Como todo o bom engenheiro, Ricardo Marvão é cirúrgico nas análises: “Temos de perceber que tipo de pessoa somos. Eu sou o tipo que gosta de fazer o zero to one, o começar, mas não o fazer crescer o projeto”. E explica: "sou bom em três coisas: montar a ideia, fazer a angariação dos primeiros investimentos e receita para o projeto, e encontrar as pessoas certas que depois conseguem liderar esse projeto. Para tudo o resto prefiro trazer pessoas que sejam melhores do que eu". É com este fio condutor que o cofundador da aceleradora de inovação Beta-i, desenvolve a sua carreira e escolhe as suas apostas.
O gosto pela inovação, por criar e projetar desenvolveu-o com o pai, ainda criança, nas muitas viagens a caminho do Algarve onde jogavam às ideias de negócio para ajudar a passar o tempo. “Imaginávamos uma ideia de negócio e durante a viagem desenhávamos essa ideia de fio a pavio. Estruturávamos o modelo de negócio, o que era preciso para executar, quanto tempo ia ser preciso. Era um jogo e eu cresci a acreditar que todas aquelas ideias eram possíveis”, recorda. Não espanta por isso que, em adulto, quisesse apoiar a outros na concretização das suas ideias.
Ricardo Marvão formou-se em Engenharia Informática e iniciou a carreira na Dell, em Londres. Mas foi a indústria aeroespacial a dar-lhe a alavanca de sonho para a carreira que viria a construir. Em 2003 começou a trabalhar com a Agência Espacial Europeia, na Alemanha, nos programas de Missões Científica e Observação da Terra. Em 2024 fundou a sua própria startup, a EvolveSpace Solutions, uma das primeiras empresas portuguesas a fornecer serviços para a ESA.
A empresa viria a ser comprada pela Novabase e Ricardo lançou-se noutro desafio. Em 2010, em plena crise, cofundou a Beta-i, uma associação sem fins lucrativos, criada com a missão de inovar o empreendedorismo em Portugal e que se tornou um dos motores do ecossistema de startups no país, estando atualmente presente em mais de 25 países. O arranque foi desafiante: "precisávamos de 500 mil euros para executar o projeto. Perguntei ao nosso diretor financeiro quanto tínhamos na conta. Ele respondeu-me: temos cinco mil euros". O projeto aconteceu.
Ricardo define-se como um evangelista do empreendedorismo e inovação, com uma paixão assumida pelo ensino. Ao longo do seu percurso, liderou a fundação de diversos projetos educativos no país, como o “Próxima Geração”, a “Singularity University Portugal”, onde treinou no primeiro ano mais de mil executivos, ou a escola de empreendedorismo European Innovation Academy. Enquanto gestor, admite que gosta de trabalhar com equipas pequenas, com toda a agilidade que isso confere. E garante que em qualquer percurso profissional ou desafio "mais importante do que a pessoa saber o que faz bem, é perceber o que o não é bom a fazer".
O CEO é o limite é o podcast de liderança e carreira do Expresso. Todas as semanas a jornalista Cátia Mateus mostra-lhe quem são, como começaram e o que fizeram para chegar ao topo os gestores portugueses que marcaram o passado, os que dirigem a atualidade e os que prometem moldar o futuro. Histórias inspiradoras, contadas na primeira pessoa, por quem ousa fazer acontecer. Ouça outros episódios: