O ex-deputado do Chega Miguel Arruda, constituído arguido por suspeitas de furtar bagagens no aeroporto, vai apresentar uma queixa-crime contra várias entidades por violação do segredo de justiça. Numa entrevista, garantiu que está inocente e que se trata de uma cabala.
Em declarações ao Observador, a defesa do agora deputado não inscrito confirmou que a ação judicial será entregue na próxima semana, sem esclarecer contra quem será dirigida.
O advogado José Manuel Castro diz apenas que a seleção está a ser efetuada e que a queixa será contra várias entidades.
Uma cabala com “conotações políticas” e as imagens de inteligência artificial
Numa entrevista à TVI, na quinta-feira, Miguel Arruda assegurou que está inocente e que o caso não passava de uma cabala com “conotações políticas”, confirmando ainda o “lapso” de ter levado uma mala que não era sua no aeroporto.
"Com o desenvolvimento dos tempos e da maneira que me querem crucificar, já cheguei a pensar que isto tem conotações políticas, por andar a atacar certos e determinados interesses que estão instalados nesse país."
Sobre as imagens de videovigilância que mostram o alegado esquema do deputado, e que podem vir a ser tornadas públicas, afirmou que podiam ser manipuladas: “Perante as novas tecnologias, até podem aparecer imagens de inteligência artificial a demonstrarem isso”.
Questionado sobre a existência de uma conta na Vinted (uma plataforma online de compra e venda de artigos em segunda mão) com o nome de utilizador “miguelarruda84” - nome e ano de nascimento de Miguel Arruda -, o deputado não confirmou que era sua. Inicialmente, responsabilizou a mulher por qualquer conta que pudesse existir naquele site. Mais à frente na entrevista, confirmou que, afinal, já tinha criado uma conta: “Tenho memória de criar uma conta para vender umas coisas que tinha lá, nem sei se cheguei a vender”.
Segundo a RTP, o e-mail usado na inscrição da conta foi o mesmo que Miguel Arruda facultou ao partido Chega e a fotografia de perfil era uma ermida localizada na mesma povoação em que o deputado açoriano reside.
Já na quinta-feira, em declarações aos jornalistas, no Parlamento, Miguel Arruda confirmou que tinha uma conta antiga na Vinted e que não a apagou.
O ex-deputado do Chega negou ainda a existência de 17 malas em sua casa, garantindo ter “apenas” três em Lisboa e outras quatro em Ponta Delgada. Esta bagagem, disse o deputado, servia para levar para os Açores a roupa que comprava para a mulher e a filha no continente: “Mandava vir mercadoria de vários sites (...) Chega muito mais rapidamente ao continente”.
Entrava no WC com duas malas e saía só com uma
Mas, afinal, o que se passou? Miguel Arruda foi constituído arguido por suspeitas de furtar bagagens nos aeroportos de Lisboa e de Ponta Delgada.Na casa de banho, esconderia a mala furtada dentro de outra de maior dimensão.
As imagens de videovigilância parecem comprovar as denúncias.
Ao que a SIC apurou, nas imagens é possível observaro deputado do Chega a aproximar-se do tapete de bagagens, a pegar em duas malas - na dele e, alegadamente, na de outro passageiro - e a seguir entra numa casa de banho com essas duas malas, saindo apenas com uma.
Suspeita-se que terá colocado a mala mais pequena, propriedade de outro passageiro, dentro da mala maior, e saído do aeroporto como se nada fosse.
Crime punido com pena deprisão até cinco anos
A PSP indicou ainda que Arruda não foi detido, sendo necessário o levantamento da imunidade parlamentar.
O crime de furto qualificado "é punido com pena de prisão até cinco anos ou com pena de multa até 600 dias", estabelece o Código Penal, pelo que o parlamento é obrigado a autorizar o levantamento da imunidade, quando o pedido for enviado pela Justiça.
Miguel Arruda, 40 anos, foi eleito deputado pelo círculo dos Açores nas últimas eleições legislativas, nas quais foi cabeça de lista. Na quinta-feira, confirmou que vai passar a deputado independente "para proteger o partido".