A porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zakharova, disse esta quarta-feira que Moscovo tomará as suas próprias decisões sobre o conflito na Ucrânia, depois de Kiev ter aceite a proposta de Washington para um cessar-fogo de 30 dias, informou a agência estatal russa TASS, citada pelo "The Guardian".

“A formação da posição da Federação Russa não ocorre no estrangeiro devido a alguns acordos ou esforços de algumas partes. A formação da posição da Federação Russa tem lugar no interior da Federação Russa”, afirmou.

Esta madrugada, a Rússia voltou a atacar Kiev, demonstrando que não parece estar preparada para aceitar os termos propostos pelos Estados Unidos na reunião de Jeddah, esta terça-feira, com parceiros ucranianos.

Entretanto, os Estados Unidos descongelaram a ajuda militar e voltaram a partilhar informações dos seus serviços secretos com Kiev. Trump parece ter conseguido por à prova a narrativa da "procura da paz" que Vladimir Putin sempre defendeu. Agora será o momento de mostrar que realmente é isso que o seu país deseja.

"A fim de cair nas boas graças de Donald Trump, o Kremlin tem sido incansável na tentativa de se apresentar como o pacificador e a Ucrânia como o belicista", refere o correspondente da Sky News em Moscovo, Ivor Bennett, numa análise para o site da emissora britânica.

O ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, afirmou que Moscovo não aceitará, em circunstância alguma, a presença de tropas da NATO na Ucrânia. Numa entrevista publicada nos meios de comunicação social russos, disse também que a Rússia não tomará decisões que ponham em risco vidas, refere a Reuters, e que a Rússia discutiu a situação em torno do acordo nuclear do Irão com os EUA e mantém alguns contactos sobre a questão com a Europa.

Ivor Bennett argumenta que a Rússia pode não aceitar um cessar-fogo porque “ao longo das últimas semanas e meses, Moscovo sempre disse que não queria uma trégua temporária”. O que os russos pedem é que se analisem as “causas” desta guerra, leia-se: expansão da NATO aos países que um dia fizeram parte do Pacto de Varsóvia e colocação de armas capazes de atingir a Rússia nesses territórios. Ao focar-se nesta narrativa, a Rússia consegue alegar que a guerra é “defensiva”, sublinha.

Bennett chama ainda a atenção para um outro ponto. Neste momento, as forças ucranianas estão em desvantagem. Qual é a vantagem, então, para a Rússia, de pôr um ponto final, ainda que temporário, neste conflito? “Uma pausa nos combates daria à Ucrânia tempo para se reagrupar, e Moscovo quer que Kiev implore por misericórdia quando se sentar à mesa das negociações, para que um acordo permanente seja inteiramente favorável à Rússia”, explica o correspondente britânico.

para o correspondente em Washington da mesma emissora, James Matthews, este encontro em Jeddah foi, antes de mais “a prova que os Estados Unidos e a Ucrânia conseguem reatar as relações diplomáticas” ainda que "possa existir ainda alguma acrimónia". Pelo que se sabe da conferência de Jeddah, a delegação norte-americana claramente ficou satisfeita com o compromisso aceite pela Ucrânia, ou não teria sido anunciado um descongelamento da ajuda ao país poucas horas depois.