Sir Jim Ratcliffe, o milionário britânico acionista minoritário do United, mas por quem passa toda a gestão desportiva, talvez tenha respondido à questão sobre a confiança que o clube ainda mantém no português. Ainda assim, uma das frases mais marcantes da pálida e sorumbática conferência de imprensa pós-derrota foi precisamente sobre consequências.
“Se a direção e os adeptos acharem que eu não sou o tipo certo, eu vou-me embora no dia seguinte e sem qualquer conversa sobre indemnização”, sublinhou, com uma declaração semelhante às que teve nos tempos de Sporting. Mas para logo definir bem o que pensa: “Não vou despedir-me. De novo, tenho muita confiança no meu trabalho e não irei mudar nada na forma como faço as coisas.”
Num jogo quase sempre feio, os números surgem como uma chapada ingrata para o Manchester United, que acabou o jogo com 72% de posse de bola, 16 remates, cinco deles enquadrados. Já o Tottenham marcou no único dos três remates tentados que seguiu com a direção da baliza, dizem dados do Fbref, fornecidos pela Opta.
Amorim acredita que “foi claro” que o United foi “a melhor equipa” em San Mamés, em Bilbau. “Mas conseguimos novamente não marcar e assim é difícil ganhar jogos de futebol. Os rapazes tentaram tudo”, continuou, frisando que continua “confiante” no seu plantel. “Não fomos perfeitos, mas fomos melhores do que o rival. Já houve dias em que admiti que tínhamos jogado mal, mas acho que aqui não é o caso.” Os 32 cruzamentos e 70 bolas longas da sua equipa denunciam, no entanto, o deserto de ideias que foi grande parte do jogo. E da temporada, claro está.
No próximo ano, a ausência da Champions significará um plano alternativo para o ataque ao mercado. O United não só não estará na Liga dos Campeões como em qualquer outra competição europeia, depois do 16.º lugar na Premier League, o pior de sempre para os red devils desde a transformação do futebol inglês, na época 1992/93, para o atual formato. A faca de dois gumes não é novidade para Amorim, que aproveitou a eliminação precoce do Sporting da Liga Europa em 2020/2021 e o tempo que lhe deu durante a semana para forjar a equipa que meses depois se sagraria campeã nacional.
“Temos de usar o outro lado: vamos ter mais tempo para pensar durante a semana, para sermos melhores na Premier League e é esse o nosso foco”, explicou. Se Gyökeres vai fazer parte desse trabalho semanal? “Vamos ver o que vamos fazer no futuro”, deixou Amorim, provavelmente não críptico mas apenas ansioso pelo fim das perguntas e pelo fim da época.
Bruno Fernandes abre portas à saída
Tantas vezes entregando as suas costas para carregar a equipa, a final da Liga Europa foi particularmente frustrante para Bruno Fernandes. Em Bilbau foi errático, pouco capaz de ligar a equipa. E no final, como se um treinador se tratasse, deixou o seu cargo à disposição das necessidades do Manchester United.
“Sempre fui honesto. Se o clube achar que é altura de seguirmos caminhos diferentes porque querem fazer algum dinheiro ou o que seja, é o que é. O futebol às vezes é isto. Sempre disse que fico cá até o clube me dizer que é altura de ir embora”, disse aos jornalistas, numa altura em que se fala de uma proposta do Al-Hilal da Arábia Saudita pelo internacional português, que reforçou que quer “fazer mais” e levar de novo o clube “aos seus melhores dias”.
O médio, contratado ao Sporting a meio da temporada 2019/20, defendeu ainda a continuidade de Ruben Amorim: “A decisão não é minha, mas acho que o Ruben Amorim é a pessoa certa. Sei que é difícil de entender, mas ainda acredito que é o treinador certo. O clube está numa situação na qual é fácil ir buscar um novo treinador, porque não há resultado. Mas o Amorim é o homem certo.”