A Trust in News (TiN) comunicou na sexta-feira o despedimento coletivo dos 80 trabalhadores do grupo, dono de títulos como a Visão e Caras, pedindo-lhes para "continuarem a trabalhar sem receber", anunciou hoje o Sindicato dos Jornalistas (SJ).

"A direção do Sindicato dos Jornalistas (SJ) foi confrontada com a dramática notícia do despedimento, sexta-feira, 25 de julho, de todos os trabalhadores do grupo Trust in News (TiN)", lê-se num comunicado hoje divulgado.

De acordo com o sindicato, este "é um desfecho que começou a desenhar-se há meses e cujos reais contornos devem ser apurados em todas as dimensões, desde a jornalística, à económica, financeira, política e até judicial".

No comunicado, o SJ aponta a "postura incompreensível e intolerável" do administrador de insolvência da TiN, que quando entregou, presencialmente, o pré-aviso de despedimento aos cerca de 80 trabalhadores da empresa, lhes pediu "que continuassem a trabalhar para manter vivos os títulos, com o argumento de gerar receita, apesar de não ser dada qualquer garantia de remuneração".

"Teme o SJ que se esteja a preparar uma venda a preço de saldo, sem 'o inconveniente e o incómodo' de existirem pessoas a quem pagar salários e garantir direitos", sustenta.

Segundo explica, variando o prazo do pré-aviso de despedimento de 30 a 75 dias, consoante a antiguidade de cada trabalhador, "no fundo, foi pedido às pessoas a quem é devido o salário de junho, e em breve o de julho, bem como os subsídios de férias e os subsídios de refeição de maio e de junho, que continuem a trabalhar sem garantia de retribuição".

Isto "para manter vivo um negócio que, desconfiamos, será vendido 'à 25.ª hora'", adverte.

Neste sentido, o sindicato alerta que "todos os que aceitarem continuar a trabalhar poderão estar a ajudar a salvar uma negociata cujos contornos não são claros neste momento".

Adicionalmente, "perdendo todos os direitos como trabalhadores com o despedimento agora anunciado, não têm qualquer garantia de vir a ser integrados numa empresa que eventualmente possa nascer".

"Lembramos que, além de estar a ser pedido agora às pessoas que continuem a trabalhar sem remuneração, o que equivale a escravatura, os trabalhadores, na esperança de uma venda redentora, podem estar a contribuir para salvar títulos que, no futuro, podem ser usados para fazer um jornalismo completamente diferente do que fizeram nestes anos, em que engrandeceram a profissão e contribuíram para uma sociedade mais esclarecida, dado o rigoroso escrutínio de que se revestiu muito do que foi feito jornalisticamente no grupo TiN, enquanto teve capacidade financeira", adverte o SJ.

O sindicato diz viverem-se tempos em que "a fragilidade do jornalismo interessa a muitos atores sociais, alguns dos quais se regozijam com o desemprego destas 80 pessoas".

"Sabemos que há muita gente que deseja o fim desta profissão, que não quer ser escrutinada, que quer mentir livremente, pois não trabalha nem deseja uma sociedade que seja mais justa e equitativa", lamenta.

Neste cenário, a estrutura sindical considera "ainda mais lamentável e profundamente incompreensível" que, quase dois meses decorridos desde que tomou posse, o ministro da Presidência, Leitão Amaro, que tutela a comunicação social, "ainda não tenha respondido ao pedido de audiência solicitado pelo SJ pouco após a sua oficialização no cargo".

O Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa Oeste chumbou em junho o plano de insolvência apresentado pela TiN, determinando o encerramento da sua atividade: "Nestes termos, decido não homologar o plano de insolvência apresentado pela Trust in News", lê-se num documento datado de 18 de junho, a que a agência Lusa teve acesso.

Na altura, o acionista da TiN Luís Delgado disse à Lusa pretender recorrer da decisão que ditava o fecho da empresa, detentora de títulos como a Visão, Exame, Jornal de Letras, Activa, Telenovelas, TV Mais e Caras.

"Se possível, vamos recorrer da decisão da não homologação do plano de insolvência que foi aprovado por 77% dos credores", afirmou então o gestor.