A temporada 2024-25 ficará para sempre marcada na memória dos sportinguistas não apenas pelos golos, vitórias e desilusões, mas sobretudo pelas voltas e reviravoltas no banco de suplentes.

Com a saída inesperada de Ruben Amorim, a breve aventura de João Pereira e a chegada serena de Rui Borges, o Sporting viveu três capítulos distintos de liderança técnica num só campeonato.

O fim de uma era dourada

Foi um choque sísmico em Alvalade. Ruben Amorim, o treinador que devolveu o orgulho aos 'leões' e quebrou um jejum de títulos históricos, deixou o clube a meio da temporada.

O destino? Old Trafford, onde o Manchester United o esperava de braços abertos. Os 'red devils' pagaram cerca de 12 milhões de euros pela equipa técnica liderada por Amorim, um investimento avultado para um treinador que era visto como o futuro do futebol português.

Ruben Amorim começou a época no banco do Sporting
Ruben Amorim começou a época no banco do Sporting JOSÉ SENA GOULÃO

Goodbye Amorim, o menino benfiquista que fez o Sporting campeão

A saída gerou desconforto interno. Viktor Gyökeres, estrela sueca e principal artilheiro da equipa, não escondeu o desagrado. Afinal, tinha rejeitado propostas milionárias com base na continuidade do técnico que acreditava nele como peça-chave.

A estrutura de Alvalade, apanhada de surpresa, teve de agir rapidamente para preencher um vazio que era mais do que tático, era emocional.

Um "erro de casting"

João Pereira, ex-capitão e símbolo do clube, foi o escolhido para tentar manter o rumo. Com experiência nos escalões jovens e na equipa técnica, recebeu a missão com bravura. Mas o futebol, tantas vezes cruel, não perdoa inexperiência.

Em oito jogos como treinador principal, registou apenas três vitórias e viu o Sporting baixou de rendimento em várias frentes.

João Pereira foi o senhor que se seguiu à frente dos destinos dos 'leões'
João Pereira foi o senhor que se seguiu à frente dos destinos dos 'leões' ESTELA SILVA

O balneário mostrou sinais de perda de confiança, e os adeptos começaram a questionar a direção. João Pereira, apesar da paixão e entrega, não conseguiu travar a descida abrupta de rendimento.

"Erro de casting? Não sei se disse isso..."

O Natal trouxe mudanças. No dia 26 de dezembro, foi anunciada a sua saída. O percurso breve deixou lições sobre o peso do banco leonino e a necessidade de uma liderança mais madura para enfrentar o que restava da época.

Rui Borges: serenidade, escuta e resultados

Foi com um discurso calmo e pés assentes no chão que Rui Borges foi apresentado em Alvalade. Vinha do Vitória de Guimarães, clube em que se tinha destacado pela capacidade de potenciar equipas com orçamentos modestos.

Mas na capital, o desafio era diferente: lidar com egos, expectativas e o peso de um clube que sonhava com o título.

Rui Borges foi o presente de Natal atrasado para o Sporting
Rui Borges foi o presente de Natal atrasado para o Sporting MIGUEL A. LOPES

O transmontano trouxe uma abordagem empática. “Sou um treinador que gosta de ouvir. Se os jogadores não estiverem confortáveis, não tiro rendimento deles”, afirmou na apresentação. E ouviu, dentro e fora do balneário.

A vitória por 1-0 sobre o Benfica no dérbi de janeiro, com golo solitário de Geny Catamo, marcou o ponto de viragem na turma de Alvalade. Os 'leões' voltaram a acreditar, e a liderança do campeonato foi retomada. A equipa passou a jogar com mais critério, menos ansiedade e maior pragmatismo, reflexo da nova filosofia.

Uma época, três líderes, uma ambição

Se esta época do Sporting tivesse um título, talvez fosse “A reinvenção dos leões”.

A saída de Amorim foi uma ferida aberta, a passagem de João Pereira uma tentativa de resistência, e a chegada de Rui Borges uma lufada de ar fresco.

Três estilos, três capítulos, uma só ambição: devolver o Sporting ao lugar que os seus adeptos acreditam ser seu por direito.

RODRIGO ANTUNES

Os mesmo adeptos, que sofreram com as incertezas a meio da época, agora podem celebrar com orgulho. O Sporting terminou da forma mais gloriosa possível: bicampeão nacional, objetivo que escapava há mais de 70 anos.

A temporada 2024-25 será lembrada como uma das mais emocionantes da história do clube, onde a resiliência e o espírito de equipa foram chave para a conquista da glória nacional.