O secretário de Estado da Administração Interna considerou hoje que "não fazem sentido" as críticas dos partidos à esquerda parlamentar sobre a operação policial no Martim Moniz, mas reconheceu que faz parte do debate político e democrático.

"Na minha opinião não fazem sentido [críticas], mas isso é o debate político, é o debate democrático, há sempre quem se queixe de falta de polícia e há sempre quem se queixe quando aparece a polícia", disse Telmo Correia.

O governante, que falava à agência Lusa em Portalegre, à margem da cerimónia de compromisso de honra de 447 guardas provisórios da GNR, considerou que a polícia fez o seu trabalho e tem o "todo o apoio" do Governo.

"A polícia faz o seu trabalho, tem todo o apoio do Governo, tem toda a confiança e deve merecer também toda a confiança dos portugueses", sublinhou, destacando a formação dos polícias como "do melhor que há no mundo", nomeadamente ao nível da forma como atuam, preocupação com direitos humanos e respeito pelas populações.

"Portanto, os portugueses podem confiar nas suas forças de segurança", acrescentou.

No entanto, Telmo Correia alertou que "não compete" ao Governo comentar operações policiais em concreto.

"Não compete ao Governo comentar operações policiais em concreto, isso cabe à GNR na sua área, teve de resto uma operação também muitíssimo importante no norte de combate ao tráfico de droga, ontem mesmo (quinta-feira), ou à PSP definirem o caráter operacional e a forma como atuam operacionalmente", defendeu.

Para o secretário de Estado da Administração Interna, o Governo "tem de se limitar" a fazer aquilo que "é da sua competência" e que passa por cumprir o seu programa.

"O programa do Governo é muito claro, o senhor primeiro-ministro tem sido muito claro e a senhora ministra da Administração Interna tem sido muito clara: o programa do Governo consiste em termos mais policiamento, com maior visibilidade, mais polícia na rua, mais operações em zonas que sejam consideradas sensíveis, ainda bem que assim é", disse.

O líder do PS manifestou-se hoje "envergonhado e revoltado" com o executivo e a direção da PSP pela operação policial no Martim Moniz, considerando que este é o "Governo mais extremista" das últimas décadas da democracia portuguesa.

Também a deputada do PS Isabel Moreira considerou hoje que a forma como decorreu a operação policial no Martim Moniz é "inaceitável num regime democrático" e pediu a audição da ministra da Administração Interna e do diretor nacional da PSP.

A coordenadora do BE acusou também hoje o Governo de mobilizar politicamente forças de segurança para atacar migrantes e anunciou que vai chamar ao parlamento a ministra da Administração Interna e o diretor nacional da PSP.

Numa conferência de imprensa no parlamento, a coordenadora do BE, Mariana Mortágua, afirmou que a operação policial de quinta-feira no Martim Moniz, em Lisboa, foi um "ato inédito na democracia portuguesa", com uso desproporcional de meios e não foi "determinada pela hierarquia das próprias forças policiais".

O PCP e o Livre requereram também na quinta-feira a audição da ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, no parlamento para esclarecer a operação policial no Martim Moniz.

O deputado do PCP António Filipe também anunciou um requerimento para ouvir a ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, "tendo em conta a forma que revestiu a operação policial" no Martim Moniz.

Já o Livre, pela voz de Rui Tavares, defendeu que "é muito importante que as autoridades policiais e a sua tutela política" esclareçam se estas operações têm "uma real razão de existir do ponto de vista da segurança ou se elas existem apenas para responder mediaticamente à extrema-direita".

Uma operação policial na quinta-feira, no Martim Moniz, resultou na detenção de duas pessoas e na apreensão de quase 4.000 euros em dinheiro, bastões, documentos, uma arma branca, um telemóvel e uma centena de artigos contrafeitos.

O enorme aparato policial na zona, onde moram e trabalham muitos imigrantes, levou à circulação de imagens nas redes sociais em que se vislumbram, na Rua do Benformoso, dezenas de pessoas encostadas à parede, de mãos no ar, para serem revistadas pela polícia, e comentários sobre a necessidade daquele procedimento.