Na sexta sessão do julgamento, a primeira depoente, uma técnica administrativa do FC Porto à data da assembleia geral (AG) extraordinária de novembro de 2023, solicitou, no momento, em videochamada, que os arguidos não a pudessem observar.

Uma vez que a testemunha seguinte, que depôs presencialmente, também havia solicitado o mesmo, a presidente do coletivo de juízes acedeu ao pedido, ditando a saída dos 10 de 12 arguidos presentes para os dois primeiros depoimentos, apesar da manifesta discordância de parte da defesa.

A sessão ficou ainda marcada pelo anúncio por Ana Dias Costa de que foi aceite um vídeo de André Villas-Boas, a pedido da advogada arguido Fernando Saul, em que o atual presidente do FC Porto alegadamente incita à troca de cartões de sócio para voto nas eleições de 2024.

Em causa declarações deste assistente do processo, que foi confrontado com este facto na terceira sessão do julgamento.

Fica, para já, por confirmar se o líder do emblema 'azul e branco' terá de marcar novamente presença em tribunal, embora o vídeo seja desde já anexado ao processo.

Primeira testemunha a depor, uma ex-funcionária do emblema 'azul e branco' que operou no processo de credenciação dos sócios na entrada na reunião magna relatou o seu contacto no procedimento com Sandra Madureira.

"Sandra Madureira estava irritada com o facto de estarmos a pedir tantas regras e disse-me que parecia que estávamos num momento de eleições. Eu apenas respondi que estava a fazer o meu trabalho e a seguir as regras que me tinham dito para cumprir", contou, acrescentando que também foi abordada por Fernando Madureira no mesmo sentido.

Negando ter atestado entradas irregulares na AG, admitiu ter sido informada por uma hospedeira de que teria sido furtada uma caixa de pulseiras de entrada, para além de ter verificado tentativas de falsificação de identidade no ingresso.

Por sua vez, a segunda testemunha, um associado portista que compareceu na reunião de novembro de 2023 e se assumiu como "primo do João Begonha Borges, [atual] vice-presidente do FC Porto", descreveu um ambiente opressor no Dragão Arena, com uma "clara tentativa de coação" concertada para impedir que os desacatos fossem filmados.

"Sempre que alguém tirava um telemóvel, existiam altercações e berros. Ouvi pessoas a ameaçar para que não se filmasse. A Sandra Madureira insurgiu-se contra um miúdo que publicou algo nas redes sociais. Isso foi audível e, para mim, é inequívoco", acusou.

Nos depoimentos da parte da tarde, prestados maioritariamente por hospedeiras do clube, Fernando Madureira foi o mais visado. 

O ex-líder da claque Super Dragões foi identificado a ameaçar Henrique Ramos, assistente do processo, para além de ter sido novamente acusado de envolvimento no alegado roubo de pulseiras credenciais, versões que contrariam o testemunho de Fernando Madureira, em 17 de março.

Depois de ouvidas sete testemunhas hoje, em 13 previstas, as diligências prosseguem na próxima segunda-feira, numa altura em que o atraso nas audições supera as 30.

Os 12 arguidos da Operação Pretoriano, entre os quais o antigo líder dos Super Dragões Fernando Madureira, começaram em 17 de março a responder por 31 crimes no Tribunal de São João Novo, no Porto, sob forte aparato policial nas imediações.

Em causa estão 19 crimes de coação e ameaça agravada, sete de ofensa à integridade física no âmbito de espetáculo desportivo, um de instigação pública a um crime, outro de arremesso de objetos ou produtos líquidos e ainda três de atentado à liberdade de informação, em torno de uma AG do FC Porto, em novembro de 2023.

Entre a dúzia de arguidos, Fernando Madureira é o único em prisão preventiva, a medida de coação mais forte, enquanto os restantes foram sendo libertados em diferentes fases.

THYG/SIF // AJO

Lusa/Fim