Dias desafiantes atormentam os Estados Unidos da América. Há décadas que se fala da ligação entre o aumento das concentrações de GEE na atmosfera e a frequência e intensidade de eventos extremos, porém, este novo normal tem-se vindo a tornar cada vez mais frequente e destrutivo. Enquanto vemos o Este do país enfrentar uma tempestade de neve, temos os ventos de Santa Ana que contribuem para o descontrolo dos incêndios que deflagram em torno da cidade de Los Angeles. Tudo isto quando o país ainda não recuperou do furacão Helena do passado mês de setembro.

Seria de esperar que perante este cenário de quase-guerra, encontrássemos um chefe de Estado pronto a tomar uma posição a nível de política climática, sendo este o segundo país que mais contribui para o agravamento das alterações climáticas. Infelizmente, é esperado exatamente o oposto daquele que foi eleito presidente nas eleições de 5 de Novembro. Só posso dizer que ainda bem que a tomada de posse ocorre após a COP29.

Estamos perante um presidente eleito dos Estados Unidos que ainda antes de tomar posse já começa a preocupar com alegações de querer anexar a Gronelândia, aquela que é a maior ilha do mundo e um território autónomo da Dinamarca, que embora se encontre muito perto da costa norte americana pertence à União Europeia. Do ponto de vista geopolítico compreende-se a vantagem, contudo, estamos de volta ao século XIX? Não se pode ignorar o facto de a Gronelândia ser rica em recursos minerais como petróleo, gás natural e lítio (bem como outros minerais raros). Seria a oportunidade perfeita para ganhar vantagem no mercado dos minerais raros, um mercado dominado pela China.

O que nos traz a outra alegação preocupante: usar força militar para tomar o Canal do Panamá? Alegando que este se encontra entregue aos chineses? Mudar o nome do Golfo do México para Golfo da América? Ofensivo e perigoso em múltiplas dimensões. Creio que este presidente precisa de ver a série documental da Netflix “John Leguizamo's Latin History for Morons”. Fico descansada por ver que a Presidente Claudia Sheinbaum soube responder à letra. É bom saber que não vai ficar de braços cruzados.

Não podemos deixar de referir a insistência de que o Canada deveria ser o 51º estado dos Estados Unidos da América. Era só o melhor que podia acontecer: A capital norte americana dos combustíveis fósseis agora na posse dos EUA. Com grande poder vem grande responsabilidade e a bem ou mal o governo do Canadá tem feito um trabalho razoável na descarbonização de uma indústria que tanto contribui para a economia e progresso dos estados de Alberta, Saskatchewan, e Terra Nova e Labrador.

Trump não só parece preso ao passado, como cego para ter o domínio do mercado de produção de combustíveis fósseis. Para ajudar à festa, a META anuncia que vai deixar de fazer verificação dos factos das publicações no Instagram e Facebook. Obrigada, Mark Zuckerberg, era precisamente isto que estávamos a precisar numa altura em que aquilo que está em cima da mesa politicamente pode trazer consequências nefastas e irreversíveis para o futuro da crise climática. Retomar as raízes da liberdade de expressão: um pesadelo a olhos vistos.