
Quarta força do futebol português de forma quase ininterrupta desde o momento em que António Salvador assumiu os destinos do clube, em 2003, o SC Braga está pronto para dar o passo seguinte na consolidação de objetivos mais altos, após 22 anos de crescimento nacional e internacional.
Reeleito no final do passado mês de maio, o presidente dos arsenalistas colocou o título de campeão nacional como meta para o próximo quadriénio e não tem feito por menos, no que ao investimento no plantel diz respeito.
Recorde atrás de recorde e início da nova era
Os primeiros dias de julho trouxeram consigo vários reforços entusiasmantes, identificados com as ideias preconizadas pelo novo técnico, Carlos Vicens, mas também uma força financeira nunca antes vista na Cidade dos Arcebispos.

Alaa Bellaarouch foi a primeira cara nova a chegar, no entanto, foi com nomes e números mais sonantes que a mudança de estratégia e a cimentação do investimento na equipa A tem sido consumada.
Embalado pelo tremor dos 11 milhões de euros desembolsados junto do Nordsjaelland, Mario Dorgeles foi o primeiro a abalar o mercado dos minhotos e saltou diretamente para o top-1 de reforços mais caros da história do clube, deixando para trás nomes como Wallace, Abel Ruiz ou Bruma.
Não durou um mês com esse estatuto...
Entretanto, Gustaf Lagerbielke chegou do Celtic com a etiqueta de internacional sueco, ao passo que Gabriel Moscardo veio acrescentar a qualidade que uma promessa brasileira vinda do PSG tem obrigatoriamente de conferir.

Sem que o empréstimo do ex-Corinthians deixasse de espantar, foi o novo capítulo de negócios entre SC Braga e Barcelona que impressionou os seguidores do futebol luso.
Diretamente vindo da Catalunha e após fortes rumores no espaço de poucos dias, Pau Víctor rumou ao Minho por 12 milhões de euros (mais três em variáveis), suplantou Dorgeles como reforço mais caro dos bracarenses e pulverizou o registo mais gastador dos arsenalistas, curiosamente, batido em 2024/25.
JogadoresClubeValorBright Arrey-MbiHannover 966,20 MThiago HelgueraNacional (Montevideo)4,03 MJoão MarquesEstoril Praia3,50 MEl OuazzaniGuingamp3,50 MRoberto FernándezMálaga2,42 MWdowikJagiellonia Bialystok1,60 MRobson BambuNice1,20 MIsmaël GharbiPSGcusto zeroYuri RibeiroLegiacusto zeroGabri MartínezGironacusto zeroJoão FerreiraWatford empréstimoGuitaneEstoril PraiaempréstimoUros RacicSassuoloempréstimoValor total gasto: 22,75 M (2024/25)Leonardo Lelo e Navarro (opção de compra acionada) foram outros rostos assegurados numa linha de recruta mais familiar com os tradicionais mercados dos arsenalistas nos últimos anos. Contas feitas, os Gverreiros do Minho já despenderam mais 5,82 milhões de euros em relação ao último defeso.

Uma diferença que dispara, tendo como comparações os restantes temporadas mais abastadas dos minhotos. Em 2014/15, época em que Wallace ficou contratualmente ligado ao clube por 9,5 milhões de euros, o montante investido não chegou aos 18 milhões de euros, mas destacou-se dos restantes defesos que, na altura, contavam com investimentos a rondar os cinco milhões de euros.
De resto, em 2023/24, ano que marcou o regresso à Liga dos Campeões, os bracarenses investiram forte e gastaram, à época, uma quantia recorde: 19,05 milhões de euros. A força da circunstância milionária assim o pedia e, em boa das verdades, além de gastador, o mercado dessa temporada pode muito bem catalogar-se de proveitoso.
Além do impacto imediato deixado por Bruma, jogadores como Rodrigo Zalazar, Vítor Carvalho ou Víctor Gómez são, ainda hoje, alguns dos melhores ativos do plantel.
JogadorClubeValorBrumaFenerbahçe6,55 MRodrigo ZalazarSchalke 046 MVítor CarvalhoGil Vicente2,10 MVíctor GómezEspanyol2 MSikou NiakatéGuingamp1,80 MAdrián MarínGil Vicente600 mil eurosJosé FonteLillecusto zeroJoão MoutinhoWolverhamptoncusto zeroRony LopesSevillaempréstimoValor total gasto: 19,05 M (2023/24)No plano desportivo, o terceiro lugar na fase de grupos da Champions honrou os pergaminhos arsenalistas, que mais reforçados saíram com a conquista da terceira Taça da Liga do palmarés...
Fazer muito com pouco e preparar o futuro
Alargando o prisma do artigo para uma visão mais geral e sabendo que, no somatório das últimas três épocas, o valor injetado em reforços foi de 70,37 milhões de euros, fomos à procura de espelhar a diferença para com os investimentos das 20 épocas compreendidas entre o verão de 2003 e o de 2023.
Um período no qual os minhotos conseguiram, entre outros feitos, o regresso às conquistas na Taça de Portugal (x2), a primeira Taça da Liga ou as famosas campanhas que deixaram a Cidade dos Arcebispos a sonhar com a conquista de um inédito campeonato (2009/10) e da Liga Europa (2010/11). Se o critério nas compras se mantém, a carteira era outra.
ÉpocaValor total gasto2003/040 M2004/052,25 M2005/061,50 M2006/07750 mil euros2007/082,40 M2008/092,03 M2009/10550 mil euros2010/11825 mil euros2011/125,29 M2012/13850 mil euros2013/144,90 M2014/1517,90 M2015/164,20 M2016/178,07 M2017/185,80 M2018/197,66 M2019/207,99 M2020/2111,22 M2021/224,07 M2022/236,56 MValor total gasto: 94,815 MÉ certo que a inflação dos valores também ajudam a explicar esta ascensão do investimento, mas os números, nus e crus, relatam uma realidade cada vez mais distante da atual. É que, no total das época acima preconizadas (16), os 94,815 milhões de euros gastos superam em apenas 24,445 milhões o valor dos últimos três defesos somados.
Sinais dos tempos ilustrados pelo crescimento estrutural do clube, da ambição de António Salvador, do capitão Ricardo Horta - já tocou no tema «título» - e dos restantes envolvidos. Ingredientes que parecem vulgarizar, cada vez mais, as cifras de dois dígitos em torno de reforços.

Até aqui chegar, nomes importantes no crescimento do clube como Roland Linz - custou dois milhões e chegou a ser a compra mais cara -, Márcio Mossoró, Lima ou Hugo Viana tornaram-se imprescindíveis e permanecem, até hoje, na mente dos braguistas como os primeiros intérpretes da ambição e conquistas que o SC Braga tem desbravado.
Com mais capital do que nunca para investir, o SC Braga pretende trilhar uma nova era de aproximação aos grandes do futebol luso.
No entanto e talvez com algum romantismo à mistura, Pau Víctor, Dorgeles e companhia, nada mais são do que herdeiros - (ainda) mais bem-sucedidos, esperam os adeptos - das figuras mitológicas que marcaram o início da era moderna na Pedreira.